A oferta estável, o mercado interno aquecido e as crescentes exportações impulsionaram o aumento no preço do suíno vivo e da carne suína no varejo no primeiro semestre de 2025. Para o segundo semestre, a expectativa é de que a disponibilidade siga ajustada, enquanto a demanda — tanto interna quanto externa — permanece aquecida, sustentando os preços no mercado físico.
A Safras & Mercado apontou que a disponibilidade doméstica de carne suína está enxuta, favorecida pelo ótimo ritmo da exportação, que por sua vez tende a ultrapassar a marca das 115 mil toneladas em junho, seguindo a última média divulgada pela Secex.
Segundo projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), compiladas pela HN Agro, a produção de carne suína no Brasil deve crescer 2,2% em 2025, totalizando 4,6 milhões de toneladas em equivalente carcaça, frente às 4,5 milhões de toneladas registradas no ano passado. No sentido oposto, a China — maior produtora global — deve apresentar uma leve retração de 0,1%, com a produção estimada em 57 milhões de toneladas, ante as 57,06 milhões de toneladas de 2024.
“No caso do abate de suínos, a gente observa que, apesar do crescimento, o abate vem em uma desaceleração para poder manter a oferta equilibrada. Também observamos uma diversificação das nossas exportações, temos conseguido ampliar os nossos destinos para envio das carnes, o que tem favorecido a estabilidade deste mercado. A China reduziu muito as compras da nossa carne suína, mas conseguimos outros destinos, como as Filipinas, que tiveram uma ascensão nos últimos períodos e alcançaram a primeira posição nas compras”, explicou a gerente da pesquisa, Angela Lordão.
O Presidente da APCS, Valdomiro Ferreira, explica que muitos suinocultores seguraram os animais neste mês de junho a espera de preços superiores a R$ 180,00/@. “No começo de junho, o setor estava com uma perspectiva altista e que pudesse ultrapassar esse patamar de cotação até o final do mês, isso acabou levando os produtores a seguraram os animais mais leves na granja”, comentou em entrevista ao Notícias Agrícolas.
A Associação tem pedido aos suinocultores que não aguardem a retomada de preços, pois isso pode comprometer o ganho de peso dos animais e também gerar um excesso de oferta no início de julho. “Nós estamos pedindo para que os suinocultores não segurem os animais nas granjas e não aguardem retomada de preços, já que esse período melhora a conversão alimentar do animal, assim ele consome mais e ganha mais peso”, informou.
Já no estado do Rio Grande do Sul, a oferta e a demanda para a suinocultura no estado continua ajustada desde do final do ano passado, conforme comentou o Presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSURS), Valdecir Folador. “Já terminamos o primeiro semestre e não temos oferta sobrando, mas se tivesse mais disponibilidade de animais os frigoríficos estariam comprando”, comentou ao Notícias Agrícolas.
A liderança gaúcha ainda reforça que o cenário de oferta ajustada tem sido positiva ao setor, pois os preços estão se mantendo estáveis com viés de alta e deixando margens positivas para o suinocultor.
Custo de Produção
O poder de compra do suinocultor paulista vem crescendo frente ao milho e ao farelo de soja – principais insumos da atividade. Segundo as informações do Cepea, esse cenário tem sido favorecido pelo aumento no valor do suíno vivo e pela queda nos preços dos insumos, como o milho.
O levantamento do Itaú BBA indicou que os custos da suinocultura caíram 3%, ao passo em que os preços do animal vivo avançaram 1%, e este patamar do spread se manteve na primeira metade de junho, com os custos e os preços caindo proporcionalmente, na ordem de 2%.
De acordo com os custos de produção, Folador reportou que o preço do milho e do farelo estão estáveis na localidade. “Nós acreditamos que esse cenário deve permanecer para o segundo semestre, mas estamos acompanhando que a demanda está bem aquecida e isso pode contribuir para o mercado”, relatou Folador.
Com um aumento da oferta de cereal e preços pressionados, os suinocultores estão com margens mais atrativas e alguns casos estão aproveitando para estocar o milho para garantir a rentabilidade até o final do ano.
Em entrevista ao Notícias Agrícolas, o Presidente da Associação Paulista dos Criadores de Suínos (APCS), Valdomiro Ferreira, destacou que os suinocultores estão tendo rentabilidade já que a relação de troca está favorável ao suinocultor.
“Hoje, o preço do suíno está em R$ 168,00/@ e a saca do milho está em R$ 68,00 a saca posto Campinas. Nós estamos com uma relação de troca de uma arroba suína por 2,47 sacos de milho, sendo que o ideal é 2,5. Por tanto, nós estamos muito próximos de uma relação saudável”, comentou ao Notícias Agrícolas.
Com relação ao farelo de soja, o setor de suinocultura está aguardando preços abaixo de R$ 1.600 por tonelada para o segundo semestre. “Com isso, nós estamos acompanhando produtores comprando farelo de soja de forma antecipada para os próximos dois meses e devemos comprar o farelo até dezembro”, destacou.
