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1. Introdução
O Brasil é um dos maiores produtores de ração animal do mundo, com mais de 1.900 fábricas registradas oficialmente junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Em 2023, foram produzidas aproximadamente 85 milhões de toneladas de ração, consolidando o país como um líder global na nutrição animal. A eficiência e qualidade desta produção estão diretamente associadas à atuação dos operadores e equipes técnicas das fábricas de ração.
Esse cenário exige um olhar mais estratégico sobre a qualificação, valorização e bem-estar dos profissionais envolvidos nesse elo fundamental da cadeia agropecuária. Este documento foca exclusivamente no perfil da mão de obra em fábricas de ração peletizada, abordando a estrutura de equipe, salários, necessidades de treinamento e os impactos do desempenho humano na cadeia de valor.
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2. Perfil da Mão de Obra nas Fábricas de Rações
As fábricas de rações peletizadas operam em turnos e demandam uma estrutura organizacional bem definida. A equipe técnica e operacional se distribui em diferentes níveis de responsabilidade, conforme o organograma e a complexidade dos processos.
2.1. Organograma Típico de uma Fábrica de Rações Peletizada
Nível Estratégico:
• Gerente Industrial
o Faixa Salarial: R$ 12.000 a R$ 18.000
o 1 por planta
Nível Tático:
• Engenheiro de Produção / Coordenador Técnico
o Faixa Salarial: R$ 8.000 a R$ 13.000
o 1 por planta
• Supervisor de Produção
o Faixa Salarial: R$ 5.000 a R$ 7.500
o 1 por turno
Nível Operacional:
• Técnico de Qualidade e Processos
o Faixa Salarial: R$ 3.000 a R$ 4.500
o 1 por turno
• Operador de Peletizadora
o Faixa Salarial: R$ 2.500 a R$ 3.500
o 2 por turno
• Operador de Misturador / Moinho
o Faixa Salarial: R$ 2.200 a R$ 3.200
o 2 por turno
• Operador de Expedição / Ensacamento
o Faixa Salarial: R$ 2.000 a R$ 3.000
o 2 por turno
• Auxiliares de Produção / Serviços Gerais
o Faixa Salarial: R$ 1.800 a R$ 2.400
o 4 a 6 por turno
Essa distribuição pode variar conforme o porte da fábrica, a automação dos processos e o volume de produção. Em fábricas de médio porte, um turno típico pode operar com 10 a 15 profissionais.
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3. A Importância da Valorização e Treinamento de Pessoas
Valorizar as pessoas é reconhecer que o capital humano é o principal fator de sucesso de qualquer empreendimento agroindustrial. A valorização passa por:
• Salários compatíveis com a responsabilidade da função;
• Ambiente de trabalho seguro e motivador;
• Reconhecimento e oportunidades de crescimento;
• Investimento contínuo em treinamentos técnicos e comportamentais;
• Integração entre setores operacionais e de gestão.
Lista Recomendada de Treinamentos:
Treinamentos Técnicos:
• Boas Práticas de Fabricação (BPF)
• Operação de Equipamentos de Produção
• Formulação de Rações e Qualidade Nutricional
• Biosseguridade e Manejo Sanitário
• Segurança do Trabalho e NR-12
Treinamentos Comportamentais e Motivacionais:
• Inteligência Emocional na Indústria
• Comunicação Eficiente e Trabalho em Equipe
• Gestão de Conflitos e Liderança Positiva
• Comprometimento com Resultados e Metas
• Propósito e Sentido no Trabalho Agroindustrial
A inclusão de metas atingíveis, recompensas por desempenho e benefícios associados aos resultados (como bônus, premiações, planos de carreira e qualidade de vida) são práticas recomendadas para sustentar a motivação das equipes.
Atenção especial deve ser dada à nova normativa referente à Qualidade de Vida no Trabalho, com destaque para:
• NR-1: Alterada para priorizar a saúde mental no ambiente de trabalho, ampliando a responsabilidade dos empregadores. O RH deve atuar como agente de transformação cultural e estratégica, capacitando lideranças para identificar sinais de sofrimento psíquico e agir preventivamente.
• Lei nº 14.831/2024: Visa criar um ambiente de trabalho mentalmente saudável, promovendo mudanças nas práticas das empresas para garantir o bem-estar físico e mental dos colaboradores.
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4. O Papel do Operador de Produção de Rações e Seus Impactos na Cadeia Agropecuária
O operador de fábrica de rações exerce uma função estratégica na cadeia agropecuária. É ele quem garante a produção de alimentos seguros, balanceados e com qualidade constante para aves, suínos, bovinos e peixes. Sua atuação direta interfere em:
• Desempenho zootécnico dos animais;
• Custos de produção;
• Rastreabilidade e segurança alimentar;
• Eficiência e sustentabilidade industrial.
Impactos Negativos de uma Atuação Desqualificada ou Desmotivada:
• Erros na formulação e dosagem de nutrientes;
• Perda de lotes, desperdício e retrabalho;
• Problemas sanitários e produtivos nos animais;
• Quebras de produção e aumento de custos;
• Desalinhamento entre qualidade e produtividade.
Portanto, a falta de conhecimento técnico e a desvalorização do operador podem comprometer toda a cadeia de valor, afetando do produtor ao consumidor final.
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5. Conclusão
A cadeia agroindustrial brasileira depende diretamente da competência e do comprometimento de seus profissionais. Os operadores de fábricas formam a base da produção animal e da indústria de rações. Valorizar essas pessoas é estratégico para a produtividade, a qualidade dos alimentos, o bem-estar animal e a sustentabilidade do sistema agroalimentar.
É fundamental investir em treinamento contínuo, condições dignas de trabalho, metas atingíveis e recompensas financeiras compatíveis com os resultados obtidos. Uma equipe motivada e bem treinada é capaz de evitar falhas, promover a inovação e manter elevados padrões de qualidade e desempenho.
Além disso, a inclusão de ações voltadas à saúde emocional, à criação de metas claras, ao senso de propósito e ao reconhecimento coletivo deve estar no centro das estratégias de gestão de pessoas. A chegada da NR-1 atualizada e da Lei nº 14.831/2024, que tratam da saúde física e mental dos trabalhadores, reforça a urgência de uma cultura organizacional mais humana, preventiva e transformadora.
Como sempre costumo dizer, “Não basta investir em tecnológica, e preciso Investir em pessoas e investir em pessoas é investir no futuro do agronegócio brasileiro.”
Um grande abraço e até a próxima.
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6. Fontes Bibliográficas e de Pesquisa
• CAGED/MTE – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – Ministério do Trabalho e Emprego (dados salariais e empregabilidade)
• IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
• RAIS – Relação Anual de Informações Sociais
• CNA/SENAR – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil / Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
• Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
• ABPA – Associação Brasileira de Proteína Animal
• Sindiração – Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal
• MAPA – Ministério da Agricultura e Pecuária
• Artigos e relatórios técnicos de revistas especializadas como Feed&Food, Avicultura Industrial e Suinocultura Industrial
• Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), atualizada em 2024
• Lei nº 14.831/2024 – Lei da Saúde Mental no Ambiente de Trabalho