Especialistas da área também apresentaram ferramentas para que o Brasil continue livre da Peste Suína Africana
A propagação e os desafios para conter os danos causados pela Peste Suína Africana (PSA) formaram a pauta do painel da IPVS (International Pig Veterinary Society), apresentado no 333 Experience Congress, evento em formato online, que reuniu a cadeia suinícola nacional, no último dia 19 de novembro.
Moderado por Fernanda Almeida, presidente da entidade e do Congresso IPVS2022, e por Lia Coswig, diretora de biosseguridade do IPVS2022, o encontro reuniu os palestrantes Maurício Dutra, médico veterinário doutor em epidemiologia com vasta experiência na prevenção e erradicação de doenças infecciosas, José Manuel Sánchez Vizcaíno, médico veterinário e professor de saúde animal na Universidade Complutense de Madrid (ESP) e diretor do laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), e Christian Gortázar, médico veterinário e professor de sanidade animal no Instituto de Pesquisa em Recursos Cinegéticos/Universidade de Castilla.
Fernanda Almeida, presidente da entidade e do Congresso IPVS2022
Na abertura do painel, a presidente do IPVS2022 falou sobre a representatividade do Brasil no setor suinícola. “O Brasil não ocupa o quarto lugar no ranking na produção e exportação de carne suína por acaso. Esta colocação expressiva se deve a muito foco, estudos e comprometimento de toda uma cadeia que trabalha arduamente, entregando sempre o melhor e buscando soluções para estar sempre à frente deste mercado”, afirmou Fernanda.
Em sua apresentação, que abordou a situação da PSA na Ásia e suas medidas de prevenção, Maurício Dutra informou que o assunto PSA é inesgotável e de grande relevância. “Trabalhamos com diferentes enfermidades na suinocultura, mas esta, em especial, é a que mais tem colocado desafios para o setor. A situação na Ásia demonstra bem o cenário das consequências catastróficas sofridas com a entrada desse vírus. A China, por exemplo, teve uma redução do rebanho em cerca de 40%, o que os levou a transformar consideravelmente a biosseguridade na criação de suínos. Hoje, o que vemos naquele território se compara a um aparato militar, onde as regras de quarentena e o controle de visitantes, por exemplo, são seguidos à risca”, explica.
Dutra ressaltou que ainda falta muito para garantir o controle de PSA no continente asiático. “O uso de vacinas vivas, grande parte delas contrabandeadas, tem colaborado para o desenvolvimento de novas cepas, muito mais difíceis de serem reconhecidas”, conta.
José Manuel Sánchez Vizcaíno, médico veterinário e professor de saúde animal na Universidade Complutense de Madrid
O professor, José Manuel Sánchez Vizcaíno, concorda que uso de vacinas não autorizadas está agravando ainda mais o quadro de PSA no mundo. “Quatorze anos depois de sua entrada na Europa, essa doença continua sendo uma grande desconhecida pela comunidade científica. Temos hoje uma variedade grande de genótipos, fruto das cepas atenuadas nas vacinas que não tem autorização nem garantias para serem utilizadas. O que vemos é um cenário de menor mortandade, porém, um vírus muito mais agressivo”, aponta Vizcaíno que informa que a vacina que está sendo desenvolvida na Espanha caminha a passos largos para sua aprovação.
Convidado para traçar um panorama sobre o papel de suínos asselvajados no contexto da Peste Suína Africana, Christian Gortázar falou sobre as diferentes frentes que vem sendo adotadas para controle e segurança. “Temos trabalhado de maneira preventiva, cuidando do ambiente desses animais, descartando cadáveres corretamente e trazendo informação a toda comunidade envolvida na atividade. Outra ação que incentivamos é a caça esportiva, pois, ela diminui o número de animais selvagens. Fazemos isso antes de um surto, porém, quando detectamos uma epidemia, como o que aconteceu na Coreia do Sul, passamos para a caça profissional e instalação de barreiras, sendo esta segunda um paliativo, já que o suíno selvagem não tem fronteiras”, aponta.
Como forma de manter o Brasil livre de PSA, os três palestrantes concordam. “É preciso estar atento ao transporte de animais, descarte correto de carcaças contaminadas, ao controle de pragas, como moscas, por exemplo, pois o vírus pode sobreviver até 110 dias em temperaturas de 3° a 4° C e até um mês em uma baia contaminada”, ressalta Gortázar.
Para Vizcaíno, é preciso reforçar o controle de entrada de alimentos nos aeroportos brasileiros. “O turista vai viajar e traz um embutido, por exemplo, e não imagina que, através daquela iguaria, pode trazer o vírus da PSA. A comunidade subestima a gravidade do transporte de alimentos, quando ele pode ser a porta de entrada para uma epidemia”.
De acordo com Dutra, o status sanitário brasileiro é um exemplo. “Nosso controle sanitário é nosso grande patrimônio”, garante.
Fernanda Almeida assente: “Nós não temos esse status sanitário porque ‘Deus é brasileiro’, mas sim porque somos muito bons no que fazemos”.
IPVS2022 – International Pig Veterinary Society Congress
21 a 24 de junho de 2022
Rio de Janeiro / Riocentro Convention & Event
Contato: www.ipvs2022.com ou pelo telefone (31) 3360-3663.