A família de Fernando Marin, do interior de Cotiporã (RS), na Serra Gaúcha, dedica-se há 20 anos à produção de leite. Em uma área de 56 hectares, os Marin criam 54 vacas, que produzem cerca de 1.500 litros de leite por dia. No entanto, mesmo com duas décadas de atuação no segmento, o produtor está pensando em abandonar as atividades leiteiras. O motivo: a energia elétrica.
“A gente não tem como investir aqui porque a eletricidade é muito fraca. Estou deixando de construir uma nova sala de ordenha por esse motivo”, lamenta Marin.
Segundo o produtor, a rede monofásica que chega à sua propriedade não atende de maneira satisfatória às necessidades da família. Na propriedade, os moradores precisam escolher o que vão manter ligado, já que não dá para manter dois equipamentos funcionando ao mesmo tempo.
“Se eu ligar o tanque que resfria o leite, não posso ter a ordenhadeira ligada, ou o ventilador da estrebaria das vacas. E se qualquer equipamento estiver funcionando, ninguém em casa pode ligar o chuveiro, senão cai tudo”, explica Marin.
Recentemente, conta ele, as quedas da eletricidade queimaram dois motores usados para o tanque de resfriamento de leite, o que exigiu um gasto de R$ 20 mil. “Perdi todo o meu ganho de um mês inteiro”, afirma.
Como a qualidade da energia que chega à propriedade é baixa, o produtor prefere não comprar equipamentos melhores nem investir em infraestrutura para aumentar a produção. “Estou pensando em parar. Meu tio, que mora aqui perto, também já parou de produzir leite por causa desses mesmos problemas”, conta.
As dificuldades que os Marin têm enfrentado se repetem em diversas regiões do país. Embora a grande maioria das zonas rurais brasileiras tenha recebido algum tipo de conexão com a rede elétrica nas últimas décadas, a qualidade da energia que chega a várias dessas áreas deixa a desejar.
Para muitos produtores rurais, a eletricidade fraca é o gargalo que define investimentos, melhorias e lucros em suas propriedades.
A assessora técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Jordana Girardello, lembra que existem vários problemas relacionados à energia no campo, seja pela falta de rede, pela baixa qualidade e recorrentes interrupções da energia entregue, além do custo elevado, que cresceu desproporcionalmente nos últimos cinco anos para o meio rural, quando comparado às tarifas aplicadas no meio urbano.
“Se pararmos para pensar que o produtor de leite precisa da energia para resfriar seu produto até que o laticínio venha recolher, se a energia acaba esse produtor tem prejudicada a qualidade de seu produto, quando não condenado ao descarte”, explica Jordana.
“No caso da piscicultura, que precisa dos aeradores nos tanques de peixe para oxigenar a água, na irrigação que depende da aplicação da água para que a cultura desenvolva, nos aviários para ventilação, na armazenagem para manter o controle de umidade e qualidade do produto e assim em todas as atividades agropecuárias o problema se repete indiscriminadamente”, complementa.
Segundo a CNA, os inúmeros prejuízos gerados e não ressarcidos por parte das distribuidoras ocasionados pelas interrupções e oscilações de energia, somados ao elevado preço da energia, vem colocando centenas de produtores em estado de endividamento e até abandono da atividade.
Outro ponto destacado por Jordana é a questão das oscilações de energia que por muitas vezes queimam equipamentos nas propriedades.
“Muitas vezes, esses equipamentos são de altíssimo valor e exigem um técnico especializado que pode não estar disponível na região. A demora para o reestabelecimento do equipamento com defeito elétrico decorrente do pico de energia pode resultar na morte de sua produção, seja ela animal ou vegetal”, afirma a assessora técnica.
Mais luz
Programas governamentais, como o antigo Luz no Campo e o Luz para Todos, promoveram a quase universalização da energia elétrica nas áreas rurais brasileiras.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, o Luz para Todos contemplou 3,67 milhões de unidades consumidoras, beneficiando 17,32 milhões de pessoas com a extensão de rede convencional nas áreas rurais e a instalação de painéis fotovoltaicos que, em regiões remotas da Amazônia Legal, são abastecidos por bateria.
