A compra da BRF pela Marfrig é questão de tempo, avaliam casas de análise de investimentos depois de a companhia de Marcos Molina aumentar, de 33,2% para cerca de 40%, sua participação no capital da dona da Sadia, em menos de um mês.
A reportagem apurou que a diretoria da Marfrig considera que as ações da BRF estão sendo negociadas abaixo do que valem, mesmo com melhorias operacionais reportadas trimestre a trimestre. Segundo o Valor Data, os papéis da BRF na B3 caíram 26% em 12 meses, para R$ 9,96 no fechamento de ontem.
O avanço na BRF também reforça o posicionamento da Marfrig como uma empresa de produtos de marca e industrializados. “O foco não é só a BRF. A ideia é aumentar a capacidade das plantas de processamento de carne bovina na América do Sul. As coisas andarão juntas”, disse uma fonte da empresa.
Heitor Martins, estrategista de investimentos da Nexgen Capital, afirmou que a aquisição da BRF transformaria a Marfrig em um negócio de proteínas mais completo, fazendo frente à JBS.
Segundo ele, a Marfrig poderá aproveitar as negociações para oferecer mais produtos para o mesmo comprador. “Quando vende à China, é quase exclusivamente bovinos. Se a BRF for adquirida, poderá oferecer também os processados de suínos e frangos, além de vender ao mercado halal que a BRF já acessa tão bem”, acrescentou.
Martins estimou que a aquisição pode ocorrer em até 24 meses, aproveitando que a maior parte da dívida da Marfrig está posicionada para depois de 2026.
O analista Fabiano Vaz, da Nord Research, ponderou que, apesar do recuo das margens da Marfrig nos EUA — reflexo do ciclo pecuário no país — e dos resultados ainda ruins na BRF, pode ser um bom momento para a aquisição. “Quando a gente olha em termos de múltiplos, faz sentido”, disse, em referência à relação entre preço da ação, resultado e dividendos.
A venda de ativos da Marfrig para a Minerva mitiga parte do problema no mercado americano, na visão de Barbara Mattos, analista do setor de proteínas da Guide Investimentos . “Melhorou a liquidez e a capacidade de pagamento de dívidas, que, neste momento, concentram-se em linhas de capital de giro”, disse.
O alto endividamento da Marfrig é o principal ponto de atenção hoje, concorda Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. Mas a venda de plantas para a Minerva e a tendência de queda nos juros podem aliviar um pouco a situação financeira da empresa.
Uma BRF mais barata — a companhia chegou a valer R$ 6 bilhões em março, menor patamar em mais de 10 anos — também gera uma boa oportunidade de compra para a Marfrig. Hoje, a dona da Sadia vale R$ 16,75 bilhões, mas já chegou a valer R$ 62,88 bilhões em agosto de 2015.
“A BRF faz parte do grupo de empresas, assim como varejistas, que o mercado vai esperar uma recuperação se materializar para voltar a ter interesse nas ações. Agora, talvez faça sentido acelerar a compra”, disse Cruz.