Mas estudo do Rabobank aponta que, em linhas gerais, setor tende a ter mais resultados positivos em 2022
Embora o cenário para 2022 aponte que os preços continuarão atraentes nas grandes cadeias produtivas do agro brasileiro, em boa medida porque a demanda internacional tende a continuar aquecida com a retomada das economias, há desafios estruturais e conjunturais nos fronts interno e externo que terão que ser superados para que o setor de fato tenha mais um ano de bons resultados. Em linhas gerais, é o que indica o estudo “Perspectivas para o Agronegócio 2022”, divulgado pelo Rabobank.
Segundo a instituição de origem holandesa, um dos principais pontos de atenção é o futuro da política fiscal do governo federal, que poderá se tornar ainda mais incerta em meio ao clima eleitoral do próximo ano, o que poderá manter o real fortemente desvalorizado em relação ao dólar em 2022 – o que, especificamente no caso do setor, beneficia as exportações, mas eleva custos e pressiona a inflação, com reflexos negativos sobre o consumo doméstico.
Sob essa perspectiva, o Rabobank projeta o dólar encerrando o ano em torno de R$ 5,51, com média de R$ 5,61 para 2022. “É um câmbio que está bastante acima do que poderia ser um valor ‘justo’ diante do fluxo de investimentos que o Brasil recebe”, afirmou Maurício Une, economista-chefe do banco, em apresentação a jornalistas. A percepção do mercado, disse, é que a manobra política em curso para garantir o Auxílio Brasil continuará a pesar no câmbio. O Rabobank projeta inflação de 9,3% em 2021 e de 4,3% em 2022. O controle virá com novas elevações da Selic, que deverá terminar o ano em 9,25% ao ano e chegar a 10,5% ao ano no primeiro trimestre de 2022 – hoje a taxa Selic está em 7,75%.
No caso da soja, carro-chefe do agro brasileiro, com previsão de colheita recorde nesta safra 2021/22, o câmbio até poderá compensar, em parte, a queda das cotações na bolsa de Chicago, que segundo os analistas da instituição não encontrarão suporte, entre os fundamentos de oferta e demanda, para permanecerem nos níveis atuais. “O mercado queria incentivar a ampliação de área diante da forte retração de estoques de 2019/20, mas essa expansão agora está ocorrendo em ritmo mais enfraquecido. E a demanda, especialmente da China, não está acompanhando o incremento de oferta”, disse a analista Marcela Marini.
No quadro do milho, o fortalecimento dos estoques está mesmo mais lento, o que deverá oferecer sustentação mais sólida aos preços. “O nível de recomposição do milho é menor que o da soja, embora a produção americana caminhe para ser maior. Mas vale lembrar que a China está muito comprada no milho dos EUA, e isso oferece um suporte maior”, afirmou Marini. O trigo, que pode substituir o milho em rações, deve ser beneficiado nesse cenário.
Com pouco espaço para quedas expressivas de milho, trigo e farelo de soja, mesmo que os problemas de fornecimentos de insumos como defensivos e fertilizantes não se agravem, a indústria brasileira de proteínas animais deverá continuar a trabalhar com margens espremidas, e mais do que nunca dependerá da China, principal destino de suas exportações. A pressão de custos afeta sobretudo frigoríficos de aves e suínos, mas o “fator China” gera mais temor no segmento de bovinos, tendo em vista a demora do país asiático de reabrir as portas para a carne bovina brasileira, fechadas desde o início de setembro.
Para a carne de frango, o desafio será manter o ritmo de exportações de 2021, especialmente com a desaceleração das compras de China e Arábia Saudita – que embargou uma dezena de plantas brasileiras em maio e reduziu as importações. Já a retomada do rebanho de suínos na China deve perdurar em 2022, o que tende a limitar o avanço dos embarques de carne suína do Brasil.