Chapecó (SC) está sediando o 17º Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS), um dos eventos mais relevantes da cadeia suinícola nacional e promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet).
Por que ainda temos tanta dificuldade em recrutar e reter talentos? O que fazer para tornar a atividade mais atrativa? Esta foi a abertura do Painel Gestão de Pessoas, com Alexandre Weimer, Eduardo Basso, Erno Menzel e Andrei Dietrich no segundo dia de evento, quarta-feira (13).
Na sequência, o Painel sobre hiperprolificidade no SBSS 2025 reuniu especialistas para debater avanços genéticos e desafios no campo.
O evento trouxe uma programação técnica, com destaque para o Painel de Genética intitulado “Hiperprolificidade: como a genética está trabalhando para que o potencial genético aconteça no campo”.
O painel reuniu quatro grandes nomes da suinocultura nacional e internacional: Amanda Pimenta Siqueira, Marcos Lopes, Geraldo Shukuri e Thomas Bierhals, profissionais com sólida experiência no melhoramento genético e na gestão técnica de grandes sistemas produtivos.
No centro da discussão esteve a hiperprolificidade, conceito que define a capacidade da fêmea suína em parir leitegadas numerosas, com mais leitões nascidos vivos e viáveis a ponto de serem desmamados.
Para a médica veterinária, Doutora em Ciência Animal com ênfase em Reprodução de Suínos, Amanda Pimenta Siqueira, essa evolução é fruto direto do avanço genético. “O que observamos hoje no campo é resultado de anos de seleção criteriosa para aumento da taxa de ovulação, eficiência reprodutiva e menor perda embrionária”, explica a especialista, que lidera o departamento de Serviços Técnicos e Validação de Produtos da Agroceres PIC.
Amanda destacou que há 10 anos uma matriz gerava, em média, 13 a 14 leitões por parto. Atualmente, esse número pode ultrapassar os 17 ou 18, com médias de 35 a 36 leitões desmamados por fêmea ao ano em granjas de alta performance. “Isso representa não só um ganho produtivo, mas também uma diluição significativa de custos e maior aproveitamento genético das matrizes”, reforça. Uma fêmea hiperprolífica precisa de estrutura física — como bom número de tetos, capacidade materna, suporte técnico (manejo) e suporte nutricional — para garantir a viabilidade e o bom desenvolvimento dos leitões.
O diretor técnico da Topigs Norsvin no Brasil e pesquisador no Centro de Pesquisa da empresa na Holanda, Marcos Lopes, levou à mesa-redonda sua experiência em genética e genômica aplicada. Com doutorado pela Universidade de Wageningen (Holanda), Marcos tem focado sua carreira no desenvolvimento de ferramentas genéticas que traduzam, no campo, em eficiência zootécnica e previsibilidade produtiva.
Outro importante nome no debate foi o de Geraldo Shukuri, diretor técnico da DanBred Brasil, com ampla trajetória em empresas do setor no Brasil e no exterior. Para fechar o grupo, o médico veterinário, diretor técnico da DNA South America, Thomas Bierhals, contribuiu com experiência prática de mais de 15 anos em projetos de melhoramento genético na América Latina. Mestre em Reprodução Suína, Thomas ressalta a importância de conectar genética com gestão, afinal, a tecnologia genética está avançada, mas é preciso garantir que ela seja corretamente aplicada no campo. Isso exige capacitação constante dos técnicos e atenção aos detalhes do sistema.
Apesar dos avanços genéticos, os especialistas alertaram para fatores extrínsecos que podem comprometer os resultados. Oportunidades na área de ambiência, nutrição e na qualidade da água, ou manejo incorreto na maternidade, são entraves que impedem que o potencial genético se traduza em eficiência produtiva. “A genética fornece o potencial, mas é o sistema que determina se ele será plenamente aproveitado ou subutilizado”, resumiu Amanda Siqueira.
Entre as estratégias adotadas pelas empresas de genética está o aumento do número de tetos nas fêmeas, a seleção para maior peso ao nascimento (melhorando a viabilidade) e a redução da necessidade de mães de leite, o que melhora o giro da maternidade e reduz os custos por leitão produzido.
