Juros altos reduzem acesso ao crédito e ameaçam operações. Orientações práticas ajudam produtores a renegociar dívidas, cortar custos e diversificar fontes de financiamento.
A taxa Selic em 15% ao ano, confirmada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, tem reduzido o acesso ao crédito e aumentado os custos de financiamento no Brasil. O impacto é mais severo no agronegócio, setor que responde por 23,2% do PIB nacional em 2024, segundo levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Cepea/USP.
Segundo o Boletim do Crédito Rural e do Proagro do Banco Central, o volume de crédito concedido entre julho e agosto de 2025 totalizou R$ 86,4 bilhões, queda de 31% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram contratados R$ 124,7 bilhões. O cenário reforça a dificuldade de produtores e indústrias ligadas ao campo em sustentar operações diante do encarecimento do crédito.
Para Marcos Pelozato, advogado, contador e especialista em reestruturação empresarial, a escalada dos juros expõe a fragilidade financeira de muitas empresas do setor. “Com a Selic em 15%, o crédito se torna excessivamente oneroso para produtores que dependem de financiamento. É fundamental agir de forma preventiva: renegociar prazos com credores, revisar contratos e adotar controles rígidos sobre despesas operacionais”.
O especialista destaca que pequenas e médias propriedades são as mais impactadas, já que grandes grupos conseguem acessar alternativas no mercado de capitais. “A lei brasileira permite reestruturar dívidas antes do colapso. Quanto antes o empresário rural buscar apoio técnico, maiores as chances de preservar a atividade e evitar medidas mais drásticas, como a recuperação judicial”.
A retração do crédito já tem efeito direto sobre a compra de insumos, maquinário e sobre a produtividade, podendo comprometer cadeias inteiras ligadas ao setor. Para Pelozato, o momento exige maior preparo técnico e planejamento: “O agronegócio é estratégico para o país. Preservar sua sustentabilidade financeira não é apenas uma questão de gestão empresarial, mas de segurança econômica nacional”.
De acordo com a experiência do advogado, há medidas práticas para proteger o caixa em cenário de Selic a 15%:
- Renegocie prazos de dívidas: antecipe conversas com bancos e credores para alongar vencimentos e reduzir pressão imediata sobre o caixa.
- Revise contratos de financiamento: busque ajustes em cláusulas de indexação e prazos, evitando surpresas com oscilações de juros.
- Controle despesas operacionais: estabeleça indicadores de custo por hectare ou por cabeça de gado para monitorar eficiência e cortar excessos.
- Diversifique fontes de crédito: avalie alternativas no mercado de capitais, como CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), para reduzir a dependência bancária.
- Aja preventivamente: não espere o colapso para procurar apoio jurídico e contábil; quanto antes a empresa se reorganizar, maiores as chances de evitar a recuperação judicial.
Na análise do especialista, o cenário deve continuar desafiador nos próximos meses. “A Selic só deve recuar em 2026, mantendo o crédito caro até lá. A inadimplência tende a aumentar se não houver renegociações estruturadas, mas o agronegócio deve seguir crescendo acima da média do PIB. Quem se preparar agora terá mais fôlego para atravessar esse ciclo e aproveitar a retomada futura com juros mais baixos”, conclui.