Surtos de gripe aviária, febre aftosa, doença de Newcastle e peste suína africana geram crescente preocupação.
Na última década, junto com a gripe aviária, surtos de peste suína africana, vírus da língua azul, febre aftosa, peste bovina e dermatite nodular contagiosa surgiram um após o outro na UE, causando perdas de animais, custos financeiros, redução da produção de alimentos e traumas para os criadores.
Atualmente, uma enorme epidemia de gripe aviária no principal estado-membro produtor de carne de frango da União Europeia torna-se parte do assustador colapso da saúde animal nas criações europeias.
A Polônia produz 21% da carne de aves da UE, mas a Gripe Aviária Altamente Patogênica (IAAP) vem causando dificuldades até na reposição de estoques. Seus rebanhos também vêm sendo afetados pela Doença de Newcastle, para a qual a vacinação se tornou obrigatória
A indústria avícola polonesa desenvolveu-se rapidamente a partir de 2004, quando o país aderiu à UE. A produção anual de carnes avícolas da Polônia, de 2,9 milhões de toneladas, vem de cerca de 67% de frangos de corte, 22% de galinhas poedeiras, 7% de perus, 3% de patos e 1% de gansos.
Os produtores poloneses conseguem exportar carne de frango a preços mais baixos do que outros estados-membros. A UE rabsorve cerca de 60% das exportações polonesas de carne de frango, com 40% direcionadas a países fora da UE. A produção de carne de aves aumentou cerca de 6,5% em 2024, uma tendência que se manteve em 2025, mas a gripe aviária e a doença de Newcastle afetaram a expansão.
As províncias de Mazowieckie e Wielkopolskie têm a maior população de aves da Polônia, representando 22% e 23% do total, respectivamente. Em 2025, a maioria dos surtos de IAAP (43) ocorreu na província de Wielkopolskie, seguida por Mazowieckie (21).
Os surtos de 2025 levaram ao abate de 7,7 milhões de aves nas granjas infectadas e de mais quatro milhões de aves em 65 propriedades próximas.
Embora a maioria dos surtos de IAAP tenha sido relatada em 29 granjas de perus, a produção de ovos foi a parte mais afetada do setor, com as galinhas poedeiras representando 48% de todas as aves abatidas. Cinco surtos foram confirmados em granjas de frangos de corte, com 1,2 milhão de aves abatidas. Mas ainda mais significativos foram os 12 surtos em granjas de galinhas reprodutoras, onde mais de 865.000 aves foram abatidas. Uma perda tão grande de galinhas reprodutoras representa uma ameaça ao potencial polonês de reconstruir os estoques avícolas.
Anteriormente, as detecções de IAAP diminuíam na primavera e no verão, mas o pico de infecção no inverno foi prolongado na Polônia este ano, com os maiores números de surtos de IAAP registrados em março. Como resultado, no início de abril, a Comissão Europeia informou o Diretor Veterinário polonês sobre sua profunda preocupação com a situação da doença. O alerta foi o de que as medidas polonesas para limitar a epidemia de gripe aviária eram insuficientes, o que ameaçava o mercado intra-UE.
A UE ameaçou a Polônia com medidas mais rigorosas, como proibir o repovoamento com novas aves em granjas comerciais em quatro províncias, incluindo Wielkopolskie e Mazowieckie, e restringir a circulação de aves, exceto para os abatedouros. As quatro províncias respondem por 64% da produção avícola da Polônia.
Em vez disso, as negociações resultaram em um plano de ação acordado, em cooperação com as principais associações da indústria avícola e produtores de aves e ovos. Treze diretrizes principais foram acordadas em conjunto. Por exemplo, as granjas onde ocorrem surtos devem interromper a produção por 40 dias após a desinfecção final, com o repovoamento sujeito à inspeção e verificação de testes de limpeza, confirmando a ausência dos vírus da IAAP e da Doença de Newcastle.
Demais avicultores devem aguardar 14 dias antes do repovoamento, prazo sujeito a um controle oficial de desinfecção adicional. Limites de densidade de também foram impostos. As zonas de vigilância ao redor dos surtos foram expandidas em mais cinco quilômetros.
Nenhuma compensação será concedida aos produtores que não aderirem aos planos de biossegurança orientados por veterinários. O monitoramento semanal será implementado em áreas restritas. Os funcionários poderão trabalhar em apenas uma granja. Essas e outras medidas acordadas foram implementadas imediatamente nas áreas mais afetadas na Polônia desde meados de abril.
Apesar disso, houve 24 surtos de Doença de Newcastle (ND) em granjas avícolas comerciais na Polônia até 6 de maio, ocorrência que levou ao abate de mais de dois milhões de aves. Em 2024, 21 surtos de ND foram confirmados.
Desde 29 de abril, foram impostas exigências adicionais de biossegurança para a ND, aqui inclusa a obrigatoriedade de vacinação de frangos e perus. Assim, por exemplo, as granjas comerciais devem aplicar medidas de biossegurança adicionais antes não adotadas, como a desinfecção ao entrar e sair de galpões ou mesmo das próprias granjas.
Com o aumento dos preços da carne e a queda nos custos da ração, os avicultores poloneses estavam prontos para mais um ano de expansão, mas as doenças, inesperadamente derrubaram as expectativas.
Isto vem se tornando um revés muito comum para os criadores da UE, aqui inclusos os de bovinos e ovelhas, atingidos pelo surto do ano passado de uma nova cepa do vírus da língua azul.
Neste ano, a Peste Suína Africana (PSA) também vem aumentando novamente, com Estônia, Croácia e Ucrânia relatando novos surtos e ocorrências persistindo em outros 13 estados-membros.
Alemanha, Hungria e Eslováquia foram atingidas pelo pior surto de febre aftosa da UE neste século, e a descoberta de uma cepa viral exótica da mesma doença no Iraque e em outros países do Oriente Próximo aumenta a ameaça.
A Hungria também foi atingida (pela primeira vez) pela peste bovina ovina, também conhecida como peste dos pequenos ruminantes (PPR). Causando altas taxas de mortalidade, a PPR frequentemente devasta áreas da África, Oriente Médio e Ásia, onde os criadores são extremamente dependentes dos pequenos ruminantes.
Desde 2012, a dermatite nodular contagiosa se espalhou da África e da Ásia para rebanhos bovinos na Grécia e na Bulgária. Sua disseminação foi controlada por uma ampla campanha de vacinação coordenada e cofinanciada pela UE.
A vacinação é a resposta para o crescente problema de doenças nos bovinos da UE, de acordo com Emmanuelle Soubeyran, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde Animal, entidade sediada em Paris. No entanto, a UE resiste a uma utilização mais ampla da vacinação, devido aos custos envolvidos e porque os países para os quais a UE exporta podem se recusar a importar carne e laticínios de rebanhos vacinados.
A Eslováquia usou vacinas emergenciais contra febre aftosa, mas a Alemanha e a Hungria optaram por confinamentos de animais e rastreamento epidemiológico.
A França adotou a vacinação em massa de patos após os surtos de gripe aviária de 2023 e restaurou com sucesso a produção avícola ao seu nível mais alto em anos. A Holanda pode decidir-se pela vacinação em galinhas poedeiras. A vacinação é improvável nos EUA, que lutam para conter uma epidemia massiva de gripe aviária.