Na granja do suinocultor Losivanio Luiz de Lorenzi, em Orleans (SC), o clima das últimas semanas acendeu um alerta. O produtor independente conta com 320 matrizes – fêmeas de porcos utilizadas para a reprodução, na fase de gestação de suínos. Com temperaturas entre 28º C a 38º C, somadas às chuvas, o mormaço predomina na região.
“Se não controlarmos bem a temperatura ambiente pode gerar estresse por calor nas fêmeas e desandar uma diarréia nos leitões, gerando perda de peso e até a morte dos animais”, ressalta Losivanio.
As ondas de calor têm afetado o setor da agropecuária e, além das lavouras, os plantéis têm exigido cuidados especiais. No caso dos suínos, a preocupação está relacionada ao estresse térmico, uma vez que eles aplicam a energia corporal em mecanismos para termorregular o organismo, causando queda na taxa de natalidade e outros problemas que impactam a produtividade. Assim, o calor representa um desafio para criadores.
Para manter a climatização de galpões das granjas, a preconização aos suinocultores é o investimento na instalação de sistemas que garantam a temperatura ideal para os animais.
Mas, segundo Ricardo Marozzin, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Equipamentos para Aves e Suínos (Anfeas), o índice de granjas de suínos climatizadas no Brasil é de pouco mais de um terço.
“Nosso intuito é incentivar a transição tecnológica na suinocultura de precisão, tentando demonstrar ao setor a importância de trabalhar no âmbito da climatização, em função da característica dos animais”, comenta. E completa: “o setor avança a passos muito rápidos, mas ainda está se deixando na mesa uma perda econômica”.
Consumo de água e energia
Nas propriedades, para amenizar a temperatura e deixar o ambiente mais adequado ao plantel, suinocultores que ainda não implantaram o sistema de climatização com galpões em pressão negativa – o mais avançado atualmente – utilizam opções de resfriamento com alta pressão ou até mesmo com ventiladores. Independentemente da opção, o consumo de água e de energia – recursos necessários para o funcionamento dos equipamentos – pode aumentar entre 10% a 40% nos períodos de clima mais quente, segundo produtores ouvidos pela Globo Rural.
No caso de Losivanio, a opção adotada para amenizar a temperatura no espaço são os pulverizadores de água com alta pressão e exaustores. O suinocultor conta que a granja da propriedade é antiga, com uma parte nova construída em 2007. Ele acredita que no período mais crítico de calor – normalmente entre novembro a março – o consumo de energia no local aumenta entre 10% a 15%. Quanto à água, ele diz ser difícil precisar, mas também há um crescimento no consumo.
Já o suinocultor Rodrigo Bisolo, que possui duas granjas em Seara (SC) totalizando 5.400 matrizes – o maior produtor do município, integrado à JBS -, conta com galpões de pressão negativa desde 2013. Rodrigo considera que o consumo de água cresce em torno de 40% nos dias mais quentes. “Não adianta ter tudo climatizado se não cuidar do fornecimento de água e energia”, adverte.
Para manter o funcionamento do sistema, a propriedade conta com geradores de emergência e capta 90% da água utilizada na climatização de cisternas instaladas no local. Quanto ao gasto com energia, ele acredita que se mantenha o mesmo, uma vez que no inverno é necessário usar o recurso para o sistema de aquecimento.
O suinocultor lembra que, antes de ter a granja climatizada com o modelo de pressão negativa, perdeu muitos porcos devido aos efeitos do calor. “Optamos por instalar o sistema em todos os barracões porque, a cada verão, era um sofrimento para os animais”, conta.
Rodrigo chegou a passar as tardes, junto com a esposa, jogando água com mangueira, na granja, para tentar baixar a temperatura dos suínos.
“Vimos muitos deles morrerem. Desde 2013 não perdemos um animal por causa da temperatura”, completa.
Climatização
Ricardo Marozzin, da Anfeas, reforça que os suínos possuem a termorregulação metabólica limitada para a perda de calor – “é um animal com carência de dissipação térmica” – e que exige atenção ainda maior nos setores reprodutivos, em especial nas áreas de gestação e maternidade.
Entre as consequências que o calor pode trazer para essa fase da cadeia produtiva está a baixa ingestão alimentar, com risco de aborto espontâneo e queda na produção de leite das fêmeas lactantes, o que tem reflexos diretos na produtividade. Além disso, a fêmea pode ficar bastante debilitada, o que afetará o desempenho reprodutivo do plantel.
“Quanto menor o número de leitões desmamados por fêmea no ano, menor a eficiência produtiva e maiores os impactos econômicos”, reforça.
Já na fase de engorda, Marozzin comenta que o setor não coloca tanta ênfase na climatização, mas que também se verifica dificuldade de ingestão alimentar nessa etapa, fazendo com que os animais não ganhem o peso diário preconizado, deixando de otimizar todo o seu potencial genético, nutricional e produtivo.
“O espaço climatizado propicia um ambiente de termoneutralidade, adequado ao bem-estar”, enfatiza. E acrescenta que para cada uma das fases há critérios indicados para o sistema de pressão negativa, como taxa de renovação e velocidade do ar: “as premissas precisam ser bem observadas, com equilíbrio da dimensão das instalações e do sistema de climatização. Não se deve espelhar a suinocultura na avicultura nessa questão, pois as necessidades dos animais e de cada fase fisiológica é diferente”.
Marozzin orienta para que o suinocultor busque informações com profissionais e empresas especializadas para o desenvolvimento de um projeto de climatização visando a potencialização dos ganhos.
Custos
Os custos para implantação de um sistema de climatização varia de acordo com a fase do ciclo de vida dos animais: maternidade, gestação, creche ou terminação. Segundo o presidente da Anfeas, nas fases de gestão e maternidade, consideradas as mais críticas, o investimento fica em torno de R$ 350 por fêmea alojada.
Marozzin destaca que o investimento compensa, uma vez que o suinocultor pode ter “perdas gigantescas” sem um sistema de climatização eficiente. O executivo destaca que o processo vai ao encontro de ações de sustentabilidade e de economia circular nas propriedades, que têm apostado na geração de energia renovável e de biogás, assim como em estratégias de reuso da água.
“Sem falar no quesito relacionado ao bem-estar animal, que hoje significa mais competitividade ao setor, que enfrenta o mercado internacional, uma vez que a suinocultura vem ganhando espaço na agenda exportadora”, avalia o executivo. Ele ressalta que a associação promove e defende constantemente um debate a respeito da importância do crédito agrícola para a tecnificação das propriedades rurais do setor.