Trabalho realizado pelo MAPA foi apresentado pelo palestrante Guilherme Takeda no 13º Simpósio Brasil Sul de Suinocultura
A Peste Suína Clássica (PSC) é uma doença viral altamente contagiosa entre suínos e javalis e que não tem cura nem tratamento. Não é transmissível para os seres humanos, mas causa grandes prejuízos econômicos para a cadeia produtiva. Pela fácil transmissão e pelo elevado prejuízo que pode causar, o tema é sempre pauta de debates e foi assunto de palestra do auditor fiscal federal agropecuário e chefe da Divisão de Sanidade dos Suínos do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Guilherme Zaha Takeda, no 13º Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS).
Com o tema “Peste Suína Clássica: o que o Brasil está fazendo e qual o risco para a nossa suinocultura”, a temática abriu a programação científica desta terça-feira (11), no Painel Biosseguridade. O Simpósio é promovido virtualmente pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet) e segue até esta quinta-feira (12).
A suinocultura brasileira se destaca em qualidade e na preservação da sanidade do seu rebanho frente a várias enfermidades de relevância mundial. Takeda frisou que o processo de reconhecimento internacional de zonas livres (ZL) de Peste Suína Clássica no Brasil priorizou as regiões de maior relevância para produção e exportação de suínos e seus produtos. “Atualmente, cerca de 83% do rebanho suíno brasileiro encontra-se em zona livre de PSC, envolvendo, aproximadamente, 50% do território nacional”, informou.
Em 1992 foi implantado o Programa de Controle e Erradicação da PSC no Brasil e em 2000 houve o reconhecimento nacional de extinção da doença em 14 estados. A primeira certificação da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) foi em 2014.
A condição zoossanitária da doença no Brasil reconhecida pela OIE está constituída com três zonas livres: uma integra os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina; outra formada pelos estados do Acre, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo, Sergipe, Tocantins e os municípios de Guajará, Boca do Acre, sul do município de Canutama e sudoeste do município de Lábrea, pertencentes ao estado do Amazonas; e outra formada pelo estado do Paraná. Há uma zona não livre (ZnL), constituída pelos estados de Alagoas, Amapá, Amazonas (exceto região pertencente à ZL), Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Roraima.
Para atuar mais fortemente no controle e prevenção da doença, neste ano foi feita revisão do sistema de vigilância nas zonas livres, vacinação em Alagoas e estudo soroepidemiológico. Também foi implementado o Plano Integrado de Vigilância de Doenças dos Suínos 2021, que abrange toda a zona livre de PSC; considera diferentes realidades de risco e produção; atua com amostragem baseada em risco com busca de populações com maiores chances de detecção; amplia o escopo de vigilância e organiza, dá continuidade e sistematiza as informações e a comunicação.
O especialista enfatizou que o objetivo é erradicar a PSC no Brasil, tornando o país livre da doença. Para isso, é feito um amplo trabalho. “Na zona não livre a atuação é feita com base no Plano Estratégico Brasil Livre de PSC, cujo objetivo é erradicar a PSC na região, reduzindo as perdas diretas e indiretas causadas pela doença e gerando benefícios pelo status sanitário de país livre da doença. Como parte de sua estratégia, o Plano visa promover o fortalecimento do Sistema Veterinário Oficial (SVO) e do sistema de vigilância para as doenças dos suínos, incluindo a implantação de um programa de vacinação sistemática contra a PSC em alguns estados”.
Takeda ressaltou a importância de toda a cadeia produtiva conhecer os sintomas da doença para manter o alerta, a fim de evitar a reintrodução nas zonas livres: tratadores, produtores, médicos veterinários, profissionais da cadeia e controladores de asselvajados. “Todos devem estar devidamente instruídos e sensibilizados acerca dos sinais e da notificação”, reforçou.
IMPACTO ECONÔMICO
De acordo com Takeda, a situação da doença nas zonas não livres aumenta a preocupação com a possível reintrodução e disseminação nas zonas livre, pois se isso ocorrer o impacto econômico é grande, podendo chegar a R$ 5 bilhões em perdas, de acordo com estimativa da iniciativa privada.
O Brasil é o quarto maior produtor mundial e o quarto maior exportador mundial de carne suína. “A suinocultura brasileira possui condição sanitária bastante favorável por ser considerada livre de doenças economicamente muito importantes que ocorrem em várias partes do mundo, como a Peste Suína Africana (PSA) e a Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRS) e por possuir uma vasta zona livre de Peste Suína Clássica. A manutenção dessa condição sanitária no Brasil garante menores custos de produção e vantagem competitiva no acesso a mercados internacionais”, salienta Takeda.
Por ser de fácil transmissão, uma preocupação da cadeia produtiva é o crescente trânsito internacional de pessoas, o comércio internacional de animais e produtos, a intensificação da produção pecuária e outros fatores que contribuem para um aumento dos riscos de introdução e disseminação da doença. “Os estados de zona livre possuem um controle rígido, é proibido o tráfego de animais e produtos suinícolas de zonas não livres para zonas livres e todos os animais importados pelo Brasil passam por uma quarentena”, realçou Takeda, ao acrescentar que diversas ações e prevenção e controle fazem parte do Plano Brasil Livre de PSC.
Taketa salientou que o Brasil possui um robusto sistema de vigilância que tem tido êxito em demonstrar a ausência de PSC nas populações de suínos domésticos e asselvajados nas áreas de zona livre. O objetivo é comprovar esse status sanitário no mercado internacional, a fim de ampliar acordos comerciais. Porém, salientou a necessidade de intervenção nas áreas de zonas não livres, o que é fundamental para a redução do risco de reintrodução do vírus nos locais onde já foi erradicado. “Tivemos casos da doença em 2020 e 2021 no Piauí. É normal surgirem focos nas zonas não livres. Por isso, precisamos sempre estar vigilantes. Faremos relatório semestral e anual do Plano Brasil Livre de PSC e a cada três anos será feita uma revisão. A vigilância é a principal atividade que permite a detecção precoce de doenças e viabiliza o controle e a erradicação eficiente”, concluiu.