A movimentação de preços na suinocultura chinesa e as ações do governo local para tentar elevar os preços já causam preocupação entre os suinocultores brasileiros. Segundo fontes ouvidas pelo Notícias Agrícolas, grandes frigoríficos começaram a reduzir as compras de lotes de animais de granjas independentes sob o pretexto de que o gigante asiático estaria pressionando os exportadores brasileiros a renegociar contratos com preços mais baixos.
Na última semana, a agência de notícias Reuters divulgou que o órgão da indústria pecuária apoiado pelo governo da China informou que o preço do suíno vivo no país asiático caiu 65% desde o início do ano.
Nesta segunda-feira (28), a informação da agência de notícias era de que o governo Chinês vai comprar volumes (não especificados) de carne suína produzida localmente para os estoques estatais em uma tentativa de melhorar os preços internos e estimular os suinocultores chineses a seguirem produzindo.
De acordo com o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, a preocupação se dá em função de que as granjas estão preparadas em um ciclo contínuo para abastecer mercado interno e externo, principalmente a China, que leva 60% do total da proteína exportada. Se somada à demanda de Hong Kong, território autônomo da China, o número sobe para quase 70%.
“É um enorme prejuízo para o produtor, porque nos volumes que já estavam sendo vendidos estavam empatando em preço X custo de produção ou dando prejuízo. A suinocultura é uma atividade de ciclo contínuo, e assim como tem um animal saindo hoje da granja, tem leitões nascendo para ocupar o lugar. O suíno que está sendo vendido agora e que querem baixar os preços veio com custo de produção alto. Essa redução de milho e farelo que vemos agora só vai se refletir lá na frente”, explicou.
Folador aponta que grandes processadoras de carne suína “seguraram” as compras no mercado independente, pelo menos, nesta semana, alegando esta dificuldade na negociação com a China.
Um suinocultor de Santa Catarina que preferiu não se identificar afirma que a o assunto sobre a redução dos abates ganhou força na última sexta-feira (25), quando os animais foram colocados à venda no mercado.
“O mercado spot derreteu hoje. Para você ter uma ideia, foram vendidos animais hoje (25) com preços de até 15% abaixo do preço do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), por exemplo. Recebemos ofertas de frigoríficos abaixo do preço suíno base aqui de Santa Catarina”, disse.
Este produtor relata ainda que, em conversa com suinocultores que realizaram vendas no Paraná, por exemplo, soube de frigoríficos que haviam acordado compras de animais, depois ligaram avisando que não pegariam na próxima semana essas cabeças e somente carregariam na outra semana e que o preço acordado já não seria mais honrado.
Outro suinocultor gaúcho aponta que desde a última segunda-feira (21) o mercado tem dado sinais de que as compras de lotes da suinocultura independente por grandes frigoríficos iria diminuir. “A gente sabia disso pela questão da China com os preços baixos. Achávamos que as exportações iriam alavancar em julho, mas aparentemente, a China ainda não acordou”, conta.
ABPA FALA EM “ADEQUAÇÃO”
Questionado sobre os apontamentos de suinocultores sobre a perspectiva de redução nos abates por grandes frigoríficos, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, “não há nenhuma sinalização de movimento de redução de abate, e sim adequação”.
“É fato que o mercado da China está tendo variações de preços. O Brasil vem registrando um volume normal de exportação nos últimos tempos, mas esta questão atual não que vai baixar as exportações”, disse.
Para Santin, há a possibilidade de que as empresas se adequem, por exemplo, reduzindo os envios para determinado país e aumentando para outros destinos. Outra situação citada por ele é de que o assunto da redução de abate pode se tratar de rumores microrregionais.
“Se diminuir o abate agora, vai refletir lá na China em mais de 45 dias, dependendo de booking de navio, conteiner, vai chegar lá daqui uns 2 meses. Não vemos movimento de diminuição”, afirmou Santin.