Ontem (9) ao divulgar seu segundo Food Outlook de 2023, a FAO apresentou novos indicadores da produção de carnes no corrente exercício e mostrou que não errou muito em relação ao que havia projetado no primeiro semestre deste ano. Ou seja: pela primeira vez na história a produção mundial de carnes deve ultrapassar os 365 milhões de toneladas, volume a mais que representa diferença de menos de meio por cento em relação ao previsto no primeiro Food Outlook do ano (363,9 milhões de toneladas).
Tal incremento – revela a FAO – é reflexo, principalmente, da expansão da produção de carne suína na China. Uma expansão – esclarece o órgão – que não foi programada, pois decorre apenas do aumento dos abates por parte de pequenos produtores envoltos com altos custos e baixos preços. Quer dizer: estão abandonando a atividade, o que significa que no curto e médio prazo os preços devem voltar a se estabilizar.
A China, porém, não está sozinha no aumento da produção mundial de carnes. A expansão no volume é observada também na América do Sul – especialmente no Brasil, devido aos menores custos – e, ainda, na Oceania, onde aumentou a oferta de animais prontos para o abate.
De toda forma, o índice de aumento da produção previsto para 2023 não chega a 1%, pois o incremento de um lado tende a ser neutralizado do outro – na Europa, América do Norte e África.
Na Europa, e sobretudo nos países membros da União Europeia, o problema são as doenças animais, o que tem levado a uma queda contínua dos rebanhos. Na América do Norte, as questões estão relacionadas aos custos (relativamente elevados) e ao baixo retorno financeiro devido à queda de preços. Na África, por fim, os óbices são as secas (quebra na safra de matérias-primas, baixa disponibilidade de forragens) e, naturalmente, as habituais disputas (étnicas, econômicas, políticas), geradoras de conflitos que impedem a normal evolução da produção animal.
O que não deve apresentar expansão em 2023 é o comércio global de carnes: tende, como ocorreu em 2022, a permanecer na faixa dos 41 milhões de toneladas, apresentando retração anual de quase 1%. Ou acima de 1,5% em relação ao que havia sido previsto pela FAO em meados deste ano (42,1 milhões de toneladas).
A queda prevista está relacionada à redução das importações e atinge todos os continentes. Vem sendo determinada pelo esgotamento do consumidor, envolto em uma inflação crescente, crescimento econômico lento e generalizada desvalorização cambial.
Em relação às exportações, são esperados embarques maiores da parte do Brasil e da Austrália, ambos favorecidos pela ausência de doenças animais. Nos demais exportadores as doenças continuam a pesar sobre o comércio, a despeito dos esforços para conter as quedas das exportações através de acordos comerciais e da implementação de políticas de regionalização das doenças animais.
Quanto aos preços internacionais, a FAO apenas menciona que vêm apresentando tendência de queda desde julho de 2023, devido a fatores já citados (queda nas importações e aumento nas disponibilidades por parte dos grandes exportadores, liderados por Brasil e Austrália). Analisando os valores divulgados, observa-se que, na média dos 10 primeiros meses do ano, os preços alcançados ficaram 3,77% abaixo dos registrados em idêntico período de 2022 e valorizaram-se 7,86% em relação aos mesmos 10 meses de 2021. Porém, a tendência agora (como sugere o gráfico abaixo) é a de valores abaixo ou no máximo iguais aos registrados no bimestre final de dois anos atrás.