Introdução
Antibióticos são amplamente utilizados para cuidar da saúde em humanos e animais. Na produção animal industrial, especificamente, são utilizados como aditivos alimentares, na promoção de crescimento, para a melhora nos índices zootécnicos e na prevenção de doenças, principalmente nas fases de maior estresse (1). Para atender à crescente demanda global e produzir proteína animal a baixo custo, a indústria pecuária submete animais a práticas de confinamento muito agressivas, necessitando de antibióticos para mascarar os efeitos negativos desses sistemas (2).
O uso constante e indiscriminado de antibióticos, o que engloba o uso na ausência de prescrição, ou, ainda, uso contra microrganismos não-suscetíveis, favorece a seleção de genes bacterianos resistentes a antibióticos (GRA). O fenômeno da resistência antimicrobiana (RAM) é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como ameaça global à saúde pública. Estudo publicado no final de janeiro atualizou o cálculo global de mortes associadas à resistência antimicrobiana em 1,27 milhões de pessoas ao ano, letalidade que supera as de HIV e malária (3). Bactérias multirresistentes são capazes de suportar o uso dos antibióticos de várias famílias de antibióticos, com diferentes mecanismos de ação, incluindo os de última geração (4).
O desenvolvimento de bactérias multirresistentes não fica só restrito ao ambiente das fazendas. No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) recomenda medidas de mitigação do problema no contexto da criação animal. Mas grandes quantidades de resíduos (ex. urina e fezes) dos animais podem ser espalhadas no solo como fertilizante ou despejadas em canais públicos de água. Podem ainda se infiltrar no terreno e atingir lençóis freáticos, promovendo a disseminação de bactérias multirresistentes (5). As pessoas podem se contaminar, por exemplo, pelo consumo de água, peixes, crustáceos e de produtos agrícolas (6).
Daniel Moreira Pinto Cruz é médico-veterinário pela Universidade Plínio Leite, no Rio de Janeiro, e coordenador de Bem-Estar Animal da Proteção Animal Mundial (World Animal Protection) desde 2015.
Marcelo Beltrão Molento é médico-veterinário pela Universidade de Alfenas, Minas Gerais, e doutor pela Universidade de McGill, no Canadá. Chefe do Laboratório de Parasitologia Clínica Veterinária da Universidade Federal do Paraná.
O artigo completo estará disponível na edição número 03 da revista do SuiSite, março/2022.
BIBLIOGRAFIA:
1. Cromwell GL. Why and how antibiotics are used in swine production. Animal Biotechnol. 2002;13(1):7–27.
2. United Nations Environment Programme and International Livestock Research Institute (2020). Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. Kenya.
3. Murray CJL, Ikuta KS, Sharara F, et al. Global burden of bacterial antimicrobial resistance in 2019: a systematic analysis. Lancet 2022. Available from https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(21)02724-0/fulltext
4. Williams-Nguyen J, Sallach JB, Bartelt-Hunt S, Boxall AB, Durso LM, McLain JE, Singer RS, Snow DD, Zilles JL. J Environ Qual. Antibiotics and Antibiotic Resistance in Agroecosystems: State of the Science. 2016 Mar; 45(2):394-406
5. Christopher D. Heaney, Kevin Myers, Steve Wing, Devon Hall, Dothula Baron, Jill R. Stewart. Source tracking swine fecal waste in surface water proximal to swine concentrated animal feeding operations. Science of the Total Environment, 511. 2015. Pp. 676-683
6. U.S Centers for Disease Control and Prevention, the UK Science & Innovation Network, and the Wellcome Trust. Initiatives for Addressing Antimicrobial Resistance in the Environment: Current Situation and Challenges. 2018.
7. Lekagul A, Tangcharoensathien V, Mills A, Rushton J, Yeung S. How antibiotics are used in pig farming: A mixed-methods study of pig farmers, feed mills and veterinarians in Thailand. BMJ Glob Heal. 2020;5(2):1–12.
8. Robinson TP, Bu DP, Carrique-Mas J, Fèvre EM, Gilbert M, Grace D, et al. Antibiotic resistance is the quintessential One Health issue. Trans R Soc Trop Med Hyg. 2016;110(7):377–80.
9. TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE C. Microbiologia. 10th ed. Porto Alegre: Artmed; 2010.
10. Marcato SM, Lima GJMM de. Efeito da restrição alimentar como redutor do poder poluente dos dejetos de suínos. Rev Bras Zootec. 2005;34(3):855–63.
11. Esteves FA. Fundamentos de Limnologia. 2nd ed. Rio de Janeiro: Interciência; 1998. 602 p.