O painel sobre hiperprolificidade no SBSS 2025 foi um espaço estratégico para entender como os avanços genéticos atualmente moldam uma nova suinocultura: mais eficiente, mais sustentável e mais conectada com as necessidades do campo. Os debates técnicos proporcionaram uma visão clara dos desafios e das soluções em torno da reprodução suína de alta performance.
Para produtores, técnicos, pesquisadores e estudantes, o evento é uma oportunidade única de atualização e troca de experiências com alguns dos maiores nomes da suinocultura. A presença de especialistas com vivência nacional e internacional garante um panorama abrangente, com foco em resultados práticos e estratégicos para o futuro da atividade.
Depois foi a vez do tema “Influência Nutricional na resposta e desenvolvimento imune dos suínos”, com Alex Hintz. Ele construiu uma trajetória que passa pelo dia a dia das granjas e pelos avanços tecnológicos do setor. Formado em Ciência Animal pela Universidade de Minnesota e doutor em Medicina Veterinária pela Universidade de Wisconsin, iniciou a carreira como médico veterinário em uma clínica especializada em suínos nos Estados Unidos. Nesse período, trabalhava com produtores independentes e adquiriu uma visão abrangente sobre os desafios enfrentados em diferentes sistemas de produção.
Ele apresentou como minerais e enzimas tornam-se aliados da imunidade dos rebanhos. Com uma carreira que une experiência de campo e pesquisa aplicada, Hintz trouxe ao público uma visão prática sobre como a dieta pode se tornar uma aliada poderosa na saúde e no desempenho dos rebanhos.
Para Hintz, investir na dieta dos suínos vai muito além de buscar melhores índices produtivos. “É estratégia para fortalecer o sistema imunológico dos animais e reduzir a necessidade do uso de antimicrobianos, alinhando-se às exigências de bem-estar e sustentabilidade da suinocultura moderna. Apresentei exemplos práticos e reflexões sobre como pequenos ajustes nutricionais podem gerar grandes impactos na saúde dos rebanhos”, pontuou.
Em um cenário de transformações constantes na produção animal, a palestra de Alex Hintz chegou em um momento oportuno. Ao compartilhar sua experiência do campo e desenvolvimento de soluções técnicas, o especialista convidou os participantes a repensar o papel da nutrição como ferramenta essencial para preparar os suínos frente aos desafios sanitários e produtivos. “Foi uma oportunidade para produtores, técnicos e profissionais do setor ampliarem seus horizontes e levarem para a prática conhecimentos que podem transformar resultados”, afirmou.
Dando continuidade, o tema trazido por Leandro Hackenharr foi “A vida após o banimento de Óxido de Zinco. O que podemos aprender com a experiência europeia?”.
Leandro Hackenhaar é engenheiro agrônomo com mestrado em Nutrição Animal pela Esalq/USP. Tem experiência em nutrição, pesquisa e qualidade de rações para suínos. Atualmente, atua como líder técnico global na Cargill, onde contribui para o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis para a nutrição de leitões ao redor do mundo. Além disso, dedica-se ao fortalecimento técnico e científico do setor como diretor no Colégio Brasileiro de Nutrição Animal.
Hackenhar destacou na palestra que o óxido de zinco (ZnO) é bastante utilizado na suinocultura por seu efeito antibacteriano e anti-inflamatório. Entre seus principais usos estão a prevenção da diarreia no pós-desmame com aprimoramento da integridade intestinal e na melhora do desempenho zootécnico da conversão alimentar. “Contudo, esse composto inorgânico, formado pela reação entre zinco (Zn) e oxigênio (O), em doses elevadas, não é absorvido totalmente pelo organismo, o que pode resultar em acúmulo no solo e contaminação ambiental. Fato esse que levou a União Europeia a proibir o uso terapêutico do ZnO, em 2022, e substituí-lo por probióticos, prebióticos, óleos essenciais e ácidos orgânicos”, apontou.
