“Foi um ano de enormes desafios.” Foi assim que o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, resumiu o balanço de 2023 para o agro gaúcho, em evento realizado na sede da entidade, em Porto Alegre, nesta terça-feira (19/12).
Na ocasião, o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, alertou para as ameaças ao agro gaúcho e nacional em 2024. “Em 2023, devemos ter um crescimento do PIB puxado pelo agro. Nossa produção [do Rio Grande do Sul] de grãos deve aumentar 8,1%. Parece que está bem, mas não está, pois é uma comparação de um ano ruim com um ano péssimo”, disse, referindo-se aos resultados de 2022 e de 2023.
Da Luz classificou como “o maior problema do agro no momento” a defasagem de preços dos produtos, exemplificando com a soja, cujo valor caiu 26% em um período de três meses a partir do início da colheita em 2023.
Da Luz distribuiu em três pontos os riscos que podem atingir os produtores em 2024. O primeiro deles seria uma eventual recessão global. “Não sabemos se vai ter, mas não podemos negar a possibilidade disso ocorrer”.
O impacto incluiria uma forte queda no preço das commodities, redução significativa na demanda por algodão e carnes, aumento do custo do dinheiro e escassez de crédito e tendência de redução do preço do petróleo.
As outras duas ameaças seriam a elevação dos juros e uma eventual quebra do setor imobiliário chinês. Com a alta dos juros, ocorreria uma escassez de recursos, a dificuldade de manter a trajetória de queda da taxa Selic e menor crescimento econômico. No caso de uma crise imobiliária na China, haveria uma queda significativa na demanda por commodities. A orientação geral do economista para se prevenir diante de tais ameaças é o corte de custos, o fortalecimento da liquidez e a máxima preservação do caixa.
Ao examinar os aspectos no plano nacional, o presidente do Sistema Farsul destacou o tema que causa maior apreensão ao agronegócio gaúcho e nacional. “Temos uma profunda preocupação. O campo não funciona com insegurança jurídica”, afirmou, listando a seguir as pressões enfrentadas pelo setor no campo ambiental, os conflitos decorrentes de invasões de terras e os embates com públicos como quilombolas e indígenas. “Discutimos qualquer coisa. Mais seca ou menos seca, maior preço ou menor preço, mas nosso calcanhar de Aquiles é a insegurança jurídica sobre o direito de propriedade.”
Insegurança jurídica
O coordenador da Comissão de Assuntos Jurídicos da Farsul, Nestor Hein, destacou os principais debates em andamento no país sobre a propriedade fundiária, em especial em relação ao marco temporal para a demarcação das terras indígenas.
“Chegamos neste ano à maior degradação da possibilidade de defesa da propriedade do produtor rural”, resumiu Hein. “O marco temporal, que vige há 35 anos, afirma que os direitos indígenas estão ligados às terras que ocupam. O STF [Supremo Tribunal Federal] destruiu esse entendimento.”