Em um mundo onde o bem-estar animal e a eficiência produtiva na suinocultura são extremamente valorizados, os profissionais precisam estar sempre atualizados sobre técnicas e inovações no segmento. É com esse intuito que o doutor em Saúde Suína, Geraldo Alberton, e o Ph.D. em Ciência Animal e Ecologia Microbiana, Andres Gomez, apresentaram suas pesquisas no segundo dia de Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS), durante o Painel Imunidade e Microbiota. O evento, que iniciou na última terça-feira (13), em Chapecó (SC), encerra nesta quinta-feira (15).
Alberton colocou em debate as formas como a imunidade herdada e modulada interfere na resposta vacinal e chamou atenção para o fato de existirem dois extremos quando pensamos na resposta vacinal. “Um dos extremos é o otimista demais, aquele que confia na inibição da infecção. Outro é o pessimista, que entende que tem tanta coisa para dar errado, que a vacina não funcionará. É preciso procurar o meio termo entre a ciência e a prática”.
A necessidade de trabalhar outros fatores além da interferência dos anticorpos maternos foi um ponto de partida na explanação. “Precisamos explorar outros fatores que a mãe pode transmitir durante a gestação. Essas adaptações, seja do pai ou da mãe, podem impactar a expressão gênica do leitão, desde a fertilização até o nascimento”, explicou ao apontar que é necessário prestar atenção nos fatores de imunidade passiva, antibióticos em maternidade e creche, microbiota do leitão e epigenética”.
Primeiramente, o médico veterinário reiterou que a imunidade passiva robusta é uma ferramenta crucial, embora possa interferir em algumas etapas da resposta vacinal, pois retarda infecção/viremia, previne mortalidade precoce e protege o leitão durante a etapa de colonização e treinamento do sistema imunológico. Outro ponto fortalecido por Alberton é de que outros fatores, além da imunidade passiva, interferem muito mais na resposta vacinal, como o processo de vacinação, o antígeno viral e tecnologia da vacina utilizada e a conservação da vacina.
O uso de antibióticos nas porcas na maternidade, especialmente quando há problemas ou intervenções, também foi citado pelo médico veterinário. “Antibióticos administrados durante a gestação ou lactação podem afetar a resposta vacinal dos leitões. Porém, vários estudos mostram que, em geral, a preocupação não deve ser excessiva. A interferência dos antibióticos, apesar de existente, não deve ser um motivo para evitar o uso prudente após a vacinação”.
Ao tratar da microbiota, Alberton pontuou que esta é crucial para a saúde imunológica ao longo da vida do leitão. Recebida na maternidade pelo leitão, por parte da mãe e do ambiente, ela ajuda a treinar seu sistema imunológico. “Se a colonização for prejudicada devido à utilização de antibióticos ou por um ambiente com baixa diversidade bacteriana, a resposta vacinal pode ser comprometida”, complementou.
O último fator analisado foi a epigenética. “Ainda temos poucos estudos demonstrando o quanto ela vai interferir em vacinação, mas já compreendemos como interfere no comportamento do animal. Por exemplo, uma porca com lesões de casco ou condições de bem-estar comprometidas pode, a partir de mecanismos de ativação de genes, gerar filhotes mais suscetíveis ao estresse e com dificuldades sociais. Esses estresses podem impactar negativamente a resposta imunológica após a vacinação”, exemplificou, reforçando que os estudos acerca deste campo específico ainda estão sendo iniciados.
Alberton enfatizou ao público que quando fatores não ideais são alinhados, você cria condições propícias para o surgimento de doenças ou, no caso em questão, para que uma vacina não tenha um bom desempenho no suíno. “Embora algumas interferências sejam pequenas, do ponto de vista científico, todas devem ser consideradas”.
Em sua conclusão, o especialista falou sobre o que chama de “leitões hipersensíveis”, aqueles que tiveram um treinamento imunológico fraco na maternidade, devido a uma colonização intestinal inadequada, e acabam com uma capacidade imunológica reduzida. “Esses leitões apresentam uma resposta vacinal menos eficaz e estão menos preparados para enfrentar desafios na creche, recria e terminação. Isso justifica o porquê de termos essa necessidade tão grande de medicações injetáveis e via água, e, mesmo assim, as altas taxas de condenação nos frigoríficos”.
MICROBIOTA INTESTINAL E SAÚDE RESPIRATÓRIA
A importância do microbioma intestinal e sua relação com a saúde intestinal, ou integridade intestinal, foi o tema da explanação do PhD. Andres Gomez. Com base nesse conceito, ele enfatizou o quanto a dieta e o ambiente são importantes para modular a microbiota intestinal, como essa modulação tem um efeito direto na função do intestino e como o que acontece no intestino com os microrganismos e a função intestinal se reflete em todo o organismo, incluindo o trato respiratório.
Um dos pontos destacados pelo especialista foi que alternativas aos antibióticos, como probióticos, pós-bióticos ou pré-bióticos, podem ajudar a estimular o microbioma intestinal. “Enfatizo isso pois pode trazer benefícios, não apenas do ponto de vista dos microrganismos que desempenham funções benéficas, mas também para a integridade e para a saúde do intestino do animal. Precisamos ver muito claramente a importância de manter essa saúde, incluindo as bactérias e a função do intestino. É essencial aplicar estratégias como estas para estimular as bactérias intestinais e seus microrganismos a alcançar saúde não apenas localmente, mas também sistêmica, atingindo, assim, o trato respiratório”.
Ainda sobre estratégias, Andres pontuou que manipular o ambiente também tem um efeito significativo em modular e em mudar a composição e a função dessas bactérias. Segundo os dados apresentados por ele, animais que respondem melhor às vacinas contra diferentes patógenos respiratórios têm características importantes em seu microbioma intestinal, como uma maior diversidade e uma maior presença de bactérias potencialmente benéficas. “O que vemos e é importante dar ênfase quando falamos sobre isso são os muitos eixos de conexão entre o microbioma e outras partes do organismo, como o sistema respiratório, no que é chamado de eixo intestino-pulmão, por exemplo”.
Por fim, o membro do Instituto de Genômica Microbiana e Vegetal da Universidade de Minnesota apresentou estratégias que prospectam manipular interações precoces entre o hospedeiro e o microbioma. Na fase de nascimento e amamentação, é necessário aumentar com segurança as exposições microbianas e manipular fontes maternas por meio do IG do leite. Na creche, manipular a nutrição dos suínos com pró/pré/pós-bióticos. E no crescimento e terminação, monitorar o desenvolvimento da microbiota (específico para o ambiente de produção) e compartilhar dados sobre pontos de tempo de saúde e desempenho. “Em síntese, trabalhar de forma precoce é essencial para a manipulação do microbioma, com implicações críticas para o desempenho e a saúde. Seguir essas estratégias são fundamentais para termos suínos mais produtivos e saudáveis em nossos planteis”, finalizou Andres Gomez.