Hackenhaar explicou que, desde quando a União Europeia proibiu o uso terapêutico do Óxido de Zinco (ZnO) na alimentação de leitões, a suinocultura precisou se reinventar. “O ZnO era aquele ‘coringa’ que todos confiavam, pois ajudava a controlar diarreias e garantir bons ganhos de peso no pós-desmame, era barato, eficiente e funcionava bem, principalmente em granjas com desafios sanitários. Mas, por questões ambientais e pelo risco de resistência a antibióticos, precisou sair de cena. E, desta maneira os produtores europeus precisaram repensar tudo, do manejo à nutrição”, afirmou.
Como na Europa a utilização de antibióticos também é controlada, segundo Hackenhaar, o caminho foi investir na prevenção. “A base de tudo é seguir o bom e velho manual de manejo com atenção redobrada. Isso inclui garantir que os leitões comam adequadamente antes do desmame, manter o ambiente limpo e aquecido, evitar misturar animais de diferentes origens e oferecer uma ração de qualidade”, ressaltou. Para o especialista, a nutrição virou uma aliada estratégica, porém o manejo continua como o alicerce.
As alternativas de substituição do ZnO, ou seja, os aditivos como óleos essenciais, prebióticos e ácidos orgânicos “têm seu valor, mas não fazem milagre sozinhos”, destacou o engenheiro agrônomo. De acordo com ele, o segredo está na combinação de estratégias. Como exemplos, cita ajustar proteína, incluir fibras funcionais e cuidar da saúde intestinal como prioridade. “Cada país europeu está em um estágio diferente nessa jornada, assim como os produtores. Contudo, os resultados mostram que é possível produzir bem sem o ZnO, muitas granjas até melhoraram seus índices zootécnicos e econômicos”, enfatizou.
Por fim, Hackenhaar mostrou que os resultados positivos são possíveis graças ao planejamento, ao ajuste da dieta e à priorização a saúde dos animais. “A experiência europeia prova que é possível produzir de forma eficiente sem o Óxido de Zinco e com menos medicamentos, porém é necessário investir em tecnologia e gestão”, enalteceu.
E, na sequência, a busca pelo equilíbrio na suinocultura esteve em destaque no SBSS. Avaliação de risco, parametrização nas etapas do processo produtivo, transformação de dados em informação e investimentos estratégicos. Esses são alguns dos pontos-chaves que o médico veterinário e Luiz Felipe Caron abordou em sua palestra no 17º Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS).
“Em busca do equilíbrio sanitário: como desenvolver e avaliar ferramentas para a obtenção de uma imunidade robusta de plantel: custo imunológico e impacto ao longo da cadeia de produção” foi o tema apresentado por Caron. A palestra fez parte do Painel Imunidade. O médico veterinário destacou que conteúdo foi embasado nos conceitos de avaliação de risco.
Caron defendeu que é fundamental parametrizar os tipos de risco em toda a cadeia produtiva, a partir da implementação de checklists sanitários e coletas de dados específicas para construir os resultados relacionados ao risco de introdução, manutenção e disseminação de doenças. “Trata-se de avaliar como implantar ferramentas para obtenção de dados e como transformá-los em informação útil, que possa auxiliar na gestão do risco”, explicou.
Para ele também é importante ponderar o efeito do investimento em pessoas, processos e produtos, de maneira que tudo culmine no mesmo objetivo de garantir sanidade e desempenho. O equilíbrio ideal é maximizar a imunidade do plantel sem comprometer o desempenho produtivo, ao buscar soluções sustentáveis e integradas com foco na prevenção.
E para fechar o segundo dia do Simpósio Brasil Sul de Suinocultura, o tema foi “Preparando o leitão para os desafios sanitários: microbiota, biorremediação, treinamento do sistema imune, o que realmente faz sentido?”, com Álvaro Menin. Ele é formado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), mestre em Ciência Animal e doutor em Biotecnologia e Biociências pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Menin é também pós-doutor em Medicina Veterinária Preventiva. Desde 2015, atua como professor adjunto na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde ministra disciplinas como Doenças Infecciosas, Microbiologia Veterinária e Medicina de Suínos, além de coordenar o Laboratório de Doenças Infecciosas dos Animais.
