Com o impulso do desempenho da BRF, que teve seu melhor primeiro trimestre da história, a Marfrig fechou os três primeiros meses deste ano com lucro líquido de R$ 62,6 milhões. No mesmo período de 2023, a Marfrig, controladora da BRF, havia tido prejuízo de R$ 634 milhões.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado consolidado subiu 94,8% em comparação com o primeiro trimestre do ano passado, para R$ 2,65 bilhões. A receita líquida, por sua vez, cresceu 3,8% e chegou a R$ 30,37 bilhões.
Como os cálculos da Marfrig consideram suas operações continuadas na América do Sul, a empresa excluiu as unidades descontinuadas do resultado de 2023. Assim, a base comparativa passou a ser a mesma. Sem a exclusão, a companhia teve Ebitda de R$ 1,49 bilhão no primeiro trimestre do ano passado e receita de R$ 31,7 bilhões.
A carne bovina — atividade central das operações da Marfrig na América do Sul e de sua unidade na América do Norte, a National Beef — foi responsável por 56% da receita da companhia no trimestre. Produtos derivados de aves e suínos, o nicho da BRF, responderam pelos outros 44%.
“Essa rentabilidade é fruto da eficiência operacional com destaque da BRF, [que] contribuiu com 80% do Ebitda”, disse Tang David, vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da Marfrig. A BRF, das marcas Sadia e Perdigão, lucrou R$ 594 milhões no intervalo de janeiro a março deste ano, quando melhorou suas margens e diversificou suas exportações. Além de os preços dos grãos usados na ração (milho e farelo de soja) terem caído, a BRF abriu mais de 20 novos mercados no exterior.
Exportações
A diversificação de exportações também foi um ponto relevante para as vendas da Marfrig. Com as novas habilitações para exportar que a companhia obteve, a fatia da China em seu faturamento caiu dez pontos percentuais, para 30%.
“A China é um mercado importante, não vamos desprezar, [mas] já se sabe que não é o melhor mercado atualmente”, afirmou Rui Mendonça, CEO da operação América do Sul da Marfrig. O executivo ressaltou que a relevância dos chineses está no mix de cortes, como os dianteiros.
Outros compradores, como o México, ganharam destaque na pauta comercial da empresa entre janeiro e março. “Fomos responsáveis por mais de 50% das exportações [de carne bovina] do Brasil para o México no primeiro trimestre”, comentou Mendonça.
Nos três primeiros meses de 2024, o volume de comercialização das operações continuadas da empresa na América do Sul cresceu 13% em relação ao mesmo período de 2023, para 165 mil toneladas. A receita teve um aumento de 11%, para R$ 3 bilhões, refletindo o crescimento dos volumes, a elevação dos preços no mercado doméstico e a conquista de novos mercados.
Rio Grande do Sul
Questionado sobre o efeito das inundações no Rio Grande do Sul sobre os negócios, Mendonça disse que as cheias não causaram transtorno direto para as operações da empresa. O Estado representa menos de 5% da receita da Marfrig.
O cenário positivo na América do Sul ajudou a contrabalançar o desafio da restrição na oferta de gado que a National Beef tem enfrentado nos Estados Unidos. O CEO da operação América do Norte da Marfrig, Tim Klein, disse que a retenção de fêmeas no mercado americano ainda não começou. Com isso, a expectativa é de que a disponibilidade de animais só volte a crescer, de fato, em meados de 2027.
“Entre 2022 e 2023, o preço do gado subiu 16%. De 2023 para 2024, subiu mais 12%. Portanto, foram 30% de alta ao total do ciclo”, comentou o executivo.
Em função disso, Klein já prevê queda na capacidade de utilização da indústria, acompanhada de elevação dos preços da carne. “Nossa projeção diz que a utilização de capacidade, na pior parte do ciclo, vai ficar entre 75% e 80% do total. Se tiver menos oferta de carne, o preço sobe. Isso não significa necessariamente que a nossa margem vai cair [muito]”, disse.
Ele admitiu que pode haver alguma compressão das margens. A queda no uso de capacidade, afirmou, seria justamente para “gerenciar essa margem”.