A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, concluiu sua oferta subsequente de ações (“follow-on”), com a injeção de capital total de R$ 5,4 bilhões, marcando a entrada de recursos do fundo árabe Salic e manutenção de posição da Marfrig, do empresário Marcos Molina. Conforme pré-acordado pela companhia, a ação foi precificada em R$ 9.
O CEO da BRF, Miguel Gularte, destacou a forte participação da base de acionistas. Em entrevista à Globo Rural, ele afirmou que “60% das ações foram para oferta primária, o que demonstra a confiança da nossa base no futuro da companhia”. Além do lote principal, foi vendido o lote adicional (“hot issue”), visto que houve demanda do mercado.
A expectativa da empresa era ofertar 500 milhões de ações, com a possibilidade de lançamento de ações adicionais. “Isso foi exercido, o que levou a oferta para 600 milhões de ações e o preço foi R$ 9. Essa foi a conta para chegar nos R$ 5,4 bilhões”, detalhou o diretor financeiro da BRF, Fabio Mariano.
Juntos, Marfrig e Salic investiram aproximadamente R$ 3,4 bilhões na oferta. A venda a mercado correspondeu a cerca de R$ 500 milhões.
O fundo árabe decidiu aportar o mínimo estabelecido no acordo, adquirindo aproximadamente 10% do negócio, quando poderia ter atingido até 16%. Já a Marfrig, que muitos achavam que elevaria sua posição para até 38,7% em busca do controle da BRF, optou por manter sua participação em cerca de um terço, com 33,27%.
Para seguir com o follow-on, a BRF teve que aprovar em assembleia de acionistas a dispensa de realização de uma oferta pública de aquisição (OPA), já que a participação da Marfrig poderia ultrapassar o limite imposto na “poison pill”, de 33,33%.
Reequilíbrio
A injeção de capital ajudará a empresa a equalizar seu balanço, que há anos está alavancado, com o uso dos recursos para amortização de dívidas e, em consequência, redução de juros.
No primeiro trimestre deste ano, a dívida líquida da BRF encerrou em R$ 15,29 bilhões. Com isso, a alavancagem — indicador que mede a razão entre a dívida e o Ebitda ajustado — foi de 3,35 vezes, considerada alta.
Com a elevada taxa de juros, o custo da dívida vinha pressionando os resultados, o que empurrou a companhia a buscar alternativas para levantar capital.
No ano passado, a BRF chegou a colocar R$ 5,4 bilhões no caixa por meio de uma oferta subsequente, já feita com o objetivo de reduzir sua alavancagem.
Há meses a empresa vem buscando outras alternativas para levantar capital. Neste ano, por exemplo, o Santander foi contratado pela BRF para vender a divisão de pet, avaliada em R$ 2 bilhões. A empresa também busca fundos para vender precatórios e ativos judiciais, segundo fontes ouvidas pelo Valor.
Redução de alavancagem
O diretor financeiro calcula que o aporte obtido com a oferta pode reduzir a alavancagem da empresa em 1,3 vez. Em uma análise pro-forma, o indicador ficaria em duas vezes no primeiro trimestre. “E também acelera o ritmo de geração de caixa da companhia, porque tem todo o juro que será evitado. A gente pretende fazer uso o quanto antes desse recurso”, afirmou.
Já Gularte reforçou que o aporte não muda o plano estratégico da empresa e os recursos não serão usados para investimento, pois não seria necessário. “A BRF tem um plano muito bom, nas mãos de uma equipe muito boa”, disse ele. A companhia já havia programado o investimento de cerca R$ 3 bilhões nas operações este ano, plano que está mantido, de acordo com o CEO.
“A distribuição de capex está bem equilibrada, temos capacidade instalada para atender a demanda”, disse Gularte.
Foco no negócio principal
O CEO defendeu ainda o plano de ficar no negócio principal, que é a produção de carne de frango e suína. “Somos uma empresa ajustada, focada no básico e usando eficiência operacional. Isso evita erros, como perseguir tendências que depois não se mostram sólidas”, afirmou.
Foram coordenadores da oferta da BRF as instituições financeiras J.P. Morgan, Bradesco BBI, BTG Pactual, Citi, Itaú BBA, Safra, UBS BB, além da XP.