Sob constante pressão de importadores e investidores internacionais em razão de impactos negativos de algumas cadeias produtivas sobre o meio ambiente, o agronegócio brasileiro também pode ser considerado um exemplo quando se trata de práticas agrícolas regenerativas e do uso de insumos biológicos nas lavouras. Pesquisa recém-concluída pela L.E.K. Consulting aponta que, nessas e em outras iniciativas sustentáveis, o Brasil está bem à frente dos Estados Unidos, concorrente de peso nas exportações de grãos e carnes, por exemplo.
Após ouvir 450 produtores rurais nos dois países em maio e junho, a consultoria – fundada em Londres, mas hoje com sede em Boston -, apontou que, impulsionado por rotação de culturas e plantio direto, o nível de utilização de práticas regenerativas dos brasileiros é 17% superior ao dos americanos. No Brasil, 237 produtores participaram do estudo, a maior parte da região Sul (39%).
No universo pesquisado, mais de 50% têm propriedades com áreas de cultivo de mais de 500 hectares, e 72% se dedicam à produção de grãos como soja e milho. “A agricultura de precisão e o uso de insumos biológicos são cada vez mais uma realidade entre os brasileiros, mudando completamente as práticas de gestão, o uso de insumos e os ganhos de produtividade nas diferentes lavouras. O impacto desse avanço será transformador”, afirma Eric Emiliano, diretor da L.E.K. Consulting e líder da consultoria para a prática de Agronegócio na América do Sul.
A L.E.K. constatou que a agricultura de precisão já é uma realidade no Brasil, com difusão impulsionada por boa parte das mais de 350 agtechs em atividade no país – 35% com foco em soluções de análise de dados e de precisão voltada para o setor. Segundo a consultoria, o nível de adoção de produtos biológicos para nutrição e proteção de cultivos no Brasil é 12% maior do que nos EUA (vale destacar, no entanto, que os biopesticidas em geral representam apenas de 2% a 3% do total, amplamente dominado por químicos).
A pesquisa também confirmou o que outras fontes têm apontado: embora as práticas sustentáveis venham se consolidando no campo, apenas 5% dos brasileiros entrevistados aproveitam os créditos de carbono que poderiam ser gerados, índice bem inferior ao dos EUA, de 26%. A L.E.K. projeta, contudo, que, até 2024, o percentual no Brasil poderá chegar a 40%.
“Com vantagens competitivas representadas pelas atuais práticas agrícolas, o país tem potencial para ser carbono negativo”, diz o estudo da consultoria. “O mercado de crédito de carbono também será transformacional. Mais de 50% dos agricultores acreditam que esse mercado irá ditar a agricultura já nos próximos dois anos”, completa Emiliano.
O trabalho da L.E.K. realça ainda, por fim, que o uso de energia gerada dentro de fazendas ainda é maior nos EUA, mas que a energia solar vem ganhando espaço nas propriedades rurais brasileiras.