A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) prevê para 2023 um ano de desafios, tanto no ambiente interno quanto no cenário externo, em que poderá haverá uma margem de lucro menor para o setor agropecuário com redução de receita para o produtor rural e alta dos custos de produção na atividade.
Estas e outras previsões foram anunciadas, nesta quarta (7), pela CNA, durante a entrevista coletiva de fim de ano para apresentar o balanço da atividade agropecuária em 2022 e as perspectivas para 2023, com a participação do presidente da CNA, João Martins, do diretor técnico, Bruno Lucchi, e da diretora de Relações Internacionais, Sueme Mori.
Do lado doméstico, incertezas sobre o controle das despesas públicas e a condução da política fiscal devem impactar os custos do setor agropecuário, sobretudo em questões tributárias. A taxa Selic deve se manter elevada no próximo ano, acarretando mais custo para o crédito para consumo, custeio e investimento. E o crédito privado deve se consolidar como alternativa para o produtor financiar sua produção nas próximas safras.
Na esfera internacional, as previsões de desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) mundial podem influenciar o comportamento das exportações brasileiras do agro no próximo ano. Também há estimativas de queda de crescimento econômico de alguns dos principais parceiros comerciais do Brasil, como China, Estados Unidos e União Europeia. E o cenário externo seguirá volátil com a incerteza na disponibilidade global de grãos e de insumos causados principalmente pela guerra da Rússia na Ucrânia.
PIB – Uma das estimativas da CNA para o próximo ano é de um cenário que varia de estabilidade a um crescimento de até 2,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio em relação a 2022 devido aos elevados custos de produção, que devem permanecer no próximo ano, e da tendência de queda nos preços internacionais das commodities agrícolas.
Entretanto, mesmo com a projeção de alta menor do PIB, o resultado sinaliza uma recuperação se comparado com o PIB do agronegócio deste ano, que deverá fechar em queda de 4,1%, depois de registrar recordes em 2020 e 2021, reflexo da forte alta dos custos com insumos no setor, especialmente pela elevação dos preços dos defensivos e fertilizantes, que superaram os 100% de alta neste ano.
VBP – Para o Valor Bruto da Produção, que mede o faturamento da atividade agropecuária (dentro da porteira), a tendência para o próximo ano é de um crescimento de 1,1% em relação a 2022, mostrando um ritmo menor de expansão, puxado pelo comportamento da pecuária, que deve ter uma receita 2,3% menor em 2023 em relação a este ano.
Safra – A estimativa para a safra de grãos 2022/2023 é de um aumento de 15,5% (ou 42 milhões de toneladas a mais) em relação à safra 2021/2022, atingindo 313 milhões de toneladas. Esse crescimento é reflexo da elevação na área plantada, estimado em 76,8 milhões de hectares na atual safra, principalmente da soja, que pode chegar a 43,2 milhões de hectares, superando em 4% o ciclo anterior. A oleaginosa também deve recuperar a produtividade, favorecida pelas condições climáticas, em 17% na comparação com a safra passada e a produção deve totalizar 153,5 milhões de toneladas.
Comércio exterior – O ano de 2023 deve ser desafiador, mas com boas perspectivas para que o Brasil continue aumentando a sua participação no comércio agrícola internacional e cumprindo a sua vocação de ser um grande fornecedor de alimentos para o Brasil e para o mundo, contribuindo para a segurança alimentar global.
Na avaliação da CNA, a expectativa é de que o comércio internacional de bens deve desacelerar. A Organização Mundial de Comércio (OMC) prevê um aumento de apenas 1% no volume transacionado, bem abaixo dos 3,4% esperados para este ano.
Neste contexto, o comércio agrícola deve seguir a mesma linha, crescendo a níveis menores do que em anos anteriores em razão do crescimento mais lento das importações da China, a retomada econômica mundial em função da pandemia Covid e o conflito entre Rússia e Ucrânia e seus impactos (aumento preço insumos, crise energética, redução oferta grãos – são os principais fatores).
Por outro lado, a previsão é de que haja aumento das importações mundiais dos principais produtos exportados pelo Brasil, embora a taxas inferiores às registradas nos anos anteriores. O consumo mundial de soja deve aumentar 1% em 2023, concentrado nos países em desenvolvimento, que devem responder por 74% desse consumo no ano que vem.
A CNA vai seguir atuando para defender os interesses do produtor rural para evitar a imposição de barreiras comerciais injustificadas e a taxação das exportações, além de seguir com ações de promoção do agro brasileiro. Desta forma, a entidade realizará novas edições do AgroBrazil, em 2023, levando representantes diplomáticos estrangeiros para conhecer a realidade do setor, além de intensificar o processo de internacionalização de pequenos e médios produtores rurais, por meio do projeto Agro.BR .
Sobre os mercados, a CNA seguirá trabalhando para ampliar a abertura de novos produtos para países como a China (principal destino das exportações do agro), e para a expansão dos registros de estabelecimentos exportadores, especialmente de carnes. Há também a expectativa de concluir o processo de abertura para farelo de soja, além de aumentar as vendas de milho e amendoim.
A CNA também espera o avanço de acordos comerciais e vai monitorar e subsidiar o governo para evitar prejuízos aos produtores rurais brasileiros na questão das diligências devidas, com atenção especial para os mercados dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia.
Balanço – Este ano foi marcado, entre outros fatores, por uma forte alta dos custos com insumos no setor agropecuário, principalmente pela elevação dos preços de defensivos e fertilizantes. Esta será a principal razão para uma queda do PIB do agronegócio em 2022, que deve fechar em 4,11%. Também contribuíram para pressionar o PIB para baixo as reduções de produção em atividades importantes, como soja e cana-de-açúcar.
Já o Valor Bruto da Produção (VBP) deve alcançar R$ 1,3 trilhão em 2022, crescimento de 2,2% em relação à 2021. No ramo agrícola, a receita deve subir 3,3% em relação a 2021, alcançando R$ 909,3 bilhões. Na pecuária, a previsão para este ano é de estabilidade, com aumento 0,1%, alcançando R$ 448,5 bilhões. As principais cadeias que mais influenciam no VBP são a soja, a carne bovina e o milho, que, somados, representam 58,4% do total.
No comércio exterior, de janeiro a novembro deste ano, as exportações brasileiras de produtos agropecuários totalizam US$ 148,3 bilhões, superando em 23,1% o total vendido em todo o ano de 2021, de US$ 120,5 bilhões. Nos 11 primeiros meses de 2022, o agro respondeu por 48% das vendas externas totais do Brasil.
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