A suinocultura é um setor de grande relevância para o agro paulista e nacional, ocupando posição de destaque em rankings de produção e exportação. Em grande parte, isso se deve aos avanços tecnológicos obtidos por meio da pesquisa científica. Em homenagem ao Dia do Suinocultor, comemorado em 24 de julho, conheça algumas iniciativas realizadas pelos Institutos de Pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, para contribuir com o trabalho do produtor de suínos.
Pesquisas em sanidade animal no combate a vírus
As doenças infecciosas, principalmente as de origem viral, são uma preocupação para o suinocultor e constituem um fator limitante ao pleno desenvolvimento do setor, gerando perdas econômicas às granjas. Ajudar a manter os plantéis saudáveis é o objetivo de pesquisas realizadas pelo Instituto Biológico (IB-APTA).
De acordo com a pesquisadora do IB, Márcia Catroxo, entre as principais enfermidades suínas estão a circovirose, a gastroenterite transmissível e a rotavirose. A primeira, uma patologia emergente causada pelo circovírus suíno tipo 2 (PCV 2), leva a diversas síndromes cujos quadros variam entre lesões na pele e rins em leitões de engorda; abortamento e falhas reprodutivas em matrizes; ou perda de peso, diarreia, problemas respiratórios, febre, incoordenação e alta mortalidade em leitões de creche e engorda.
A gastroenterite transmissível (TGEV) produz diarreia aguda e vômitos em leitões com menos de duas semanas de idade, intensa desidratação e alta mortalidade em 2-3 dias. Em animais de creche e engorda, a transmissão é rápida afetando quase todos os animais e, embora a mortalidade seja baixa, gera atraso no abate. Por fim, a rotavirose, causada pelo rotavírus do tipo A, afeta leitões lactentes e nas primeiras semanas pós-desmame, causando diarreia, perda das vilosidades intestinais, abdômen afundado e olhos fundos, podendo ocorrer mortalidade quando associada à presença de certas bactérias. A transmissão ocorre pela rota oral-fecal com rápida disseminação entre os animais.
“Não existe tratamento específico para estas doenças e os criadores devem ser orientados sobre as condições de higiene nos galpões, temperaturas e uso de botas e roupas contaminadas, normas de biosseguridade nas granjas, vacinação dos animais quando disponível e a realização de diagnóstico precoce”, aponta Márcia. Conforme afirma, os trabalhos realizados no Instituto buscam desenvolver e implementar técnicas de microscopia eletrônica de transmissão de preparo rápido e imuno-específicas que possam ser aplicadas de imediato às amostras de fezes ou de fragmentos de órgãos dos suínos. “Visamos fornecer resultados ágeis, confiáveis e seguros para que medidas profiláticas e de controle das doenças possam ser tomadas imediatamente, evitando perdas animais com consequentes prejuízos aos criadores, colaborando, assim, com o agronegócio suinícola nacional”, conclui a pesquisadora.
Suinocultura, potencial fonte de energia com tecnologia IZ e JLTec
Preservar a natureza e ainda ser remunerado por isso, gerando energia! É o que todo o produtor deseja para sua propriedade. Com os avanços nas pesquisas e estudos aprofundados na suinocultura, os pesquisadores do Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), conseguiram chegar a números muito expressivos sobre o desperdício dos produtos que decorrem do processo de criação de suínos. Esses desperdícios, quando invertidos, passam de passivo ambiental para ativo financeiro.
A tecnologia de tratamento de efluentes cria alternativas de geração de renda, como o biogás que pode ser utilizado como fonte de energia em uma propriedade, biocombustível para veículos, utilizado em unidade de processamento de produtos cárneos para defumados, atendendo corretamente as normas de produção. “É justamente essa a grande necessidade dos tempos atuais, equacionar a preservação do meio ambiente, transformando em rendimentos ao produtor e maior sustentabilidade ambiental”, explica a pesquisadora do IZ, Simone Raymundo de Oliveira. É a suinocultura como produtora de proteína animal, água, energia e biofertilizantes.
O consumo de energia e combustíveis contribui nos altos custos produtivos, acarretando menor rentabilidade, pois são itens que sofrem constantes aumentos de preço, interferindo significativamente no custo de produção. Sendo assim, por que não passar de consumidor para produtor de energia, uma vez que efluentes com alto teor de matéria orgânica tem alto potencial para emissão de metano, como é o caso dos dejetos dos suínos?
O objetivo da equipe é fazer uma releitura da atividade econômica suinícola, agregando conceitos inovadores, visando obter maior lucro por meio de aprimoramento do sistema como um todo. “Além de ser o único combustível com potencial de se tornar ativo energético e, consequentemente, financeiro, originário de passivos ambientais, com pegada de carbono negativa em seu ciclo de vida, é o biogás”, destaca Simone.
São inúmeras as vantagens para a produção e uso do biometano. O Programa RenovaBio do Ministério das Minas e Energia tem como objetivo a expansão da produção de biocombustíveis no Brasil, baseada na previsibilidade, na sustentabilidade ambiental, econômica e social, compatível com o crescimento do mercado.
Simone destaca que as propostas das instituições presentes na reunião de construção do Renovabio [biocombustíveis, biogás e biometano] resultaram num documento que serviu de base para o Programa, “no qual o biogás/biometano é considerado com destaque”.
“O Programa apresenta elevado potencial de redução das emissões dos gases de efeito estufa, portanto, um importante contribuinte para o alcance das metas brasileiras firmadas na COP 21 de Paris e ratificados na COP 22 em Marraquesch”, ressalta Simone. Além dessa importante vantagem ambiental, há uma série de outras características positivas, ou externalidades, que fazem este energético altamente estratégico e competitivo.
