Apesar do montante inédito de R$ 594,4 bilhões, produtores enfrentam custos elevados, baixa previsibilidade e dependência crescente do crédito privado.
O Plano Safra 2025/26 apresentou um volume recorde de R$594,4 bilhões, reforçando o peso estratégico do agronegócio na economia brasileira. Mas, na prática, o montante não representa necessariamente mais fôlego para quem produz. Com a taxa Selic estabilizada em 15% ao ano e juros que chegam a 14% nas linhas de investimento, o acesso ao crédito segue elevado e limitado, especialmente para médios e pequenos produtores, que enfrentam dificuldades crescentes para custear a produção e investir em modernização.
O cenário é agravado pela inflação acumulada de 5,3%, que compromete o ganho real do crédito anunciado, conforme avalia Yedda Monteiro, analista de inteligência e estratégia da Biond Agro: “A grande crítica do setor produtivo não está no volume nominal, mas na efetividade desse crédito. Em termos reais, estamos lidando com um plano que não consegue atender às necessidades básicas da produção agrícola”.
Crédito privado cresce, porém eleva riscos e exposição dos produtores
Com R$516,2 bilhões destinados à agricultura empresarial, dos quais R$414,7 bilhões vão para custeio e comercialização e R$101,5 bilhões para investimentos, o Plano Safra 25/26 sofre com limitações que comprometem a modernização e expansão da capacidade produtiva. O Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), por exemplo, teve o volume de recursos congelado e opera com juros entre 8,5% e 10% ao ano, o que limita sua efetividade diante do déficit de armazenagem de 112 milhões de toneladas.
Outro ponto de atenção é a crescente participação do crédito privado no Plano Safra. Dos R$594,4 bilhões anunciados, R$185 bilhões (36%) virão de CPRs lastreadas em Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), fontes que operam com juros livres e sem controle estatal. Em estados como Mato Grosso, apenas 10% do financiamento da soja veio de linhas oficiais, sendo o restante bancado por operações de barter, multinacionais ou recursos próprios dos produtores.
“O avanço do crédito privado pode parecer positivo, mas acende alertas importantes. Ele aumenta a exposição do produtor à volatilidade do câmbio, impõe garantias mais rígidas e encarece o financiamento da produção. Além disso, com a queda dos preços das commodities como soja e milho nos últimos anos, as margens, que já estão pressionadas por custos altos, limitam o poder de investimento e inovação”, destaca Yedda Monteiro.
Apesar de cumprir seu papel político e institucional, o Plano Safra 2025/26 ainda apresenta fragilidades significativas diante das demandas reais do agro brasileiro. Com o setor representando cerca de 24% do PIB nacional, Yedda reforça que o setor não pode ser tratado com superficialidade num contexto de juros elevados e previsibilidade reduzida.
“O plano anunciado para o ciclo de 2025/26 esbarra na retórica de um volume recorde com custos elevados de financiamento, tornando o setor agrícola do país mais exposto, menos previsível e mais dependente do mercado privado de crédito”, finaliza.