Cauteloso e preocupado. Assim está o segmento de aves e suínos após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Mas, contra a vontade das lideranças das principais indústrias do país, que querem evitar especulações, investidores na B3 mostraram que o conflito já causa danos, relacionado à expectativa de problemas no fluxo do comércio internacional de grãos e também de carnes.
Os papéis ordinários da BRF, maior produtora e exportadora de carnes suína e de frango do país, recuaram 6% ontem, a R$ 17,34. Nem mesmo a valorização de cerca de 10% dos preços internacionais dessas proteínas impediu o movimento, segundo fontes ouvidas pelo Valor.
Em teleconferência nesta semana, o CEO da BRF, Lorival Luz, comentou que, para a companhia, o melhor seria, claro, que a tensão diminuísse. Um cálculo do ItaúBBA ajuda a entender o porquê: para cada 10% de aumento no preço do milho, grão fundamental para a produção de rações, o banco estima que o custo para a companhia suba 2%.
Dona da Seara, a JBS viu seus papéis ordinários recuarem 0,25%, a R$ 36,50. Maior acionista na BRF, com cerca de 33%, a Marfrig terminou o dia com 3,5% de alta, a R$ 22,98. Enquanto isso, as ações da Minerva, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, avançaram 7%, a R$ 10,80.
Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa as indústrias que atuam nas cadeias produtivas de aves e suínos, afirmou que monitora a situação e teme possíveis aumentos nos custos de produção, em consequência de problemas na oferta mundial de grãos.
Rússia e Ucrânia, juntas, respondem por cerca de 20% das exportações mundiais de milho. No caso do trigo, que pode ser usado como alternativa na nutrição dos animais, a participação nos embarques globais é de quase um terço.
O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, pediu aos suinocultores do país que mantenham a calma. Segundo ele, ainda não é possível prever as consequências sobre os preços.
“No curto prazo, não há risco de desabastecimento dos principais insumos, e decisões precipitadas neste momento podem ser mais danosas do que a crise propriamente estabelecida”, disse.
As duas associações concordam em um ponto: cabe ao governo federal ser prudente e não provocar uma crise diplomática, principalmente porque esses segmentos já vêm enfrentando alta de custos e queda de margens desde o ano passado.
“Temos relações comerciais com todos os envolvidos, e isso pode afetar não só a suinocultura, mas o agronegócio em geral”, afirmou o presidente da ABCS.
A ABPA destacou que a Rússia está entre os dez principais importadores de carne de frango do Brasil, e que, em um passado não muito distante, já foi também um dos principais destinos da carne suína, tendo retornado às compras no último trimestre do ano passado. Já a Ucrânia compra carne de frango – embora também seja um país exportador da proteína – e está considerando a reabertura de seu mercado para a carne suína brasileira.
Nesta quinta-feira, o mercado doméstico de frango e suínos ficou praticamente paralisado. Nem o indicador Cepea/Esalq para o quilo do frango congelado negociado em São Paulo nem o do suíno vivo tiveram oscilação.