Na temporada mais recente de balanços do agro, referente ao primeiro trimestre na safra de cana e ao segundo trimestre nos demais segmentos, saltou aos olhos a onipresença de resultados operacionais no azul. Entre as empresas com lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) positivo, as de diversificação mais acentuada, seja nos locais em que atuam ou nos tipos de produtos, contornaram melhor as adversidades do período, de acordo com analistas ouvidos pela Globo Rural.
Entre abril e junho, fizeram parte do cenário geral do agro a queda dos preços das commodities, a quebra na produção de grãos no Brasil e a alta do dólar — este, um fator que aumentou o endividamento das empresas, mas também suas receitas de exportação.
Segundo levantamento do Valor Data, das 25 empresas agropecuárias que divulgaram resultados financeiros, 22 tiveram Ebitda positivo. O indicador ficou no vermelho em apenas três casos, AgroGalaxy, Heringer e Vittia, todas companhias do segmento de insumos.
O Ebitda de 14 empresas do agro cresceu, e oito registraram queda. O AgroGalaxy foi a única em que a piora do Ebitda se intensificou. Nos casos de Vittia e Heringer, o resultado operacional melhorou, embora siga negativo.
Os desempenhos mais expressivos foram os de BRF, em que o Ebitda ajustado cresceu 160% no segundo trimestre de 2024, para R$ 2,6 bilhões, e JBS, que subiu 121%, para R$ 9,9 bilhões.
“O destaque desse trimestre foi o segmento de frigoríficos. Essas empresas tiveram ganhos na oferta de grãos, [que foi] muito alta, e também se beneficiaram com o câmbio”, disse Marcelo Nantes, chefe de renda variável da gestora ASA Investments. Os grãos, como o milho, compõem a ração animal, e, na visão do executivo, o dólar valorizado ajudou a impulsionar a receita das exportações.
Frigoríficos
No caso específico da JBS, Nantes destacou que a empresa, com atuação global, tem diversificação tanto geográfica quanto de proteínas. “Sabemos que o ciclo do gado dos Estados Unidos está bastante desfavorável, porque o rebanho americano vem caindo nos últimos anos. Porém, a JBS se beneficiou muito da diversificação. A performance (da operação) de boi nos EUA foi compensada por resultados excepcionais em outras operações e geografias”, explicou.
A JBS encerrou o segundo trimestre com lucro líquido de R$ 1,7 bilhão. O desempenho contrasta com o de um ano antes, quando a companhia teve prejuízo de R$ 263,6 milhões.
O estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, ressaltou que a diversificação de mercados foi essencial para os frigoríficos. “Estamos ainda em processo de abertura de mercados. O Egito se abriu para fazer importações do Brasil, a Austrália também conseguiu algumas liberações, o que destrava novos clientes. É uma forma de se defender de um cenário econômico mais adverso em algum país, criando mais estabilidade nas projeções”, disse.
A BRF é um exemplo claro disso. A empresa obteve 32 novas habilitações de importadores no segundo trimestre deste ano e já soma quase 60 desde o início de 2024, o que ampliou sua capacidade de acessar novos mercados, segundo Fábio Mariano, vice-presidente de finanças e relações com investidores da companhia.
Miguel Gularte, o principal executivo da empresa, falou sobre o assunto no mês passado, em coletiva sobre os resultados do segundo trimestre. “Quando você escolhe onde vai vender, não precisa fazer renúncia de preço”, afirmou.
Para Rodrigo Brolo, analista da área de agronegócios da Criteria Investimentos, as exportações recorde de carne bovina decorrentes da desvalorização do real “sem dúvida alguma” deram um grande impulso aos balanços. Com o impulso à receita desse e de outros fatores, a BRF teve seu melhor segundo trimestre da história, com lucro de pouco mais de R$ 1 bilhão. Em igual período de 2023, a companhia teve prejuízo de R$ 1,3 bilhão.