Profa. Sabrina Navarrete – PENSA/FIA Business School – com exclusividade para a MundoAgro.
A agroindústria brasileira vive um momento de profundas transformações, impulsionada pelo aumento da demanda mundial por alimentos e pela necessidade de alinhar produtividade, qualidade, eficiência, segurança alimentar e boas práticas socioambientais, tudo isso pautado por instrumentos sólidos de governança corporativa que garantam a prestação de contas e a transparência das operações. Nesse contexto, o conceito ESG (Environmental, Social and Governance) desponta como um norte estratégico para o setor, orientando a adoção de práticas socioambientais e uma governança corporativa robusta que fortalece a competitividade e amplia o acesso a
mercados e consumidores cada vez mais exigentes.
A essência do ESG está em integrar os pilares ambiental, social e de governança às operações e a estratégia empresarial. Hoje, investidores e fundos de investimento globais valorizam empresas que adotam critérios sustentáveis, abrindo caminho para financiamentos verdes, linhas de crédito especiais e investimentos que reconhecem o valor dos aspectos intangíveis, como redução das emissões de gases de efeito estufa, bem estar animal, treinamento e capacitação dos funcionários e transparência na gestão.
Essa abordagem estimula as organizações a repensarem o processo de produção – desde a escolha dos insumos e seleção de fornecedores até a gestão dos recursos naturais e o relacionamento com as comunidades locais –, promovendo uma transformação profunda e sustentável. Este movimento corrobora a afirmação de que o ESG vai muito além de métricas e indicadores. O ESG está no cerne da estratégia das organizações que se empenham em atender aos interesses dos stakeholders ao mesmo tempo em que buscam garantir a sustentabilidade do negócio a longo prazo.
SAG da Carne Bovina
No setor de carne bovina, a incorporação dos princípios ESG tem impulsionado a busca por maior eficiência na gestão dos recursos naturais, redução de emissões, inclusão e capacitação de pequenos produtores rurais e garantia do bem-estar animal. Os desafios
incluem a modernização da cadeia produtiva com o uso de tecnologias digitais, como o blockchain e a inteligência artificial, que aprimoram a rastreabilidade e a transparência agregando valor aos produtos e ampliando o acesso a mercados internacionais.
SAG da Soja
No sistema agroindustrial da soja, a sustentabilidade está presente em práticas agrícolas que unem a alta produtividade com a conservação ambiental. Estratégias como a rotação de culturas, o plantio direto e o uso adequado de insumos ajudam a minimizar os impactos ambientais, em especial na preservação e na regeneração de áreas de biodiversidade e no combate ao desmatamento. As certificações de sustentabilidade também representam um diferencial para o setor, sendo capazes de agregar valor ao produto e permitir o acesso a mercados que priorizam a responsabilidade socioambiental.
SAG do Café
No setor do café, a aplicação dos princípios ESG torna-se essencial diante dos desafios das mudanças climáticas. A capacitação dos produtores garante a qualidade e a rastreabilidade dos grãos, atributos que agregam valor e ampliam o acesso a mercados premium. Investimentos em tecnologias de agricultura digital e de precisão, assim como sistemas com inteligência artificial, que incluem o uso de drones, sensores e análise de dados, também contribuem para a otimização dos processos produtivos e para o fortalecimento da cadeia.
Inovação, Engajamento dos Stakeholders e Adaptação às Mudanças Climáticas
A inovação é um pilar essencial da agenda ESG, onde a agricultura digital e a agricultura de precisão caminham juntas com objetivo de otimizar a produção, aumentando a eficiência e reduzindo o impacto ambiental. Ao mesmo tempo, o engajamento dos stakeholders – desde pequenos produtores até investidores e comunidades locais – é fundamental para o desenvolvimento de soluções inclusivas e adaptativas. Essa integração fortalece o diálogo, promove a transparência e permite que os desafios impostos pelas mudanças climáticas sejam enfrentados por meio de práticas inovadoras, como o manejo adaptativo e o desenvolvimento de culturas mais resilientes.
Transparência e Governança como Diferenciais Competitivos
A adoção de padrões robustos de governança, como a divulgação regular de relatórios de sustentabilidade, garante que os aspectos ambientais e sociais projetados na estratégia ESG sejam aplicados na prática. Além disso, auditorias independentes e mecanismos de
monitoramento que ajudam a promover a confiança dos Stakeholders, inclusive dos investidores, podem ampliar o acesso a financiamentos verdes e a novos mercados de exportação ao evidenciar o comprometimento do setor com a ética e a transparência.
Perspectiva para o Futuro
Integrando os pilares ESG às vantagens competitivas do agronegócio brasileiro – clima favorável, disponibilidade de recursos naturais, tecnologia e inovação – o país tem a oportunidade de se consolidar como referência mundial na produção sustentável de alimentos. Com o contínuo investimento em tecnologia e inovação, somado ao engajamento dos stakeholders e ao fortalecimento de uma governança ética, o agronegócio brasileiro demonstra que é possível associar alta produtividade à preservação do meio ambiente e ao desenvolvimento humano. O futuro dos sistemas agroindustriais é promissor e o ESG é a ferramenta de gerenciamento de risco e criação de valor capaz de levar a um modelo de crescimento sólido, resiliente e alinhado às expectativas de um mundo cada vez mais consciente e exigente.