No entanto, o agronegócio também acompanha a recente escalada de tensão no Oriente Médio, com o conflito entre Irã e Israel, que já começa a refletir de forma direta no setor. O impacto mais imediato tem sido o aumento no custo dos adubos nitrogenados, essenciais para culturas como o milho
Esse cenário traz consequências práticas para o planejamento agrícola. Tradicionalmente, em Santa Catarina, o milho é plantado entre setembro e outubro no estado e exige grande volume de nitrogênio na sua adubação. Com os preços elevados, muitos produtores já cogitam migrar parte das áreas destinadas ao milho para o cultivo da soja, que demanda menos fertilizante nitrogenado.
“Se o custo inviabilizar a cultura do milho, o produtor acaba optando pela soja. Isso pode agravar ainda mais o déficit de produção interna, já que nosso estado não tem safrinha e depende fortemente da produção de milho para alimentar suas cadeias de suínos, aves e leite. Hoje já temos um déficit de 5 a 6 milhões de toneladas de milho, e esse número pode crescer ainda mais”, alerta João Carlos Di Domenico, produtor rural e presidente da Cooperativa Agropecuária Camponovense (Coocam).
Demanda
A demanda por carne suína será um dos fatores determinantes para a formação de preços no segundo semestre de 2025, em um cenário de oferta doméstica mais ajustada. As exportações devem seguir aquecidas, enquanto a carne suína deve enfrentar maior concorrência da carne de frango, que apresenta preços mais acessíveis e pode ganhar espaço nas gôndolas diante do consumidor sensível ao custo.
As importações de carne suína pela China devem recuar 0,5% em 2025, totalizando 1,3 milhão de toneladas em equivalente carcaça, levemente abaixo das 1,306 milhão de toneladas adquiridas em 2024, segundo estimativas do USDA compiladas pela HN Agro. O Japão também deve reduzir suas compras no mercado internacional, com previsão de queda de 1,8%, passando de 1,487 milhão de toneladas no ano passado para 1,46 milhão neste ano.
Em sentido oposto, as Filipinas devem intensificar as importações da proteína, com alta projetada de 5,7% em 2025. O volume deve alcançar 630 mil toneladas, frente às 590 mil toneladas adquiridas em 2024, em meio às dificuldades do país em conter a peste suína africana e garantir o abastecimento interno.
As exportações brasileiras de carne suína devem crescer 4,5% em 2025, totalizando 1,6 milhão de toneladas em equivalente carcaça, segundo projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) compiladas pela HN Agro. O volume supera os 1,535 milhão de toneladas embarcadas em 2024 e reforça a competitividade do Brasil no mercado internacional.
Na contramão, outros grandes exportadores devem enfrentar retração nas vendas externas. Os Estados Unidos devem embarcar 3,155 milhões de toneladas, queda de 2,2% em relação ao ano anterior. o USDA estima que a União Europeia, por sua vez, deve reduzir suas exportações em 3,8%, com estimativa de 2,9 milhões de toneladas em 2025, frente às 3,014 milhões de toneladas registradas em 2024.
O consumo de carne suína no mercado interno brasileiro deve avançar 1 % em 2025, alcançando 3,002 milhões de toneladas em equivalente‑carcaça e superando as 2,972 milhões de toneladas registradas em 2024, apontam projeções do USDA compiladas pela HN Agro.
No maior polo de demanda global, a China, o movimento é inverso: espera‑se leve recuo de 0,1 %, para 58,2 milhões de toneladas, resultado de ajustes no plantel após os impactos da peste suína africana.
Já as Filipinas surgem como destaque de expansão em função da dificuldade para conter a peste suína africana e com produção doméstica limitada, o país deve elevar suas compras em 5 %, passando de 1,576 milhão para 1,655 milhão de toneladas, o que tende a abrir espaço adicional para a proteína brasileira.
O Itaú BBA apontou que a China reduziu muito sua necessidade de importações desde 2021, após se recuperar da Peste Suína Africana. No caso das compras de carne suína do Brasil, as vendas estão 30% menores neste ano após terem caído 40% em 2024. Mesmo assim, ainda é o segundo principal destino externo, tendo sido ultrapassada somente pelas Filipinas. Ou seja, apesar das compras menores, ainda é um mercado importante para o Brasil.
Segundo as informações da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), de janeiro a março de 2025, 26 países registraram casos de peste suína africana contabilizando 2.251 casos registrados neste período. A ABPA ainda reforça que há décadas não ocorre casos de PSA no Brasil.

De acordo com as informações da Scot Consultoria, a carne suína enfrenta uma forte concorrência no mercado doméstico. De um lado, a carne de frango, mais barata. Do outro, a carne bovina, com preços mais atrativos que no passado.