A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) atesta esse aumento. Segundo a associação, entre 2003 e 2022 (último ano com dados fechados), o número de unidades consumidoras de energia no meio rural brasileiro, que era de 2,5 milhões, passou para 4,4 milhões, o que representou um crescimento de cerca 75% em duas décadas.
De acordo com dados de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o acesso à energia elétrica nas áreas rurais chega a 99% de cobertura, incluindo fontes alternativas, como geradores e energia solar. Nos domicílios rurais, a parcela dos que dispunham de energia elétrica proveniente de rede geral é mais baixo (97,3%), notadamente na Região Norte (85%).
Baixa qualidade
No entanto, o acesso à energia não significa que ela é capaz de levar a melhorias nas propriedades rurais. “Os programas governamentais fizeram o campo ter luz, mas nem sempre tem energia para o produtor usar em seus equipamentos”, explica Marcelo Brandoli, gerente técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater/RS-Ascar). “
Ocorreram avanços, mas precisamos melhorar a qualidade se quisermos desenvolver atividades que demandam muita energia, como irrigação, avicultura, suinocultura e produção de leite”, destaca.
Para Brandoli, o ideal seria intensificar a substituição no campo das redes monofásicas por trifásicas, que permitem o uso de equipamentos que exigem energia com potência maior. “Seria necessário um programa como o Luz para Todos, mas para aumentar a extensão das redes trifásicas”, diz ele. De acordo com a Abradee, a cobertura das redes rurais de energia alcança uma extensão de 2,85 milhões de quilômetros. Desse total, 43% são monofásicas, 10%, bifásicas, e 47%, trifásicas.
O Ministério de Minas e Energia afirma que a criação de uma política pública para fornecimento de energia elétrica com sistemas trifásicos, como a que sugere o gerente técnico da Emater-RS, exigiria estudos mais detalhados sobre os efeitos desse novo programa na tarifa de energia elétrica do consumidor brasileiro.
“De qualquer forma, a proposta de ampliação da capacidade das infraestruturas de rede de distribuição de energia elétrica é um tema que merece atenção. Por essa razão, o MME está avaliando medidas que tornem possível implementar essa iniciativa”, diz o ministério.
Dificuldades das distribuidoras
Marcos Aurélio Madureira, presidente da Abradee, afirma que várias distribuidoras já estão implantando programas de substituição de redes monofásicas por trifásicas. O dirigente lembra, no entanto, que fazer essa troca não é um investimento barato.
“O interior do Brasil tem populações mais esparsas, com uma densidade demográfica muito mais baixa do que as das zonas urbanizadas. Em algumas regiões, essa densidade está caindo ainda mais em virtude do êxodo rural, o que acaba comprometendo a própria viabilidade de abastecimento pelo sistema tradicional de distribuição”, explica ele.
Para Madureira, o grande desafio do setor elétrico brasileiro é atender às necessi dades básicas da população rural e aumentar a capacidade de entrega de energia de acordo com o tipo de atividade que se desenvolve nas fazendas.
A RGE, empresa responsável pela distribuição de energia em Cotiporã, informa que, em 2023, ampliou em 5,46% o alcance das redes trifásicas no município. Em toda a área de atuação da companhia no Rio Grande do Sul, o crescimento dessa rede foi de 4,12%, para 56.785 quilômetros de extensão.
Cristiano Pires, gerente de relacionamento com o poder público da RGE, ressalva, no entanto, que é preciso “desmitificar” a ideia de que a quantidade de fases é sinônimo de mais confiabilidade do sistema. “A distribuição de energia é dimensionada tecnicamente para atender à carga instalada dos consumidores. Se ela só tem cargas baixas, isso justifica a rede ser monofásica”, afirma.
Pires destaca que, quando um consumidor rural precisa de energia com mais potência, ele precisa fazer uma solicitação, em que vai declarar quais equipamentos prevê utilizar e as cargas e potências necessárias.
“Se a carga total não ultrapassar 50 kW, a concessionária atende o consumidor com a conexão trifásica de forma gratuita, conforme a legislação. Quando a carga ultrapassa os 50 kW, que é o delimitador regulatório, nós elaboramos o projeto e o orçamento dessa obra, que terá uma participação financeira do cliente no custo”, explica.
