No segundo dia do 6º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio – CNMA, importantes empresas do setor agropecuário compartilharam suas agendas voltadas para ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), durante a mesa-redonda “Gestão Sustentável”.
“Hoje em dia não basta mais as empresas terem conformidade ambiental ou simplesmente fixarem metas de eco eficiência das suas operações. Precisamos inspirar a cadeia e ajudar o produtor rural a ser mais sustentável. É com esse olhar que construímos nosso modelo de negócio”, conta a diretora de Assuntos Corporativos para América Latina da Nutrien, Catharina Pires. A empresa atua com três pilares: a capacitação do seu time de consultores de campo para levar até o produtor conhecimentos sobre agricultura de baixo carbono, práticas agrícolas, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e regeneração de solo, além de ferramentas de incentivos financeiros para reconhecer os produtores que já são sustentáveis e incentivar os que ainda não são.
Em 2018, a Nestlé começou a remunerar de maneira diferenciada os produtores de leite que apresentam melhores requisitos em gestão hídrica. “Atualmente são 60 fazendas participando da medição e só com essa prática de olhar para o consumo de água, medir e saber como ela é usada na fazenda, tivemos mais de 19 milhões de litros de água economizados”, destaca a gerente de Sustentabilidade da Nestlé Brasil, Cristiani Vieira.
A gestão hídrica faz parte de um projeto de boas práticas na fazenda que existe há 15 anos, e conta com mais de 1.500 produtores atendidos diretamente. “100% desses produtores hoje têm melhores práticas para trazer um leite mais saudável e mais próximo do que é o natural, mas também com uma agenda ambiental e social integradas, trazendo um histórico de como cuidar do meio ambiente, como fazer gestão de resíduos e dos efluentes gerados na fazenda”, complementa Cristiani.
O incentivo aos produtores também é visto na BRF. Segundo a diretora de Sustentabilidade da BRF, Mariana Modest, toda a estratégia de crescimento da companhia tem sido pautada pelas práticas de ESG, com o lançamento de diversos compromissos de sustentabilidade, alinhados com a visão de futuro da empresa. “Nós firmamos uma parceria recentemente com o Banco do Brasil para incentivar a aquisição de painéis solares para serem instalados nas granjas e fomentar a utilização de energia limpa e renovável. Foram investidos mais de R$ 200 milhões nessa iniciativa, que reporta o número de 700 usinas a serem instaladas. Sem dúvida é um grande avanço quando falamos numa agenda tanto social, quanto ambiental e de governança, na esfera dos nossos produtores parceiros”.
A diretora cita ainda a plataforma Digital Agro, que contém informações de todo o processo, desde que a ave chega até a previsão de abate, em tempo real. A ferramenta está disponível para todos os 9 mil produtores parceiros da empresa, difundindo tecnologia, comunicação ágil e auxiliando na gestão. “Estamos cada vez mais próximos de quem produz, agregando valor, com tecnologia, inovação e sustentabilidade”.
Agricultura regenerativa
“Nós precisamos evoluir para uma agricultura moderna, em que a água e o solo sejam tratados como um paciente. Em 2010, o Brasil tinha apenas 200 mil hectares com agricultores que aplicavam produtos no sulco do plantio e agora, 11 anos depois, devemos chegar a 20 milhões de hectares”, destaca o diretor-presidente da Orion Tecnologia e Sistemas Agrícolas, Ricardo Rodrigues da Cunha. Para ele, é um crescimento fantástico que demonstra a adesão dos agricultores a esse processo e a preocupação com a transferência de produtos químicos para os biológicos a fim de regenerar a microbiota do solo.
Segundo a diretora de Food Solution Innovation da Yara Brasil, Deise Dallanora, a companhia tem trabalhado de diferentes formas pensando em sequestro de carbono. “Uma das nossas iniciativas são os fertilizantes verdes. Fechamos recentemente um contrato com a Raízen, que nos fornecerá o biogás para que tenhamos o biometano, que será a base da nossa amônia verde. Com isso, conseguimos reduzir em pelo menos 80% das emissões desse processo”. Deise ressalta também o lançamento da Agoro Carbon Alliance, negócio global criado para que os agricultores obtenham receitas adicionais com ações climáticas positivas. “Ao adotar essas práticas para o clima, os agricultores podem produzir Créditos de Carbono Agrícola e safras certificadas, ajudando assim a descarbonizar toda a cadeia do alimento”.
Pensando também em agricultura regenerativa, a gerente de Planejamento Estratégico da John Deere com foco em ESG, Isabela Aranovich destacou a parceria da empresa com a Embrapa, há mais de 15 anos, focada na promoção da Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta, a Rede ILPF. “Atualmente temos 17 milhões e meio de hectares se beneficiando de algum tipo de integração e a meta até 2030 é chegar a 35 milhões de hectares. O trabalho começou na fazenda Santa Brígida (GO), que atualmente é utilizada como unidade referência de tecnologia em ILPF”.
Ela pontua que o trabalho da John Deere é muito forte também na educação e desmistificação da prática, mostrando que a agricultura tropical sustentável já é uma realidade no Brasil. “O conhecimento e a preparação dos produtores que querem começar é crucial. Existem treinamentos e cursos e também o SAFF (Financiamento Facilitado para Agricultura Sustentável), que é um crédito verde para a adoção da ILPF”, destaca Isabela.
