As exportações de grãos da Ucrânia desaceleraram acentuadamente nas últimas semanas, com atrasos nos embarques e preocupações com o prazo de vencimento do acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU) para o escoamento de alimentos do Mar Negro. “Poucos comerciantes estão dispostos a vender grãos ucranianos no momento, a menos que tenham mais transparência sobre a extensão do acordo de grãos”, disse o diretor consultoria agrícola do Mar Negro SovEcon, Andrey Sizov. O tratado que definiu o corredor de embarques deve expirar em 19 de março.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, que está próxima de completar um ano, prejudicou os embarques de trigo e óleo de girassol inicialmente, gerando preocupações de que houvesse uma crise global de alimentos. As exportações só voltaram aos níveis pré-guerra no fim do ano passado, depois que Rússia e Ucrânia aderiram a um pacto apoiado pela ONU para retomar as exportações de alimentos pelos portos do Mar Negro.
Em relatório, o banco alemão Commerzbank ressaltou que o Ministério das Relações Exteriores da Rússia divulgou um comunicado na última sexta-feira (17) criticando o acordo e o fato de a maior parte dos grãos exportados pelo corredor humanitário, até agora, ter sido enviada para países de alta renda, enquanto os embarques para países pobres geralmente diminuíram. A nota ainda pontuava que o oleoduto de amônia Togliatti-Odessa foi bloqueado por Kiev por motivos políticos.
Em meio às turbulências e aos temores de que as tratativas não se renovem, o Centro de Coordenação Mista da Ucrânia registrou queda nos volumes embarcados de grãos, de 3,7 milhões de toneladas em dezembro para 3 milhões de toneladas em janeiro. Até 20 de fevereiro, cerca de 1,5 milhão de toneladas tinham sido embarcadas, ante 2,8 milhões de toneladas programadas. “Uma razão para isso é o ritmo mais lento das inspeções, que caíram de quase 11 navios por dia em outubro para cerca de 6 navios por dia recentemente”, ressaltou o Commerzbank.
A Associação Ucraniana de Grãos alega que a Rússia atrasa deliberadamente as inspeções de navios para desestabilizar o abastecimento. Na semana passada, 140 embarcações aguardavam inspeção contra menos de 100 no início do ano. O fundador da empresa de análise do mercado agrícola do Mar Negro UkrAgroConsult, Sergey Feofilov, disse que incerteza agravada pelos atrasos nas inspeções fez com que exportadores e comerciantes trabalhassem com um cronograma de planejamento de três a quatro semanas para sair do Mar Negro, em vez do prazo anterior de uma semana.
A preocupação com o não cumprimento dos pedidos já acordados para exportação também diminuiu o apelo do trigo ucraniano aos compradores do Oriente Médio e Norte da África, disseram analistas. Em contrapartida, as exportações russas de grãos atingiram níveis quase recordes, após uma safra robusta de trigo. Segundo o banco Commerzbank, é a oferta russa do cereal que tem contido os preços. O volume exportado do trigo russo explica porque os preços do grão mal responderam ao risco de menor oferta da Ucrânia, segundo o banco. (Com informações da Dow Jones Newswires)