O gerente da RGE afirma que um dos problemas no meio rural é que alguns produtores instalam equipamentos sem comunicar a concessionária. “Isso gera um distúrbio na tensão da nossa rede, o que prejudica os demais clientes daquela região”, diz ele.
Quedas de luz no Paraná
Ter energia trifásica tampouco é garantia de que os produtores não terão problemas. Em Mandirituba, na região metropolitana de Curitiba, Eduardo Araújo cria 42 mil aves em dois aviários, atividade em que é preciso manter o ambiente das aves aclimatado – e isso exige um intenso consumo de energia.
Embora conte com energia trifásica e geradores para garantir o fornecimento, Araújo vem enfrentando uma série de dificuldades nos últimos meses, com oscilações e quedas ocorrendo toda semana. Em fevereiro, as falhas na tensão da rede provocaram a queima de quatro motores e de um controlador. Ele gastou R$ 2.500 para reparar os equipamentos. Em uma das quedas, ficou 12 horas às escuras e teve que recorrer ao gerador.
“Essa situação não só causa problemas financeiros, como gera perda de ambiência para as aves, que não se desenvolvem como deveriam”, diz Araújo. O produtor conta que outros criadores de sua região chegaram a registrar mortes de animais causadas por falta de energia, que impediu a ambientação dos aviários.
Nos últimos meses, a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) recebeu 18 ofícios de sindicatos rurais e núcleos de sindicatos com relatos de problemas decorrentes da baixa qualidade da energia elétrica que agricultores e pecuaristas recebem em suas propriedades. Os apagões têm se imposto como um obstáculo a quem produz, mas seus impactos se refletem também por outros ramos da economia do estado.
“A energia é um importante custo em atividades como avicultura, suinocultura, piscicultura e pecuária leiteira, que são muito fortes no Paraná”, afirma Luiz Eliezer Ferreira, técnico do Departamento Técnico e Econômico da Faep e conselheiro representante da classe rural no Conselho de Consumidores da Copel, a empresa distribuidora de energia do estado.
Segundo Ferreira, nos últimos cinco anos, os produtores rurais do Paraná viram sua conta de luz disparar. De acordo com dados da Faep, o custo da energia elétrica no campo subiu 76,4% no período, quando a tarifa residencial teve reajuste de 45,51% – em ambos os casos, os aumentos foram superiores ao da inflação oficial, medida pelo IPCA. Com o fim de subsídios, a tarifa rural equiparou-se à urbana. No campo, entretanto, os serviços têm gargalos estruturais.
“Em 2021, por exemplo, os clientes rurais paranaenses ficaram, em média, 30 horas sem energia, enquanto na cidade o tempo médio foi de sete horas. O produtor até pode usar geradores para compensar a queda do fornecimento, mas esses equipamentos são projetados para funcionar por, no máximo, 13 horas”, afirma.
A Copel informou a Faep que, no ano passado, o Paraná enfrentou 24 temporais de grandes proporções, que provocaram danos graves à rede elétrica. Além de aumentar o número de interrupções no fornecimento de energia, esses eventos interferem no cronograma de manutenção preventiva.
“Trata-se do maior número de temporais que o Estado registrou em um ano. A ação das intempéries provocou a quebra de 5.637 postes da rede da Copel no ano passado. A instalação dos novos postes no lugar dos avariados equivale à quantidade de estruturas necessárias para construir uma rede nova de cerca de 320 quilômetros de extensão”, diz a Copel, em nota.
A companhia também afirma ter destinado R$ 1,8 bilhão a obras de ampliação e reforço na distribuição de energia do Paraná em 2023. Para este ano, projeta investir mais R$ 2,1 bilhões em obras de melhoria do sistema elétrico.
Dificuldades em Pernambuco
O vitivinicultor Jorge Roberto Garziera, também ex-prefeito de Lagoa Grande (PE), lida frequentemente com a falta de energia. Pelo menos uma vez por semana ele fica sem luz por alguns minutos.
