Em trabalho conjunto apresentado anualmente, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a FAO acabam de divulgar as Perspectivas Agropecuárias para o decênio 2025-2034. Nesse trabalho, tecem considerações sobre as perspectivas de produção, comércio e consumo das carnes bovina, suína e de frango. E, por diversas vezes, fazem referências específicas à China, um dos principais mercados das carnes brasileiras. A seguir, uma síntese do que dizem FAO e OCDE:
O consumo per capita deve se expandir à razão de 900 gramas ao ano até 2034. Mas isso não deve ocorrer de forma harmônica, mundialmente, pois em países com renda mais elevada os consumidores se mostram mais sensíveis ao bem-estar animal, mostram preocupações ambientais e se preocupam com a saúde. Isso tende a levar, em alguns casos, à estagnação no consumo de carnes.
O impacto ambiental decorrente da produção de carnes deve ser mitigado através do aumento da eficiência na reprodução e de um maior rendimento dos animais em criação. Globalmente, a melhoria dos níveis de rendimento deve proporcionar ganhos de 8%, 27% e 19% no aumento da produção das carnes bovina, suína e de aves, respectivamente.
Com a melhoria na produtividade e uma maior participação das aves na produção de carnes, espera-se que as emissões de gases de efeito estufa aumentem 6%, índice significativamente menor que a expansão de 13% projetada para a produção de carnes nestes próximos 10 anos.
Espera-se que o papel decrescente da China nas importações de carne altere os padrões do comércio global. Até 2034, a participação da China nas importações globais de carne deverá cair de 20% para 16%. Uma menor dependência nas importações de carne suína já levou à redução da produção de carne suína nos principais exportadores. Tendência de queda semelhante é evidente nas importações de aves da China. Assim, as importações globais de carne crescerão apenas 10% em comparação com 37% na década anterior, com risco considerável de queda ainda maior se os países importadores adotarem medidas comerciais mais restritivas.
Os preços reais da carne retornarão à sua tendência de longo prazo. No curto prazo, projeta-se que os preços nominais da carne de ruminantes, em particular os preços da carne bovina, aumentem mais significativamente à medida que os estoques forem repostos, limitando o crescimento da oferta. Em contraste, espera-se que os preços da carne de não ruminantes diminuam devido à expansão da produção e à menor demanda de importação pela China.
Embora se preveja que os custos reais da ração diminuam, outros custos operacionais reais permanecerão altos, desacelerando o crescimento da oferta de carne. No médio prazo, projeta-se que os preços reais da carne cairão, influenciados pela desaceleração da demanda, pela redução dos custos reais da ração e pelas melhorias contínuas na produtividade.
Surtos recentes de doenças animais destacam a necessidade crucial de colaboração em biossegurança na indústria da carne. Surtos de doenças animais continuam a impactar significativamente a atividade, enfatizando a necessidade de biossegurança colaborativa para manter a sustentabilidade do setor. A evolução e a disseminação contínuas de doenças animais, como o vírus da gripe aviária (IAAP), a PSA em curso, o ressurgimento da Febre Aftosa (FA) e a Bicheira-do-Novo Mundo (BZM, na sigla em inglês) geram incertezas no médio prazo.