Um cenário de alta nos preços internacionais e queda na produção mundial do milho aumenta as exportações do cereal, de acordo com análises da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e, por outro lado, preocupa os setores da avicultura e suinocultura no Rio Grande do Sul, uma vez que pode implicar num aumento de preços. “Se até agora tínhamos estabilidade de exportações de milho e mesmo assim subiam os preços, a situação deste momento gera uma preocupação maior”, afirma o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSURS), Valdecir Luis Folador.
O crescimento das exportações de milho foi de 92,3% no acumulado de janeiro a setembro, com embarque de 24,66 milhões de toneladas este ano, de acordo com dados da Conab. Para Folador, o aumento das exportações levanta um alerta. “É uma situação que preocupa porque o custo já vem em alta e teve poucas variações nas exportações ao longo do ano”, ressalta. Por outro lado, o presidente da ACSURS lembra que o Rio Grande do Sul está colhendo uma safra de inverno com expectativas de recorde. “Estamos na boca de uma grande safra de trigo e triticale, que vão poder ser usados em rações e acabam sendo uma alternativa para produtores e cooperativas”, afirma, já que os grãos podem compor até 100% da alimentação dos suínos, em determinadas fases do desenvolvimento do animal.
Essa questão, para ele, é uma vantagem, mesmo que não muito expressiva, uma vez que os preços desses grãos também estão em alta, em função do conflito entre Rússia e Ucrânia. Assim, Folador considera que o setor vai passar por elevação de custos até a entrada da produção da safra de milho.
“O último trimestre vai trazer um aperto um pouco maior para a suinocultura”, afirma. Mas, mesmo com a entrada da primeira safra, o presidente da ACSURS acredita que os preços do milho não vão diminuir consideravelmente, uma vez que é esperado um grande volume de exportação do cereal. “Temos que ter uma excelente safra para ter um pequeno refresco, porque, se tiver qualquer problema, a coisa fica um pouco mais complicada e os preços tendem a não baixar”, ressalta.
O presidente executivo da Associação Avícola do Rio Grande do Sul (Asgav), José Eduardo dos Santos, também comenta que a exportação aquecida do milho influencia no setor. “Com certeza isso reflete no aumento de preços, porque no Rio Grande do Sul temos especulação, por não sermos autossuficientes”, comenta. Ao mesmo tempo, Santos acredita que a alta não deve ser expressiva, uma vez que há expectativa de crescimento da safra de milho este ano, além da possibilidade de exploração de outros grãos para a alimentação animal. Para a reposição desses custos em alta, o presidente da Asgav afirma que o setor vai ter um cenário de ajuste de oferta, com redução de produção nas indústrias.
Além disso, Santos ressalta que o preço da genética, dos pintos, “subiu consideravelmente”, e o setor é afetado pela instabilidade econômica decorrente das eleições. Se o preço do milho não compensar, Santos destaca que há alternativas, como o trigo, o triticale e o arroz. “Mas tudo vai depender da equivalência do preço”, enfatiza. Ele também menciona a possibilidade de importação de milho do Paraguai e Argentina.
Com relação a outros custos de produção, Folador também não está otimista. “Se olharmos pelo preço de energia, mão de obra, sanidade, todos os demais componentes da produção de suínos, não há nenhum indicativo de recuo”, afirma, com única exceção ao farelo de soja, o qual o presidente da ACSURS considera que deve baixar de preço, com a entrada de uma safra recorde de soja.
Ao mesmo tempo, o setor da suinocultura espera elevação em vendas e preços no último trimestre, o que pode compensar a alta nos custos. “Os volumes exportados estão bons em outubros, nos preços também houve recuperação, então há perspectivas de valorização externa e manutenção de preços em alta, assim, espera-se que o produtor consiga compensar pelo menos o custo de produção, com margem 0, porque até agora ele tem operado com prejuízo”, diz Folador.