Neste ano, o pior incidente ocorreu no dia 3 de janeiro, quando a Vinícola Terroir do São Francisco, em Lagoa Grande, no sertão do Rio São Francisco, ficou sem energia por 12 horas – e isso ocorreu um dia depois de já ter faltado energia por quase dez horas. Em novembro de 2023, a vinícola chegou a ficar quase 24 horas sem energia.
“Nossa maior chateação é no período de dezembro a março. Mesmo com um mínimo de chuva, a energia cai, e depois ela leva horas para voltar”, conta Garziera. A falta de eletricidade prejudica a produção de suco, espumantes e frisantes, produtos que precisam se manter refrigerados sob temperaturas específicas, para que a fermentação das bebidas não se acelere. “Teve suco que fermentou por falta de frio”, diz Garziera.
Cada uma das autoclaves que a vinícola usa para a produção das bebidas tem capacidade para 30 mil litros. A Terroir do São Francisco produz cerca de 20 milhões de litros de vinhos, sucos, espumantes e frisantes por ano, período em que a vinícola processa, em média, entre 23 mil e 24 mil toneladas de uvas.
Parte desse volume a companhia produz em sua fazenda, de 200 hectares, localizada em Lagoa Grande, que é toda irrigada. O consumo de energia no complexo, o que inclui o consumo para irrigação, o bombeamento de água dos reservatórios e a área industrial, gira em torno de 500 kVA (quilovolt-ampere), ou 260 KWh (quilowatt-hora).
“Procuramos a Neoenergia, e eles nos visitaram. Eles buscam atender, mas existem questões estruturais que demandam investimentos grandes, e esses problemas não vão se resolver da noite para o dia”, afirma o produtor.
Garziera também menciona a oscilação na potência que chega à fazenda como um dos problemas. “Essas oscilações causam a queima dos motores”, disse. Ele calcula uma perda anual de R$ 500 mil com troca de motores e paradas na área industrial.
Em Santa Maria da Boa Vista (PE), o produtor e presidente da Valexport,José Gualberto de Almeida, construiu uma linha de distribuição de 8 quilômetros, com cinco subestações, para atender aos pontos de consumo da Fazenda Milano. A propriedade de 1.584 hectares tem produção irrigada de manga, uvas e culturas de ciclo curto, como tomate, melancia e melão.
“Resolvemos fazer um ramal próprio para enfrentar as dificuldades de suprimento de energia. Achamos esse caminho mais seguro para nosso empreendimento. Mas isso é raro por aqui. No setor rural, quando a energia acaba, ela demora a voltar”, relata Almeida.
A Fazenda Milano conta com três geradores para poder fazer frente a possíveis falhas de energia. Almeida acrescenta que a falta de linha de transmissão com potência suficiente para atender os produtores do sertão do São Francisco está limitando o uso da energia solar.
“Se eu fizer geração solar, não consigo colocar essa energia no sistema de distribuição porque as linhas de transmissão estão tomadas”, observa ele.
O presidente da Valexport diz ainda que problemas como descontinuidade no fornecimento, oscilação de potência e demora nos reparos em caso de queda de energia são comuns entre os produtores da região do sertão do São Francisco.
Procurada pela Globo Rural, a Neoenergia afirmou que tem intensificado a expansão e a modernização das redes de distribuição em toda sua área de concessão.
“O plano de investimentos prevê, sobretudo, a melhoria da qualidade e da confiabilidade do fornecimento de energia em áreas rurais, com a finalidade de atender à produção agrícola, além de atrair negócios e se antecipar à instalação de novos empreendimentos. A empresa faz regularmente o mapeamento de ocorrências e coloca em prática ações de manutenções para inibir e se prevenir contra novas interrupções”, informou a companhia, em nota.
No caso da Terroir do São Francisco, a Neoenergia acrescentou que o fornecimento sofreu com os impactos, no fim do ano passado, de “severas adversidades climáticas, que provocaram instabilidade no serviço”. A empresa disse ter intensificado um plano de manutenção na localidade, que começou em dezembro de 2023, e que, depois disso, não houve registro de novas ocorrências.