No ambiente acadêmico, lidera projetos voltados para controle e a erradicação de enfermidades infecciosas, modulação da resposta imune e desenvolvimento de biomarcadores aplicados à saúde animal que permitem diagnósticos mais rápidos e precisos, ajudam os produtores a tomar decisões assertivas sobre protocolos sanitários e de manejo.
Fora da universidade, como pesquisador-chefe e sócio/fundador do Vertá Laboratórios, Menin atua no desenvolvimento de soluções que aproximam ciência e campo. Sua experiência prática o credencia a falar com propriedade sobre os desafios diários das granjas e as oportunidades que surgem com a integração de tecnologia e conhecimento.
No Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS), ele mostrou como microbiota, biorremediação e estratégias podem tornar os primeiros dias do leitão a chave para suinocultura saudável e eficiente. “Em um setor no qual o sucesso produtivo começa nos primeiros dias de vida dos animais, entender como o organismo do leitão se prepara para enfrentar o ambiente externo deixou de ser um diferencial e passou a ser uma necessidade estratégica. Com uma análise crítica e fundamentada sobre quais estratégias têm respaldo científico e quais ainda precisam de estudos mais robustos para serem aplicadas nas granjas, abordamos no ventre da imunidade, como desenvolvermos leitões mais fortes para o amanhã”, disse.
Na palestra, Menin abordou o papel da microbiota intestinal no desenvolvimento da imunidade. “A colonização precoce do trato gastrointestinal influencia diretamente a capacidade do leitão de responder as infecções e de metabolizar nutrientes com eficiência”, disse.
Segundo ele, estratégias como o uso racional de probióticos e prebióticos ganham espaço no debate, mas Menin alertou sobre a necessidade de separar evidências científicas sólidas de modismos comerciais. “É fundamental entender até que ponto as intervenções na microbiota realmente se traduzem em saúde e desempenho melhores no campo”, destacou.
Outro ponto central da palestra foi a biorremediação, técnica que visa reduzir a carga de agentes patogênicos no ambiente, condições favoráveis para o desenvolvimento dos leitões. “Embora os conceitos sejam promissores, reforcei a importância de uma abordagem integrada que combine medidas ambientais, nutricionais e sanitária”, disse.
No treinamento do sistema imune, o pesquisador explorou como as práticas de manejo, vacinas e exposição controlada a antígenos podem preparar os leitões para reagir de forma mais eficaz aos desafios sanitários. “O sistema imunológico é como um músculo: precisa ser estimulado de maneira correta para alcançar sua plena capacidade de resposta”, ressaltou Menin.
Ao longo de sua carreira, Menin participou de estudos que mostraram o impacto de protocolos vacinais precoces no ganho de peso e na redução de doenças respiratórias em leitões. Em outra pesquisa, sua equipe avaliou como ajustes na dieta inicial, com aditivos funcionais, alteraram a resposta inflamatória e a integridade da barreira intestinal. Esses trabalhos ajudaram a estabelecer parâmetros para programas de saúde mais eficazes em diferentes sistemas produtivos.
No SBSS, Álvaro Menin compartilhou uma visão crítica, clara e prática sobre o que pode ser aplicado imediatamente nas granjas para preparar leitões mais resilientes. “Foi uma oportunidade única para produtores, técnicos e profissionais da cadeia suinícola compreenderem como o trabalho no nível microbiológico pode se refletir em resultados zootécnicos concretos”, pontuou. “Participar do SBSS é uma chance de trocar experiências com especialistas, conhecer novas tecnologias e ampliar a visão sobre os desafios e soluções que impactam a suinocultura moderna. Em tempos de transformações aceleradas, estar presente significa investir no futuro da produção, com ferramentas e informações que podem fazer diferença no dia a dia das granjas”, finalizou.