De acordo com a FAO, cerca de 40% da população mundial não tem acesso a uma dieta equilibrada. Diante disso, a pesquisa científica se apresenta como ferramenta indispensável para viabilizar o acesso da população a quantidades adequadas de proteínas, carboidratos e lipídios.
“Eu quero contribuir para isso, deixando um legado”, afirma a professora e pesquisadora Fernanda Almeida, que discorre: “Na UFMG, buscamos desenvolver pesquisas que tenham impacto social, que garantam um futuro digno para as próximas gerações, com acesso à alimentação adequada”.
A suinocultura brasileira desempenha papel central na segurança alimentar global. O Brasil já atingiu um patamar elevado na atividade, sendo o quarto maior produtor e exportador de carne suína do mundo.
Esse sucesso não é por acaso, analisa Fernanda. “É resultado de muito trabalho e investimento em nutrição, genética e sanidade. Isso me enche de orgulho”, relata.
No entanto, conduzir pesquisas aplicadas no país é desafiador, reconhece Fernanda, especialmente diante da falta de recursos nas instituições de fomento, tanto federais quanto estaduais. “Um país sem educação e sem ciência é um país que não se desenvolve”, determina.
Este cenário demanda uma relação estreita com parceiros da iniciativa privada, os quais incentivam e apoiam a ciência brasileira. “Essa é uma via de mão dupla, onde ambos os lados se beneficiam”, acredita Fernanda. A academia precisa de apoio para conduzir pesquisas, e, em troca, fornece dados que comprovam a eficácia dos produtos desenvolvidos pela indústria. “Como se costuma dizer: nós confiamos em Deus, mas para todo o resto, precisamos de dados”.
CIÊNCIA APLICADA. Há 10 anos, as fêmeas suínas entregavam em torno de 2.500 a 3.000 kg de carne por ano. Atualmente, já estamos falando de 4.000 kg de carne por fêmea entregue ao ano.
Ou seja, as fêmeas de hoje geram leitegadas cada vez maiores. Isto é um fato. Por um lado, é um ponto extremamente positivo. “Ao aumentar a disponibilidade de animais para o abate, consequentemente há maior produção de proteína para a população”, analisa Fernanda Almeida.
Contudo, como discorre a professora associada do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, essa nova realidade exige uma adaptação constante para garantir a sustentabilidade e a eficiência na produção.
Isso porque, junto com a hiperprolificidade surgem desafios. Um dos principais é o aumento na proporção de leitões com baixo peso ao nascer, os quais apresentam menor viabilidade. Para mitigar esses efeitos, discorre Fernanda, o melhoramento genético tem buscado estratégias para equilibrar essa situação, selecionando características que favoreçam a viabilidade dos leitões.
Embora haja avanços nessa área, alcançar leitões mais fortes desde o nascimento é uma tarefa complexa, especialmente devido ao melhoramento genético em suínos ser um processo de longo prazo e exigir tempo e dedicação para alcançar resultados sólidos.
“Esse é o cenário”, determina Fernanda, que conclui: “Precisamos de estratégias para minimizar as perdas, e uma dessas é justamente investir na nutrição da fêmea durante a gestação”.
As empresas de genética, assim como locomotivas, puxam o setor adiante, ofertando animais cada vez mais eficientes. Ao mesmo tempo, diante de novas exigências e desafios, os nutricionistas precisam propor soluções complementares, visando garantir uma produção o mais estável possível.
Desta forma, a nutrição deve entender o mais rapidamente possível essas novas demandas e criar soluções muitas vezes em paralelo com os avanços genéticos. “E essa questão da falta de uniformidade ao nascer não é um problema exclusivo do Brasil. É um desafio global, pois a genética das fêmeas hiperprolíficas é similar em todo o mundo”, ressalta a professora.
Uma das principais formas para minimizar essas perdas é a nutrição adequada da fêmea gestante. “Investir na nutrição ao longo de toda a gestação resulta em leitões mais fortalecidos e saudáveis ao nascer, permitindo que sigam o desenvolvimento de forma satisfatória”, explica Fernanda.
A nutrição de suporte aos mecanismos imunológicos dos animais é um conceito batizado de “imunonutrição”. E as pesquisas da professora Fernanda neste campo comprovam como a suplementação das matrizes com alimentos funcionais, os imunomoduladores, culmina em melhores pesos dos leitões ao desmame.
O foco da utilização dos imunomoduladores é gerar maior qualidade da oferta de substâncias moduladoras da produção hormonal, viabilidade dos embriões e desenvolvimento dos fetos e da placenta nas fêmeas suínas ao longo da gestação.
Como consequência da imunonutrição para gestantes hiperprolíferas, a média de nascidos vivos foi elevada em 7%, resultado da maior sobrevivência embrionária. Também, foi verificado aumento em 7% no peso das leitegadas, contrariando a tendência de redução do peso médio dos conceptos devido ao aumento do número de nascidos vivos por leitegada.
Os resultados atingidos deixam claro: placentas mais eficazes entregam leitegadas mais homogêneas. “Quando essa nutrição é fornecida a fêmea ao longo de todo o período de gestação, comprovamos que é eficaz e que traz benefícios para o leitão”, sintetiza Fernanda.
Para ela, esse é um investimento que certamente trará resultados positivos para o produtor a longo prazo. “Ao cuidar da fêmea, garantimos uma prole mais saudável, com maior potencial produtivo e menores perdas”, encerra a professora e pesquisadora.
Autor: João Paulo Monteiro Santos