Humanização e diversidade na liderança empresarial
Pautas como o novo formato de liderar equipes e o olhar atento às necessidades pessoais do grupo permearam a Mesa Redonda “Liderança de Valor” no CNMA. Moderado pela Head do Rural Banking divisão agrícola do Rabobank Brasil, Pollyana Saraiva, o painel foi composto pela vice-presidente de Recursos Humanos da Mosaic Fertilizantes, Adriana Alencar; pela presidente da SAP Brasil, Adriana Aroulho; pela diretora executiva do Bradesco, Glaucimar Peticov; pela diretora executiva das Marcas Core Arezzo&Co, Luciana Wodzik, e pela Chefe de Comunicação Mercadológica, Companhia Syngenta Brasil, Renata Moya.
Um dos aspectos mais discutidos foi a reinvenção das distâncias no ambiente corporativo, motivada pela pandemia da Covid-19, na qual controles de entrada e saída, bem como o rendimento dos colaboradores ficaram, de certa forma, sem supervisão. “Para aumentar o comprometimento da equipe criamos outras maneiras de interações, como vídeos por meio dos quais as pessoas filmavam seu dia a dia no início da quarentena. Com essa e outras ferramentas nos aproximamos mais dos funcionários, trazendo um senso de compromisso, de forma que todos encontram seus papéis de importância dentro do cenário empresarial”, explica Pollyana Saraiva.
Para Glaucimar Peticov, o grande desafio foi descobrir como uma empresa com o porte do Bradesco poderia transformar aquele momento desafiador em bons frutos pessoais e em rendimento. “Nossa grande preocupação foi cuidar da saúde mental da equipe. Para isso entramos na casa das pessoas e voltamos os olhos para a inteligência emocional do grupo”, conta.
Na opinião da diretora executiva da Arezzo, Luciana Wodzik, o papel do líder mudou bastante nesses últimos dois anos. “Tivemos que ser resilientes, mas também percebemos que a vulnerabilidade cria vínculos de comprometimento. Com isso, criamos um olhar único para cada pessoa da nossa egrégora, reconhecendo os múltiplos papéis que cada um exerce na vida. Ou seja, olhamos o micro para criar uma maneira macro de acolher e motivar a todos”, afirma.
Com foco na diversidade, a presidente da SAP Brasil, Adriana Aroulho, salienta a importância de incluir e estimular. “A tecnologia é um imperativo e é através dela que pudemos estar mais perto das pessoas. Nunca estivemos tão perto, a ponto de entrar na vida dos nossos colaboradores e de entender, de fato, suas necessidades. Vendo tudo isso, precisamos voltar os olhos para a profissionalização, inclusão e diversidade, pois estamos aqui para servir uma sociedade diversificada e, para isso, precisamos de um time sem fronteiras, no qual raças, gêneros e condições especiais fazem parte da equipe”, aponta.
O aprendizado contínuo foi o mote da contribuição da vice-presidente de Recursos Humanos da Mosaic Fertilizantes, Adriana Alencar. “Investimos nas novas gerações com o intuito de procurar atender esse novo público, que trabalha focado em valores e propósitos para se estimular. Precisamos acompanhar as mudanças e investir em educação continuada para estar na vanguarda do mercado”, garante.
Para a chefe de comunicação da Syngenta, Renata Moya, os algoritmos podem ajudar em todo este processo de mudança de comportamento e formato. “Precisamos, mais do que nunca, criar uma comunicação clara e efetiva, principalmente com o nosso público interno, pois a comunicação é feita de dentro para fora e o digital nos dá essa oportunidade. Temos condições de medir nosso impacto e adequar para atingir nossos propósitos”, conclui.
4º Prêmio Mulheres do Agro
Durante o CNMA foram conhecidas as vencedoras da 4ª edição do Prêmio Mulheres do Agro, realizado pela Bayer em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG). Na categoria pequena propriedade, as vencedoras foram: Marcia Kafensztok, de Tibau do Sul/RN (1º); Laura Testa Moura Montans Vicentini, de Batatais/SP (2º) e Iala Gomes dos Santos Posso, de Monte Carmelo/MG (3º). Na categoria Médias Propriedades: Liliane Caramóri Bianco Queiroz, de Unaí/MG (1º), Eleonora Maria Monnerat Erthal, de Bom Jardim/RJ (2º) e Fabíola Magalhães de Araújo Nascimento, de Rio Verde/GO (3º). Em Grandes Propriedades: Erika Marina Carvalho Urban Rodrigues, de Coromandel/MG (1º); Tabata Stock, de Guarapuava/PR (2º) e Ida Beatriz Machado de Miranda, de Cáceres/MT (3º).
Evento vai até quarta
O último dia do CNMA (27/10) terá a mesa-redonda “Negócios e Agregação de Valor” e os painéis “Inteligência e Diplomacia Comercial”, “Agro do Brasil para o Mundo”, “Mulheres da Distribuição” e “As 7 virtudes capitais das mulheres agro – CNMA”.
Para mais informações acesse www.mulheresdoagro.com.br