A fusão entre Marfrig e BRF saiu do papel. A partir desta terça-feira (22/9), a MBRF, empresa resultante da união, passa a negociar suas ações na B3, com a expectativa de capturar mais de R$ 1 bilhão em sinergias baseadas, sobretudo, em ganho de receita, redução de custos e impostos e otimização logística e comercial. Inicialmente, quando a fusão foi anunciada em meados de maio, as empresas estimavam sinergias da ordem de R$ 800 milhões.
“Estamos anunciando a nova estrutura mais simples e mais focada para fazer frente à entrega de sinergias”, disse o empresário Marcos Molina, presidente do conselho da MBRF.
O CEO da nova companhia será Miguel Gularte, que até então estava à frente da BRF.
Segundo Gularte, o benefício de terem passado por um processo mais longo do que o esperado, enquanto a fusão era analisada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), foi ter um tempo maior para avaliar os processos internos e calcular com mais detalhes as sinergias. Com isso, a companhia passou a estimar ao menos R$ 200 milhões adicionais nas expectativas de sinergias, que poderão superar R$ 1 bilhão.
A projeção para a receita anual da empresa resultante também aumentou, de R$ 152 bilhões para R$ 161 bilhões, sendo 38% do portfólio de processados e produtos de valor agregado. A Sadia passa a ser a marca internacional da companhia.
Segundo Marcos Molina, concluída a fusão, o primeiro passo é capturar, de fato, as sinergias, que devem começar a aparecer nos resultados financeiros dos próximos trimestres.
Em um segundo momento, há oportunidade para avançar com uma tentativa de listagem da empresa nos Estados Unidos. O fato de já haver a National Beef como uma companhia do grupo atuando no mercado americano seria um facilitador. Antes da fusão, a National Beef era uma empresa controlada pela Marfrig.
“Já temos essa materialidade para abrir capital lá [nos Estados Unidos] e agregar mais valor”, disse o empresário a jornalistas. Entretanto, a medida ainda vai depender do desempenho do mercado de capitais e não há um prazo específico para que se concretize, segundo ele.
Analistas ouvidos pelo Valor acreditam que há desafios de curto prazo com a fusão, até que os resultados esperados realmente se confirmem, mas no médio e longo prazos a perspectiva para o negócio da MBRF é das mais promissoras com a criação de um gigante de peso no mercado de carnes.
Nesta segunda (22), no último dia de negociações na B3, as ações de BRF e Marfrig terminaram com a terceira queda consecutiva, enquanto os investidores digeriam a mudança. A BRF caiu 5,38% para R$ 17,95 e a Marfrig teve desvalorização de 4,61% para R$ 21,12.
“A Marfrig estava voltando para o patamar de preço da data de anúncio do deal (acordo para a fusão), e BRF chegou a cair mais, uma vez que tem desconto implícito na relação de troca de R$ 0,85”, disse Igor Guedes, analista da Genial Investimentos.
A relação de troca de ações da BRF pela MBRF foi estabelecida em R$ 0,8521 nos termos da incorporação proposta por sua controladora Marfrig.
Para Régis Chinchila, analista de research da Terra Investimentos, a queda expressiva nos últimos dias em que as companhias foram negociadas como empresas separadas na B3 foi um movimento típico de ajuste e realocação de carteiras antes da incorporação. O especialista acredita que a instabilidade pode permanecer hoje (23), no início das negociações de MBRF na bolsa.
“Esperamos maior volatilidade e ajustes entre preço e valor esperado até que o mercado reprecifique a nova estrutura e as sinergias sejam mais claras”, afirmou o especialista da Terra.
Ainda de acordo com Chinchila, a fusão busca ganhos relevantes de escala e sinergias, o que pode sustentar um viés neutro/positivo no médio prazo caso a execução e a integração ocorram conforme o planejado.
“No curto prazo, porém, riscos permanecem: realização [venda] por parte de investidores, impacto da relação de troca e ruídos sobre integração e alocação de capital”, acrescentou o analista.
Ainda considerando a projeção inicial de receita de R$ 152 bilhões ao ano, Renata Cabral, analista do Citi, ressaltou em relatório que a MBRF nascia como uma empresa que estará entre as dez maiores produtoras globais de proteína, com escala e diversificação que rivalizam com a JBS e a Tyson Foods.
“Embora a alavancagem ainda seja elevada, o fluxo de caixa robusto e a opcionalidade de refinanciamento devem mitigar as preocupações”, avaliou Cabral.
Estrutura
O comitê executivo da MBRF foi reduzido e será formado por oito vice-presidências. A vice-presidência de finanças, relações com investidores, gestão e tecnologia ficará a cargo de José Ignácio Scoseria Rey.
Fábio Mariano assume a vice-presidência de mercado halal. Manoel Martins será responsável pela vice-presidência de mercado Brasil e marketing.
Leonardo Dall’Orto continua a liderar a vice-presidência de mercado internacional e supply chain, e assume os negócios no Chile. Alisson Navarro assume a vice-presidência de bovinos, além dos negócios do Uruguai e da Argentina.
Heraldo Geres ficará a cargo da vice-presidente jurídico, tributário, assuntos corporativos e gente.
Artemio Listoni estará à frente da vice-presidência de operações industriais e logística.
Fabio Stumpf permanece à frente da vice-presidência de agro e qualidade.