A senadora e ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina (PP-MS), quer explicações do embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, sobre os boicotes de gigantes companhias francesas ao agronegócio brasileiro. Tereza Cristina conta ao Broadcast Agro/Coluna do Estadão que vai chamar Lenain para audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado, da qual ela é titular. “Queremos que ele explique a eterna objeção da França ao acordo entre Mercosul e União Europeia e essa ameaça de boicote, totalmente descabida, à carne do Brasil e do Mercosul pelo Carrefour francês”, disse a senadora. “Não há qualquer razão real, a não ser o protecionismo francês a seus produtos, que recebem altos subsídios, para essas medidas injustas, que merecem mais do que indignação, merecem resposta recíproca”, defende.
A reação da ex-ministra é em resposta ao comunicado recente do CEO mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, de que a varejista se compromete a não vender carnes do Mercosul, independentemente dos “preços e quantidades de carne” que esses países possam oferecer. A carta assinada por Bompard, divulgada nas suas redes sociais, foi endereçada ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas, Arnaud Rousseau, e, segundo ele, a decisão foi tomada após ouvir o “desânimo e a raiva” dos agricultores franceses, que protestam contra a proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. O Carrefour França afirmou que a medida é restrita apenas às unidades francesas, enquanto o Carrefour Brasil afirmou que não há mudanças na operação local.
No fim de outubro, outro episódio envolveu uma companhia francesa e o agronegócio brasileiro, quando o diretor financeiro da empresa, Jurgen Esser, afirmou, em entrevista à agência de notícias Reuters, que a Danone parou de comprar soja do Brasil e agora adquire o produto de países da Ásia. A medida seria uma antecipação à lei antidesmatamento da União Europeia, que proíbe a entrada no bloco de produtos de áreas desmatadas a partir de dezembro de 2020, e que ainda não entrou em vigor. A Danone Brasil negou qualquer interrupção no fornecimento da soja nacional à sua cadeia de alimentação animal.
Tereza Cristina, que é coordenadora política da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Senado, prevê também acelerar o projeto de lei da reciprocidade ambiental, do qual é relatora. O projeto se opõe à lei anti desmatamento da UE. A lei é mais rigorosa que o Código Florestal Brasileiro, já que não distingue desmatamento legal e ilegal, enquanto a normativa nacional permite determinados níveis de desmatamento conforme o bioma. “A UE ignora que os produtores rurais seguem o exigente Código Florestal brasileiro e cumprem o desmatamento ilegal zero. Já produzimos de forma altamente sustentável, com altíssimo padrão sanitário, que é fiscalizado pelos importadores, e, no caso de boa parte dos frigoríficos exportadores, com rastreabilidade dos produtos”, argumenta a senadora.
O projeto é uma das prioridades da bancada do agro para esse último trimestre. O projeto exige os mesmos critérios de redução de emissão de carbono exigidos do Brasil para exportação para importação de produtos. O foco é a União Europeia. O tema será alvo de uma segunda audiência pública na primeira semana de dezembro. “Parece que eles (europeus) são incapazes de competir e optaram por levantar barreiras comerciais inexistentes na Organização Mundial do Comércio contra nossas exportações. Então, o Brasil poderá aplicar a cláusula espelho para as exportações da União Europeia aqui, embarques sobretudo vindos da indústria europeia”, explicou a senadora.
A ex-ministra repudia os questionamentos do bloco sobre o controle sanitário do Brasil, além das reiteradas divergências quanto à lei antidesmatamento, que deve entrar em vigor em 30 de dezembro de 2025. A nova lei ambiental europeia preocupa o setor produtivo brasileiro, que teme interrupções no fluxo comercial. Em 2023, o Brasil exportou US$ 21,6 bilhões em produtos agropecuários para a União Europeia, sendo US$ 15 bilhões em produtos das sete cadeias afetadas pela nova legislação – soja, bovina, cacau, café, madeira, palma e borracha. Para entidades do agronegócio brasileiro, a lei é arbitrária e transgride a soberania nacional.