A temática “A Influenza Aviária chegou ao sistema de produção: que risco corre a suinocultura?” foi abordada no Painel Desafios Virais e suas ameaças, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC), no terceiro e último dia do Simpósio Brasil Sul de Suinocultura, encerrado hoje.
A Influenza Aviária, especialmente sua forma altamente patogênica (IAAP), constitui uma ameaça crescente à saúde pública, animal e ambiental. Os subtipos desse vírus são conhecidos por sua elevada capacidade de mutação e rearranjo genético, o que lhes confere potencial para infectar diversas espécies, inclusive suínos, bovinos e mamíferos silvestres e domésticos.
A médica veterinária, Janice Reis Ciacci Zanella, alertou que a identificação de variantes como H5N1 – capaz de se replicar em pulmões suínos e de transmitir-se entre animais – evidencia o risco de emergência com potencial pandêmico.
“Esse risco se intensifica pela capacidade dos suínos de atuar como ‘misturadores’ de vírus de sua espécie, de aves e humanos. Diante desse cenário, torna-se imprescindível o fortalecimento das medidas de biossegurança, estudos experimentais e vigilância genômica, sobretudo em regiões com alta densidade produtiva e histórico de circulação viral”, disse a médica veterinária.
Segundo ela, no Brasil, a confirmação recente de IAAP em aves comerciais marca um novo estágio da doença no país e, com isso, traz impactos econômicos imediatos, com embargos comerciais e prejuízos aos produtores. “A vigilância ativa, as medidas rigorosas de biossegurança e a integração entre os setores público e privado são urgentes para conter a disseminação viral”, argumentou Janice.
Para a médica veterinária, a abordagem de Saúde Única (One Health) se consolida como pilar estratégico ao promover ações coordenadas entre saúde animal, humana e ambiental. “A proteção dos sistemas produtivos, da biodiversidade e da saúde coletiva exige investimentos em pesquisa, monitoramento interespécies, capacitação dos produtores e protocolos emergenciais claros. A atuação preventiva e integrada é essencial para enfrentar futuras emergências sanitárias com eficiência e resiliência”, ressaltou.
No SBSS, Janice também destacou as recomendações aos produtores de suínos frente ao desafio da IAAP, como controle de acesso à propriedade, uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) – botas, macacões e luvas –, fornecimento de água tratada e alimentação segura. “É preciso implementar medidas de vigilância e plano de ação emergencial para a suinocultura, além do que vem ocorrendo na avicultura”, complementou.
Dando sequência, Lia Treptow Coswig abordou o tema “Programa de controle da PSC e PSA no Brasil: visão geral, impacto das ações e riscos para a nossa suinocultura”.
Lia Treptow Coswig atua como auditora fiscal federal agropecuária no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em Brasília. À frente da Divisão de Sanidade dos Suídeos, ela desempenha papel estratégico na formulação e execução de políticas sanitárias voltadas à proteção e ao desenvolvimento da suinocultura brasileira. Com uma carreira marcada pelo compromisso com a saúde animal e a segurança alimentar, Lia se destaca por sua visão técnica e capacidade de articulação entre órgãos governamentais, setor produtivo e comunidade científica. Sua experiência a torna referência quando o assunto é prevenção e resposta as doenças de alto impacto, como a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA).
Com sólida experiência em sanidade animal, Lia trouxe uma visão panorâmica sobre o Programa de controle da PSC e PSA no Brasil como modelo de reflexão sobre o impacto das ações e os riscos que essas doenças suínas representam. “Foi um momento também para refletir sobre as ameaças emergentes à suinocultura e estratégias para enfrentá-las”, destacou.
A saúde respiratória de leitões após o desmame e como compreender os patógenos endêmicos foi o destaque da médica veterinária Maria José Clavijo Michelangeli.
Maria Jose Clavijo Michelangeli é médica veterinária pela Universidade Central da Venezuela, Ph.D. em Medicina Veterinária pela Universidade de Minnesota.
Segundo ela, há vários patógenos que atuam no sistema respiratório dos suínos. “Por isso é tão importante diagnosticar com eficiência, medicar e vacinar”, disse. “Os profissionais da suinocultura precisam controlar os desafios constantes do setor. Cada doença no sistema respiratório gera um impacto financeiro muito grande aos produtores”, disse.
Ela listou como importantes ferramentas para auxiliar na prevenção de doenças respiratórias como diagnóstico preciso, adequada aclimatação de marrãs, vacinação inteligente, uso responsável de antimicrobianos, melhor manejo de fluxo e biosseguridade.
E fechando o Simpósio Brasil Sul de Suinocultura, Luiz Guilherme de Oliveira destacou o desafio por Mycoplasma hyopneumoniae: nossos protocolos vacinais atendem o desafio? Uma terceira dose de vacina seria solução? Estas foram algumas questões levantadas por ele.
Segundo ele, na suinocultura, cada respiração conta. “E quando o inimigo é o Mycoplasma hyopneumoniae, causador da pneumonia enzoótica, o fôlego dos animais e a paz dos produtores seguem em risco”, destacou. Foi sobre esse desafio que o médico veterinário, Luis Guilherme de Oliveira, abordou na palestra de título “Desafio por Mycoplasma hyopneumoniae: nossos protocolos vacinais atendem o desafio? Uma terceira dose de vacina seria a solução?”.
Com uma trajetória que une prática e pesquisa, Oliveira falou com a autoridade de quem conhece o problema de perto. Formado pela UFPR e professor na UNESP-Jaboticabal, ele acumula pós-doutorado na Espanha, experiência em agroindústria e uma carreira dedicada a estudar as doenças respiratórias dos suínos.
Além de dados técnicos, ele trouxe em sua palestra uma análise clara sobre o custo-benefício de reforçar a imunização e os possíveis efeitos no desempenho dos plantéis. “O tema interessa a todos que buscam granjas mais saudáveis e produtivas. O evento foi um dos principais encontros técnicos da suinocultura brasileira e reuniu profissionais, pesquisadores e produtores para discutir os desafios e avanços do setor”, disse.