– Executivos da empresa francesa Kersia querem se reunir com autoridades do Ministério da Agricultura para tratar do andamento de processos e liberação de produtos. O diretor da companhia no Brasil, Paulo Alves, informou que a intenção era conseguir marcar um encontro para esta semana, mas não foi possível.
“Vai ficar como ‘lição de casa’ agendarmos um encontro para as próximas semanas ou meses, porque esse era, talvez, nosso principal objetivo nesta semana. Infelizmente, não deu certo, mas nós temos processos muito importantes que estão parados no Mapa e a gente precisa conversar com eles”, disse Alves, em mensagem de áudio enviado à Globo Rural, por meio da assessoria de imprensa da companhia no Brasil.
A partir das conversas com o Ministério da Agricultura, a empresa espera “acelerar” a obtenção de autorizações necessárias para comercializar seus produtos no Brasil, além de debater questões que, em sua avaliação, “limitam as possibilidades de adaptação e inovação” de formulações, com consequências sobre as atividades do grupo no país.
Um dos processos ainda pendentes de avaliação por parte das autoridades sanitárias brasileiras, segundo a empresa, é o pedido de registro em caráter emergencial de um desinfetante para uso na avicultura, com a promessa de até 99% de eficácia em manter ambientes livres de riscos de contágio pela gripe aviária em granjas de produção comercial.
A Kersia informou que o produto já recebeu aprovação de outros países, como o Reino Unido, não apenas para a limpeza de ambientes de criação de aves, mas também de bovinos e suínos. E, além de ser “ecologicamente correto”, baseia-se em um princípio ativo de amplo espectro, capaz de eliminar bactérias, vírus e leveduras de superfícies, equipamentos e veículos.
O Brasil registrou 160 focos de gripe aviária de alto potencial transmissivo, sendo 157 em aves silvestres e três em planteis de subsistência. Não há notificações em granjas comerciais, o que ainda permite ao país manter seu status de livre da doença e, consequentemente, as exportações de carnes de aves para o mercado global.
O desinfetante para aviários é uma das principais apostas de crescimento dos negócios da Kersia no Brasil. A companhia tem 70 anos de mercado em escala global, 25 no mercado brasileiro. Atua nas áreas de limpeza e desinfecção de ambiente produtivos, especialmente nas cadeias produtivas de pecuária.
Presença no mercado
No Brasil, a Kersia tem duas unidades industriais, localizadas em Lajeado (RS). E presença comercial no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia.
Atualmente, 75% dos negócios da companhia no território brasileiro estão ligados à sanidade na pecuária leiteira. Os outros 25%, à agroindústria. A capacidade de produção é de 600 toneladas por mês, de produtos como detergentes e desinfetantes para a sanidade de ambientes, estruturas e equipamentos de fazendas e unidades fabris.
A visão da Kersia para o mercado brasileiro é otimista, com perspectivas de crescimento nos próximos anos. No entanto, questões regulatórias ainda são vistas como obstáculos para a implantação da estratégia no país.
“Teoricamente, no setor de biossegurança e segurança de alimentos, os prazos de autorização variam de dois a cinco anos. No Brasil, esse tempo dobra. Porém, as soluções encontradas em um determinado momento podem estar inadequadas com a evolução da contaminação”, diz, em nota, o CEO global da Kersia, Sébastien Bossard.
Bossard está no Brasil, acompanhando uma missão comercial francesa na mesma semana em que o presidente francês, Emmanuel Macron, está em visita oficial ao país. A agenda do executivo inclui participação em encontros empresariais e visitas a fazendas para avaliar possibilidades de atuação em mais segmentos e regiões. Além da pecuária, a empresa mira o setor de bebidas.
Antes da viagem dos executivos, a Kersia articulou um encontro preparatório com os representantes do governo brasileiro via Business France, entidade que atua na promoção de negócios de empresas francesas no exterior e de promoção da economia do país europeu. A expectativa, a partir desta reunião, era a de ter um espaço na agenda das autoridades sanitárias brasileiras nesta semana, em Brasília, o que acabou não ocorrendo.