O protecionismo e a disputa concorrencial com o Brasil também estão claros nos protestos espalhados pela Europa para o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR).
“A briga dos produtores europeus não é só contra a União Europeia, é contra o produtor rural brasileiro também”, disse em entrevista recente.
“A reclamação deles lá é com a manutenção da competitividade dos produtores europeus em relação a nós. A principal crítica é justamente a reciprocidade em relação aos custos de produção e benefícios da produção de países terceiros, que somos nós”, afirmou em entrevista recente.
Os produtores europeus entraram em pé de guerra contra alta nos custos de produção. Com milhares de tratores pelas ruas de diversos países, buscaram preservar subsídios em insumos, combustíveis e energia e adiar a entrada em vigor da norma que obriga a manutenção de 4% das áreas em “pousio”, ou seja, sem produção. No Brasil, a depender do bioma, a regra exige de 20% a 80% das propriedades com vegetação nativa.
Lupion lembrou que cerca de 18% das exportações do agronegócio brasileiro vão para aquele bloco econômico. Cerca de 80% do suco de laranja consumido pelos europeus é brasileiro. No caso da proteína animal, o índice é de 30%.
“Sabemos que é uma briga concorrencial, comercial. No compromisso entre UE e Mercosul, nunca vamos aceitar o que vai atribuir custo ao produtor rural e mais demandas”, destacou.
“A legislação já é muito restritiva ao produtor e precisamos continuar escoando nossos produtos sem mais medidas restritivas. Enquanto a vontade da UE for restringir a nossa produção, também não vamos aceitar”, completou.
Lupion ressaltou que os produtores europeus recebem muito mais subsídios que os brasileiros, preservam muito menos a vegetação e ainda querem impor barreiras contra o Brasil. “A média de subsídio governamental para o produtor rural europeu é em torno de 15,5% [da sua renda]. No Brasil, é próximo de 3%”, disse o deputado.
Os europeus, de fato, perceberam a competitividade do setor agropecuário do Brasil, admitem adidos agrícolas brasileiros que atuam no velho continente. Mas, na visão dos produtores locais, eles enfrentam mais exigências, inclusive ambientais.
Os produtores de lá querem que as regras de produção sejam “espelhadas” com os países sul-americanos para fechar o acordo de livre comércio. A proposta mira em agrotóxicos que podem ser usados no Brasil e países vizinhos e lá não, por conta do clima tropical.
Também há discussão sobre os limites máximos de resíduos (LMR) de defensivos que são proibidos no velho continente em alimentos produzidos na América do Sul e sobre a qualidade dos produtos. “É uma questão de narrativa ambiental que une os polos políticos europeus”, diz um diplomata.