Novos casos são atribuídos a uma variante mais difícil de ser diagnosticada e ao uso de vacinas não aprovadas.
A peste suína africana voltou a preocupar a China, e o avanço da doença promete mexer com o mercado de proteínas e de grãos neste ano. No entanto, o alcance dessa alteração e o impacto da doença sobre as importações chinesas de grãos e carnes ainda são uma incógnita.
Maior país produtor e consumidor mundial de carne suína, a China voltou a relatar neste mês casos da doença que matou mais de 45% do rebanho chinês de suínos entre 2018 e o começo de 2020. O ressurgimento foi nas províncias de Sichuan e Hubei, que lideram a produção interna de porcos. Os novos casos são atribuídos a uma variante mais difícil de ser diagnosticada e ao uso de vacinas não-aprovadas.
Logo que o problema surgiu, em 2018, a China começou a ampliar as importações de carnes. Depois, com a paulatina recuperação do rebanho de suínos, foram as importações de grãos que ganharam ainda mais força. Nas duas frentes o Brasil saiu ganhando, até por conta da guerra comercial entre Pequim e Washington, que naquele momento limitou as exportações americanas.
Para Cesar de Castro Alves, analista do Itaú BBA, com os novos casos, o ritmo de recuperação do rebanho chinês de suínos poderá diminuir, mas não retroceder. “É possível que o crescimento diminua, mas não que haja retrocesso. O cenário ainda é muito bom para o Brasil”.
Segundo Alves, a projeção de avanço de 14,3% na produção de carne suína da China em 2021 divulgada pelo adido agrícola do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) é razoável, mas o viés é de baixa. Se a previsão se confirmar, o volume alcançará 47 milhões de toneladas.
Em relatório divulgado na semana passada, o Rabobank reduziu sua estimativa para o aumento da produção chinesa de suínos para entre 8% e 10%. Antes dos novos casos da doença, o banco estimava alta de 12%. Entre os sinais de que o avanço será menor está a queda do número de matrizes – de 3% a 5% entre dezembro e fevereiro. Ainda assim, o atual rebanho de porcas é 10% a 15% maior que o de um ano atrás.
Aumentam, assim, as oportunidades para a exportação da proteína brasileira para os chineses – mesmo que, neste momento, os fretes estejam pressionados pelos problemas no Canal de Suez. Alves estima que o país importará 4,6 milhões de toneladas de carne suína neste ano – o USDA calcula 4,5 milhões. Em 2020, foram 5,15 milhões de toneladas.
“Mas, se a PSA avançar, o volume poderá voltar a 5 milhões de toneladas”, afirma o analista do Itaú BBA. Para os embarques totais brasileiros, o banco vê alta de 5% em 2021. Em 2020, foram 1 milhão de toneladas.
Para o Rabobank, as importações chinesas de carne suína ficarão entre 3,9 milhões e 5 milhões de toneladas neste ano, ainda bem acima da média anual de 2,5 milhões de toneladas entre 2015 e 2019. O Brasil foi o quarto maior fornecedor da China em 2020 e respondeu por 9% das importações do país, atrás de UE (58%), EUA (17%) e Canadá (10%).
Em relatório, o JP Morgan também sinaliza que os surtos atuais de peste suína podem atrasar a recomposição do rebanho suíno chinês e manter as importações elevadas. O banco lembra ainda que a Alemanha segue proibida de exportar para a maioria dos destinos asiáticos desde o registro, em setembro, de casos da doença em seu plantel de javalis.
Nesse contexto, os analistas acreditam que os preços internacionais das carnes continuarão em alta em 2021 e em 2022. A suína poderá subir mais, mas as carnes de frango e bovina também deverão aumentar.
No início do problema na China, lembrou o JP Morgan, a carne bovina foi a que mais encareceu. “Empresas como JBS e Marfrig tiveram o maior Ebitda e alta das ações” de suas histórias. De outubro de 2018 a setembro de 2019, os papéis da JBS subiram 250%, os da Marfrig avançaram 124% e os da BRF, 77%.