O mundo está em frequente transformação e a suinocultura pode aproveitar as oportunidades que surgem para se fortalecer no mercado, acompanhar as tendências e ampliar a produção com sustentabilidade. Esses foram temas das duas palestras que encerraram os debates do segundo dia do 15º Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS), no Painel Mercado e Governança Social e Ambiental (ESG). O evento é promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos-Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet) e seguiu até ontem, quinta-feira (10), em Chapecó (SC).
O presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne/SC), José Antônio Ribas Júnior, explanou sobre “Oportunidades em um cenário de margem zero”. Ele falou sobre o que pode ser feito para posicionar melhor o setor no mercado e sobre oportunidades. Salientou que o agronegócio possui muitas virtudes que precisam ser mostradas aos consumidores.
De acordo com Ribas, atualmente a venda está sustentada na competitividade brasileira, que possui proteínas de qualidade com baixo custo. Porém, para continuar bem posicionado no futuro, algumas variáveis precisam ser avaliadas. “O mundo chegou a 8 bilhões de pessoas e logo chegará a 10 bilhões de habitantes. Tem um bilhão de pessoas nesse momento que não têm um prato de comida e é nosso papel poder propiciar alimentação. O mercado é muito amplo, podemos trabalhar desde o mais gourmetizado até o mais básico”, expôs. Ribas enfatizou que o setor é extenso e intenso e essa intensidade exige ciência de dados e planejamento para que não se perca a eficiência.
Citou, por exemplo, as definições da COP 26 e da COP 27. “Todos têm obrigação de saber o que está escrito nesses relatórios porque neles estão os grandes direcionais da produção de alimentos do mundo. Neles está escrito que, para as nações mais relevantes do mundo, a produção de alimentos é questão de soberania nacional”. Além disso, para se manter competitivo, é necessário pensar em ESG. “A hora de garantir o futuro é agora, é neste momento que estamos com o olhar para dentro do setor, buscando as melhorias de eficiência. O Brasil é eficiente, exporta para 150 países. Ninguém ganha mercado por tantos anos de maneira tão consistente se não estiver fazendo com qualidade”.
Ribas reforçou, ainda, que o agronegócio gera desenvolvimento, empregos, qualidade de vida e fortalece a economia. O modelo de produção integrada é composto por 100 mil famílias, a avicultura e a suinocultura geram 4,1 milhões de empregos no Brasil.
Enfatizou a eficiência do agro, ao citar que, da década de 1990 para os dias de hoje, a área cultivada cresceu de 131 milhões de hectares para 192 milhões, enquanto que a produtividade elevou de 483 milhões de toneladas para mais de 1,1 bilhão de toneladas. Ou seja, dobrou a produção sem ter a necessidade de dobrar a área. Essa eficiência saiu da agricultura 1.0, que tinha mão de obra intensiva e baixa produtividade, e evoluiu para a agricultura 5.0, passando pelo melhoramento genético, máquinas e softwares agrícolas, biotecnologia, posicionamento global, sensoriamento, uso de drones e imagens por satélite até inteligência artificial, integração de dados e de sistemas, robótica, automatização e ESG.
Sobre sustentabilidade, salientou que os produtores rurais e todo o setor respeitam o meio ambiente. “Existem dentro das propriedades as reservas obrigatórias e as áreas de preservação permanente e nós não costumamos mostrar esse ativo ambiental que está na nossa mão. Temos um cuidado ambiental que ninguém no mundo tem”. Além disso, o Brasil investe em energias renováveis, possui uma grande matriz de energia limpa e investe em novos projetos, como de produção e energia com biometano. “Existem inúmeras iniciativas, sabemos fazer e estamos fazendo, incluindo a neutralização de carbono na produção. Isso precisa estar nas embalagens dos nossos produtos, precisamos comunicar com eficiência as nossas virtudes”, realçou, ao acrescentar que aliado a isso tudo são necessários profissionais com novas competências e qualificados. “Precisamos ter foco nos novos mercados, em comunicação, em liderança, no planejamento e na eficiência”, finalizou Ribas.
SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO
Os desafios e os bons exemplos da sustentabilidade na suinocultura foram explanados pelo doutor em nutrição monogástrica com foco em suínos Bradley Lawrence, na palestra “Sustentabilidade na suinocultura”. Ele sublinhou que a sustentabilidade é baseada nos princípios de fazer mais com menos, deixando recursos suficientes para as gerações futuras, minimizando o impacto no planeta e agindo no melhor interesse da sociedade. “Na indústria suína, sustentabilidade significa fazer escolhas que beneficiem o bem-estar dos animais, das pessoas envolvidas e do planeta, mantendo a lucratividade econômica. No entanto, o desafio da sustentabilidade reside no fato de que ela engloba diversos interesses de várias partes interessadas”, disse, ao exemplificar as preocupações de profissionais que pensam na resistência antimicrobiana, nos ambientalistas, na emissão de gases de efeito estufa, etc.
Observou que a sustentabilidade evoluiu de uma preocupação local ou regional para uma iniciativa internacional, ao citar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. “A indústria suína global pode fazer contribuições significativas para pelo menos 10 desses objetivos. Fornece empregos locais bem remunerados e uma fonte nutritiva de proteína de alta qualidade, desempenha um papel na melhoria da saúde e bem-estar. Ao se concentrar em atender as necessidades dos animais para eficiência e minimizar a excreção de nutrientes, combinado com as melhores práticas agronômicas, pode impactar positivamente a qualidade da água, beneficiando a vida aquática e reduzindo a degradação da terra”, exemplificou.
Acrescentou que o setor adota avanços tecnológicos que aumentam a eficiência e melhoram a sustentabilidade. “Por meio de avanços em genética, nutrição, gerenciamento e tecnologia, a indústria melhora continuamente a eficiência da utilização de recursos”, salientou, além de citar iniciativas que estabelecem metas de emissão dos gases de efeito estufa, caminhando para a neutralidade.
Lawrence realçou que a nutrição desempenha um papel crucial e falou de formulações de dieta no futuro. “A otimização da conversão alimentar por meio da nutrição permanecerá sendo um foco principal, especialmente com os avanços na seleção genética que aumentam a capacidade de ingestão de alimentos e o desempenho de crescimento. A seleção de ingredientes para minimizar a excreção de nutrientes também se tornará mais prevalente”, destacou, concluindo sua palestra ao enfatizar que “a sustentabilidade não é nova e veio para ficar.