Embora tenha havido o crescimento, estamos muito aquém do nosso potencial de produção de biogás. Em 2018, a ABIOGAS calculou o potencial brasileiro para a produção de biogás em 84,6 bilhões de Nm³/ano, considerando apenas os setores sucroenergético, agroindustrial e de saneamento. Contudo, em 2019 o Brasil produziu somente 1,5% do potencial.
Produção de biogás
Um suíno em terminação [dos 23 aos 110 kg de peso vivo] produzindo sete litros por dia de dejetos e uma matriz como unidade de cálculo no ciclo completo (UCC) (1 matriz +10 suínos para abate), com o volume médio de dejetos bruto gerados de 150 litros por dia em função do grau de desperdício de água, temos como resultado que uma matriz (UCC) produzirá, em média, 54,75 m³ de dejetos em um ano. Um suíno na fase de crescimento/terminação produzirá em média 0,60 m³ de dejeto por período. Contudo, para a produção de metano/biogás, consideraremos que o processo de terminação é contínuo, ou seja, existem animais na fase de crescimento/terminação nos 365 dias de um ano. Segundo Simone, se adotarmos somente o número de cabeças abatidas em 2019 (IBGE, 2020), a recuperação financeira com a comercialização do GLP seria de R﹩ 2,707 bilhões no Brasil e R﹩ 157,774 milhões no Estado de São Paulo.
A transformação do passivo ambiental efluente bruto, para uma matriz como unidade no ciclo completo (UCC) em um ano e um suíno na fase de crescimento/terminação em um ano, no ativo financeiro biogás comercializado como GLP é de R﹩ 5.250,94 e R﹩ 244,55 respectivamente, sendo que uma matriz no ciclo completo produz 2,235 m³ biogás (60% metano) por dia e um suíno dos 63 aos 150 dias gera 0,104 m³ biogás (60% metano) por dia.
A produção de botijões de gás (GLP P-13) por uma matriz (UCC) por ano seria equivalente a 55 botijões e um suíno durante o período (crescimento/terminação) em um ano produziria três botijões. Uma família de quatro pessoas gasta em média um botijão (P-13) a cada 45 dias, a produção anual de uma única matriz no ciclo completo (UCC) supriria esta família por seis anos e 10 meses com gás de cozinha e a produção de GLP de um único terminado abasteceria a família por quatro meses e 15 dias.
Portanto, se as matrizes alojadas nas microrregiões paulistas de Rio Claro, Limeira, Piracicaba, Mogi Mirim, Campinas, Amparo, Sorocaba e Bragança Paulista produzissem GLP, atenderiam a população de uma cidade metropolitana como Campinas por um ano, com margem de segurança de 12 dias. Mais, se todas as matrizes alojadas em São Paulo no ano de 2018 produzissem GLP, abasteceriam a população de Campinas do ano de 2019, por 4 anos e meio (54 meses). ”Sendo assim, são inegáveis as vantagens socioeconômicas e ambientais ligadas ao processo de produção do biogás/biometano como ferramenta para contribuição efetiva de sustentabilidade dos sistemas produtivos de proteína animal. Com o correto tratamento dos efluentes e geração dos coprodutos, o passivo ambiental será uma fonte geradora contínua de input de dinheiro no sistema sobre o que antes eram perdas”, destaca Simone.
Sobre Suíno Pata verde IZ – tecnologia IZ e JLTec
O Sistema Flotub JLTec – IZ está inserido no Programa “Suíno Pata Verde IZ” que agrega tecnologia inédita e inovadora à suinocultura paulista. O sistema reduz o impacto da atividade no meio ambiente, transformando o passivo ambiental em ativo financeiro aos produtores. O IZ tem pesquisas avançadas e de precisão direcionadas à eficiência alimentar dos suínos, para diminuir o custo de produção de forma direta e indireta de forma viável a pequenos, médios e grandes produtores. Os trabalhos científicos estão direcionados para Produção de Proteína Animal Integrada (PPAI), que visa à produção de carne, água de reuso, energia e biofertilizantes.
O projeto, financiado pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro) e patrocinado pelos Comitês PCJ, tem como principal parceiro a empresa JL Tecnologia Ambiental, apresenta como diferenciais o menor custo de implantação, a utilização de equipamentos nacionais desenvolvidos em indústrias paulistas e, principalmente, a geração de coprodutos – biogás, composto orgânico, biofertilizante (lodo) e água de reuso.
As pesquisas da equipe do programa “Suíno Pata Verde IZ” formada por Simone Raymundo de Oliveira, Fábio Prudêncio de Campos e Ricardo Lopes Dias da Costa (IZ/APTA/SAA), Marcia Nalesso Costa Harder (FATEC-PIRACICABA), Júlio César de Carvalho Balieiro (FMVZ/USP), Valter Arthur (CENA/USP), João Luciano R. da Silva (JLTEC) e Luciana Bueno (CNS), buscam desenvolver trabalhos de investigação científica, transformando algo considerado como dejeto em lucro para o produtor.
O Sistema desenvolvido pelo Instituto de Zootecnia, em parceria com a empresa JL Tecnologia Ambiental (JLTec), do zootecnista João Luciano da Silva, foi instalado na Granja Paraíso, propriedade da empresa Agronegócios Picolini, situada em Cordeirópolis (SP).
Na propriedade há um protótipo de sistema de tratamento de efluentes de suínos e valoração dos coprodutos – água de reuso, sólidos para compostagem e lodo flotado -, gerados no tratamento de 16 mil litros de efluentes por hora de 200 matrizes suínas.
A propriedade conta com um sistema de tratamento de efluentes de suínos e aproveitamento dos dejetos para a produção de crisântemos e café, além de reaproveitamento de água de chuva. Trata-se de um exemplo de produção sustentável.