Os desajustes entre oferta e demanda globais por carnes que ocorreram na retomada da atividade econômica após a pandemia apertaram os resultados da JBS ao longo de 2022, especialmente no quarto trimestre, com a mudança no ciclo da pecuária nos Estados Unidos. Como resultado, a companhia dos Batista encerrou o ano com lucro líquido de R$ 15,5 bilhões, montante 24,5% menor do que o registrado no excepcional ano de 2021. Apesar da queda, ainda foi um resultado bem melhor do que o dos anos de 2019 e 2020.
Mesmo com uma demanda por carnes que patina em diversos mercados por causa do processo inflacionário global, a companhia não deixou de crescer. No ano, a receita líquida da JBS aumentou 6,9%, para R$ 374,9 bilhões, passando à frente da Petrobras. O que ficou mais evidente foi o aperto de margens: o lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização (Ebitda) ajustado de 2022 retraiu 24,3% e ficou em R$ 34,6 bilhões. A margem Ebitda foi a menor em quatro anos, de 9,2%, com retração nas margens principalmente do negócio de bovinos nos Estados Unidos.
O aperto geral foi maior no quarto trimestre, quando até o faturamento sofreu um recuo, a despeito das expectativas positivas que se esperavam com a demanda do período da Copa do Mundo e do Natal. A receita de outubro a dezembro caiu 4,5% na comparação anual, para R$ 93 bilhões, enquanto o lucro do período retraiu 63,7%, para R$ 2,3 bilhões, e o Ebitda ajustado cedeu 24,3%, a R$ 4,6 bilhões.
Globalmente, os números demonstram que houve um aumento da oferta para atender o consumo do período da pandemia, e que agora está descasada, com uma demanda mais fraca. “Isso fez cair os preços e comprimir as margens. E ainda tem a pressão de custos que continua existindo”, afirmou Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, ao Valor. “Este cenário que vimos no 4° trimestre continua”, sinalizou.
Com 49% de sua receita oriunda das vendas no mercado americano, a JBS sentiu mais fortemente a mudança do ciclo da pecuária no país, onde o abate de matrizes vem crescendo, sinalizando uma redução da oferta de animais. O Ebitda da operação de bovinos na América do Norte no ano caiu mais da metade em relação a 2021 (a R$ 10,7 bilhões), sendo que no 4° trimestre o Ebitda não passou de R$ 1 bilhão, despencando mais de 85%.
No Brasil, a Seara ainda encerrou 2022 com resultados melhores, mas os últimos três meses do ano sentiram o peso da queda dos preços de frango para o mercado externo. Enquanto no ano o Ebitda da Seara cresceu 19,3%, para R$ 4,6 bilhões, no trimestre o Ebitda caiu 38%, a R$ 703,9 milhões. “O grande desafio do resultado da Seara foi nas exportações. Havia uma oferta grande nos mercados para onde a Seara exportava e teve queda de preços”, explicou o executivo. No Brasil, também houve pressão sobre os preços do frango no fim do ano, com o avanço do alojamento no período e aumento de oferta, mas os resultados em processados não foram afetados, acrescentou.
Apesar das margens menores do que em 2021, a companhia manteve firme em sua política de alocação de capital a remuneração de acionistas e os investimentos em crescimento. Aos acionistas, foram pagos de forma adiantada R$ 4,4 bilhões em dividendos e R$ 2,8 bilhões em recompras de ações, totalizando R$ 7,2 bilhões em remuneração. Comparado ao ano anterior, a remuneração aos acionistas mudou pouco, mesmo diante de um lucro menor, o que resultou em um dividend yeld de 9,1%, acima inclusive dos 8,2% de 2021.
Na alocação para crescimento, a JBS assegurou R$ 13 bilhões entre aquisições e principalmente em projetos greenfield – abaixo dos R$ 20 bilhões do ano anterior. Entre os projetos novos estão a fábrica de especialidades de charcutaria italiana nos Estados Unidos, a fábrica de empanados da Seara e uma fábrica de salsichas também da companhia brasileira. “Isso quer dizer que [estes projetos] começam agora a gerar receita e retorno do investimento”, ressaltou Tomazoni.
A JBS também se preparou para as turbulências no mercado financeiro, que começam a se confirmar neste ano. A companhia intensificou suas emissões no mercado de capitais de US$ 10 bilhões, tanto no mercado americano como no brasileiro, com cupons fixos, escapando das atuais taxas elevadas de juros no mundo todo.
Desta forma, embora a dívida líquida tenha aumentado 14%, para R$ 79 bilhões, o prazo médio de amortização está em 9,9 anos, e o custo médio em 5,7% ao ano. O custo médio da dívida em dólar, que representa 87,8% do endividamento total, é de 4,66% ao ano. “Esse gerenciamento de passivos nos deixou em posição bem confortável para atravessar o momento desafiador”, afirmou Guilherme Cavalcanti, diretor financeiro da JBS.