Com crédito tradicional mais restrito, financiamento privado avança no agronegócio e reforça tendência de diversificação.
O agronegócio é responsável por quase 30% do PIB brasileiro e segue como um dos principais pilares da economia nacional. Mas, em meio à alta dos juros, à volatilidade climática e ao encarecimento dos insumos, o acesso ao crédito se tornou um dos maiores desafios para produtores e empresas do setor. Nesse contexto, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) vêm se consolidando como uma alternativa ao Plano Safra, oferecendo previsibilidade, velocidade e segurança. Impulsionados por esse ambiente de juros elevados e maior seletividade bancária, os FIDCs já se tornaram protagonistas no mercado de fundos: no primeiro semestre, o patrimônio líquido da categoria alcançou R$ 687 bilhões, um crescimento de 18% em relação ao mesmo período do ano passado. Esses fundos seguem ganhando espaço ao oferecer vantagens competitivas e menor volatilidade, reforçando a tendência de migração para estruturas mais alinhadas à realidade do crédito no país.
Outro ponto relevante no avanço dos FIDCs no agronegócio é o atendimento especializado e a possibilidade de customização das operações. Diferentemente do crédito tradicional, que segue modelos padronizados, os fundos estruturados permitem levar em conta fatores como ciclos produtivos, fluxo de caixa e riscos específicos de cada cadeia agrícola.
“Um dos diferenciais da companhia está na forma como estrutura seus fundos. Regulados no modelo multicedente/multissacado, os FIDCs garantem flexibilidade e amplitude na aceitação de lastros, acomodando com segurança os ativos típicos do agro, que possuem características muito próprias. Essa engenharia permite não apenas maior aderência às necessidades reais das empresas, mas também segurança jurídica e eficiência operacional”, afirma Volnei Eyng, CEO da Multiplike.
Na prática, o crédito estruturado funciona como um instrumento de modernização do financiamento rural. Diferentemente do crédito público, limitado por contingenciamentos fiscais e sazonalidade política, o crédito privado permite criar estruturas híbridas que combinam garantias reais, contratos futuros e análise individualizada da capacidade de pagamento. Isso garante mais autonomia financeira, menos exposição a ciclos políticos e atração de capital de longo prazo. Atualmente, cerca de 9% da carteira total da Multiplike já está alocada no agro, e a tendência é de crescimento contínuo. A empresa planeja ampliar o portfólio de soluções para o setor nos próximos trimestres, sempre mantendo como base a governança sólida, o rigor na análise de crédito e a inovação nos modelos estruturados. “O crédito estruturado é uma forma mais moderna, inteligente e ágil de acessar capital, respeitando a lógica do setor e destravando o crescimento do agronegócio brasileiro”, explica Eyng.
Os FIDCs têm se destacado no agronegócio por oferecerem soluções rápidas e estruturadas para diferentes necessidades, como custeio da safra, capital de giro e investimentos. Diferentemente das linhas públicas, frequentemente limitadas ou demoradas, esses fundos funcionam com operações desenhadas caso a caso, utilizando instrumentos como a Cédula de Produto Rural e garantias reais, entre elas o penhor de safra e a alienação fiduciária de imóveis. Além disso, contam com suporte técnico especializado ao longo de todo o processo de concessão.
“O produtor não pode mais depender de um crédito que chega atrasado ou em volume insuficiente. O melhor recurso é aquele que atende à necessidade do negócio no tempo certo”, afirma Gustavo Assis, CEO da Asset Bank.
Segundo Assis, a versatilidade dos fundos também os torna instrumentos eficazes para atender toda a cadeia do agronegócio. O mesmo fundo pode contemplar um pequeno produtor, um grupo agroindustrial e até fornecedores de insumos, conectando as pontas de forma estratégica. “Essa abrangência permite, por exemplo, integrar produtores de cana e usinas consumidoras de biomassa em uma mesma estrutura de recebíveis, o que reduz significativamente o risco de inadimplência. Para o investidor, essa composição representa uma carteira pulverizada, com exposição a múltiplas culturas, regiões e perfis de tomadores, além de proteção adicional por meio das cotas subordinadas e garantias reais. O avanço dos FIDCs no agro acompanha o movimento de profissionalização que o setor vem vivendo nos últimos anos. Com a transição geracional, muitos grupos familiares passaram a incorporar práticas de gestão mais estruturadas, buscar proteção patrimonial e avaliar com mais critério o custo de capital. O crédito deixou de ser apenas uma necessidade pontual e passou a ser encarado como um componente estratégico do negócio”, explica.