Por: Hysla Milena, zootecnista e técnica comercial da Blink Bioscience
Nos sistemas suinícolas, a fase de creche corresponde a um dos momentos mais decisivos do ciclo produtivo. Isso porque, o desmame precoce culmina em desafios que possuem diferentes origens e ocorrem concomitantemente. Por exemplo, existem desafios relacionados ao comportamento social característico da espécie. A creche é o local em que diferentes leitegadas são misturadas e é necessário um novo estabelecimento de hierarquia, a qual se desenvolve por meio de disputas e que podem resultar em lesões superficiais que comumente são porta de entrada para doenças, dentre elas, o desenvolvimento de miíases. Nessa fase ocorre ainda uma mudança de ambiente e densidade animal. Esses fatores são importantes e devem ser considerados durante o alinhamento do conjunto de práticas referentes à sanidade do plantel (manejo sanitário), o que permite a prevenção de enfermidades. Outra modificação se refere a cinética do comportamento alimentar, considerando que anteriormente ao desmame o alimento que estava na forma líquida (leite) poderia ser consumido mais vezes ao dia e em menores quantidades. Com a mudança para a creche, é fornecido alimento sólido, farelado (ração) e em um número de vezes menor ao longo do dia. A alteração do alimento interfere ainda no metabolismo de aproveitamento de nutrientes, pois na fase de maternidade uma das principais fontes de energia é a lactose que na fase de creche será substituída pelo amido. Logo, é necessário modulação enzimática, isto é, uma curva de readequação do padrão de secreção enzimática devido a modificação de substrato. Nesse sentido, a utilização de creep-feeding ainda na maternidade auxilia na adaptação do organismo.
Já na creche, as estratégias nutricionais irão constituir o principal caminho pelo qual é possível mitigar o conjunto de desafios apresentados. Dentre elas, aditivos prebióticos, os quais fortalecem o sistema imunológico e estimulam a maturidade do trato gastrointestinal, promovem a produção de anticorpos, aglutinação de bactérias patogênicas e produção de mediadores que permitem sistema imune vigilante nos suínos. Isso significa uma estimulação prévia à enfermidade, para que caso ela ocorra, os sistemas fisiológicos estejam mais preparados para impedir seus efeitos. Além disso, esses aditivos auxiliam em diminuir a diarreia na fase de creche, a qual é bastante comum, resulta em danos na mucosa intestinal e piora da condição de saúde geral, o que interfere ainda no bem-estar para essa categoria. A utilização de minerais na forma orgânica é outra estratégia capaz de maximizar a absorção desse nutriente, aspecto fundamental no cenário descrito. Com os minerais inorgânicos o efeito de antagonismo entre minerais ocorre frequentemente e com uso de minerais orgânicos essa condição é evitada, pois são exploradas vias de absorção alternativas, isto é, vias de absorção do componente ao qual o mineral está quelatado. Mesmo os adsorventes de micotoxinas são muito importantes, visto que os efeitos das micotoxinas estão no sentido oposto da redução de desafios, pois representariam prejuízos em uma situação já saturada de processos desvantajosos. Por esse motivo, esse componente deve ser escolhido cuidadosamente e composições mais completas são as mais indicadas.
Além dos exemplos de estratégias nutricionais mencionadas, é importante que a formulação da dieta esteja adequada. Desse modo, excesso de nutrientes deve ser evitado, como o excesso de proteína que a nível intestinal pode favorecer o crescimento e desenvolvimento da microbiota patogênica. Nesse sentido é primordial a preferência por ingredientes de alta digestibilidade e alta palatabilidade. Ao final da fase de creche, se os desafios foram adequadamente reduzidos, é esperado uma maior taxa de crescimento e desenvolvimento que devido ao efeito multiplicador dos pesos resultará em cevados com melhor condição corporal e, certamente, maior retorno financeiro para o negócio.
REFERÊNCIAS
WEI, X. et al. Weaning Induced Gut Dysfunction and Nutritional Interventions in Nursery Pigs: A Partial Review. Animals, v. 11, n. 5, p. 1279, 29 abr. 2021.
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