Irrigação limitada na Bahia
No município de Barra (BA), que fica próximo do encontro entre os rios Grande e São Francisco, a empresa portuguesa Euroeste Bahia Agronegócio mantém 6.000 cabeças de gado e cultivos de caju, milho e capim irrigado em 6.200 hectares. Desse total, cerca de 500 hectares são irrigados com sete pivôs centrais.
O ideal para a fazenda seria ter 12 pivôs centrais, mas a empresa não faz a instalação por falta de energia disponível na região, diz José Coimeiro, sócio e vice-presidente da Agroeste. “Nossa atividade sempre esteve limitada à quantidade de energia disponível, considerando que em Barra só é possível desenvolver agricultura irrigada”, afirma o executivo português. Segundo Coimeiro, a fazenda contrata hoje uma potência de 800 quilowatts, mas precisaria do dobro disso.
A principal atividade da Euroeste é a engorda de gado par a venda do animal vivo para grandes frigoríficos. “Se quiséssemos montar um frigorífico, seria mais complicado”, afirma Coimeiro. Além de a infraestrutura limitar a expansão da companhia, o executivo diz que é comum faltar energia na região no período de chuvas, provocando estragos nos equipamentos.
A Neoenergia Coelba informou que amplia a rede de distribuição todos os anos para poder aumentar a oferta de energia no município de Barra. A empresa informou ainda que concluiu, em 2023, a construção de um novo circuito elétrico e que já fez o planejamento de obras estruturantes, incluindo a construção de uma nova subestação na cidade.
Instabilidade em Minas Gerais
Em Minas Gerais, muitas das reclamações de produtores rurais estão relacionadas à instabilidade da energia distribuída e à falta de instalações trifásicas, mais apropriadas para grandes consumidores de energia, como as agroindústrias.
“As indústrias sofrem muito com a oscilação de energia no fornecimento, principalmente a chamada indústria 4.0, que tem equipamentos mais sensíveis”, diz Aline Neves Rodrigues, analista de mercado de energia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Em Araguari, na região do Triângulo Mineiro, por exemplo, as falhas de energia são recorrentes. “A qualidade da energia é muito ruim. Era para ela chegar a 220 volts nas fazendas, mas chega a 180 volts. Com isso, o motor do pivô não consegue irrigar a lavoura. Na época da colheita, de maio a setembro, a gente precisa do secador funcionando, da máquina de beneficiamento. A maioria dos produtores acaba usando máquinas a diesel”, diz Cláudio Morales Garcia, presidente da Associação dos Cafeicultores de Araguari.
Ele diz que na região os produtores não conseguem ampliar a área irrigada por falta de infraestrutura de energia. “Já nos reunimos com a Cemig, mas a empresa fala que precisa instalar uma subestação”, afirma Garcia.
O quadro é parecido em outras culturas em Araguari, diz Malk Mauad, presidente do Sindicato Rural da cidade. “Falta energia quase todos os dias, principalmente no início da manhã. Isso atrapalha principalmente os produtores de leite. Já tivemos também casos de granjas de frango e porco que perderam animais por falta de ventilação nos galpões causada pela falta de energia”, relata Mauad, sem citar números.
Marney Antunes, vice-presidente de distribuição da Cemig, diz que existe uma demanda reprimida muito grande na área rural. “Muitos consumidores consomem diesel para irrigação. Nós temos 303 mil quilômetros na zona rural de redes monofásicas e 100 mil quilômetros de redes trifásicas”, observa.
Em 2023, a Cemig deu início a um projeto de construção de 200 subestações de energia, ampliando em 50% o número desse tipo de instalação no estado, o que vai permitir a interligação das redes trifásicas.
Ao mesmo tempo, a empresa iniciou a implantação das redes trifásicas, tendo chegado a 4.600 quilômetro de linhas em 2023. “Para 2024, temos programados 5.000 quilômetros”, afirma Antunes. Os programas de instalação de subestações e redes trifásicas somam investimentos de R$ 8,5 bilhões.
Antunes acrescenta que todas as regiões do estado começarão a ser contempladas neste ano. “A expectativa é fazer 30 mil quilômetros de redes trifásicas até o fim de 2027”, diz ele.