O setor pecuário brasileiro pode deixar de arrecadar até US$ 14 milhões mensais, segundo um levantamento feito pela CNN com base nas Estatísticas do Comércio Exterior (Comex), do Ministério da Economia.
Isso porque, nesta terça-feira (8), os importadores russos começaram a suspender os embarques brasileiros de carne bovina, frango e suínos. Mensalmente, o Brasil arrecada cerca de US$ 1 bilhão com a exportação da proteína animal.
A CNN confirmou com entidades do setor que os empresários do país europeu não sabem se terão condições de pagar as remessas brasileiras, já que muitos canais bancários foram bloqueados por conta das sanções da guerra.
Atualmente, a Rússia é a oitava maior importadora de proteínas animais do Brasil, com uma aquisição mensal média de 20 mil toneladas, segundo o relatório mais recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O país fica atrás, por exemplo, dos Estados Unidos, Egito e China — esta última representa 40% de toda a exportação brasileira.
Dados do Ministério da Economia apontam que a Rússia importa mensalmente, em média, US$ 5,5 milhões de carne de frango do Brasil. Normalmente, no mesmo período, o país europeu também gasta, respectivamente, US$ 5,2 e US$ 3,3 milhões na aquisição da carne bovina e suína.
Especialistas ouvidos pela CNN nesta terça-feira (8) afirmam que a suspensão russa trará uma maior oferta de carne para o mercado brasileiro.
No entanto, apesar da maior quantidade de produto no país, a tendência é que o preço dos insumos permaneça estável, segundo a doutora em Economia e pesquisadora associada do Ipea Ana Cecília Kreter.
A pesquisadora explica que o movimento deve ser ofuscado pelo cenário global desfavorável causado pela guerra na Ucrânia.
“Não acredito que tenha queda no preço para o consumidor final brasileiro no quesito proteína. O problema é que o preço da carne já vem muito alto há meses. E o valor dos grãos também bate recorde, insumos que são totalmente relacionados ao preço da proteína”, disse Ana Cecília.
“O cenário global é de altos valores para o setor. Isso tudo ofusca esse movimento”, acrescentou.
A pesquisadora também detalha as consequências na economia internacional da guerra entre Rússia e Ucrânia, que já dura duas semanas.
“O conflito traz insegurança ao mercado internacional para todas as nações. Em conjunto com isso, temos que salientar a importância da Rússia no mercado global, e isso afeta todos os países de forma direita e indireta”, afirmou.
“Tem a questão do petróleo, dos fertilizantes. A guerra traz uma desestabilização total para toda a cadeia produtiva”, finalizou Ana Cecília Kreter.
A interrupção na importação russa acontece em meio a uma tentativa do país europeu de aumentar o consumo da carne brasileira, de acordo com a consultoria Safras & Mercado, maior representante do setor no Brasil.
Segundo o economista-chefe da empresa, Fernando Iglesias, a Rússia se programava para comprar até 200 mil toneladas de carne bovina brasileira e 100 mil toneladas de carne suína anualmente. No entanto, o cenário atual frustrou os planos de ambos os países.
“Ficou mais complicado ver um volume relevante de compra de proteínas por parte dos russos, já que os métodos de pagamentos estão todos bloqueados por causa da guerra”, afirmou.
“Os empresários locais teriam que pensar em mecanismos inusitados para fazer a transação para os produtores brasileiros. E por esses problemas logísticos, acredito que a Rússia não vai bater esse volume programado”, ressaltou Iglesias.
A CNN procurou os Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; e o da Economia para saber se já foram comunicados da decisão dos empresários russos e se pretendem tomar alguma medida, mas ainda aguardamos retorno.