Os preços de alimentos no varejo vão continuar altos, sobretudo enquanto persistirem as incertezas nos mercados de energia, alerta a FAO, a Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. O Índice de Preços de Alimentos da FAO caiu 1,9% em agosto em relação ao mês anterior, mas permanece 7,9% acima do patamar de um ano atrás.
O indicador recuou nos últimos cinco meses. No entanto, a melhora não se traduziu no dia a dia, e a inflação de alimentos continua forte.
“Observamos uma baixa dos preços dos produtos alimentares no mercado internacional, mas não se transmitiu aos consumidores no supermercado”, diz Boubaker BenBelhassen, diretor de Mercados e Comércio da FAO. “É o preço de varejo que os consumidores pagam, e quando eles vão ao supermercado, constatam que os preços não baixaram”, acrescentou. “Isso ocorre porque os preços da energia, de transportes, logística e de processamento continuam elevados”.
Além disso, acrescenta o especialista da FAO, os preços das commodities são fixados no mercado internacional em dólares americanos, e muitas moedas nacionais se desvalorizaram, diminuindo a capacidade de importações.
Vários países com alta dependência de alimentos importados também enfrentam um enorme problema de endividamento. Eles estão cada vez mais relutantes em pedir mais dinheiro emprestado para importar alimentos, nota Boubaker.
O cenário internacional é, assim, de inflação de alimentos persistente. A disponibilidade de produtos teve ligeira melhora, mas o acesso continua a ser uma enorme preocupação.
O especialista da FAO nota que as recentes exportações de grãos da Ucrânia foram destinadas sobretudo a países de renda média. Os mais pobres, e mais afetados pela falta de alimentos, continuam com seus problemas.
“Estamos preocupados com o acesso aos alimentos, com a crise do custo de vida e suas implicações”, afirmou. “As despesas das famílias com alimentos nos países de baixa renda, que ficam entre 50% e 70%, são muito elevadas, e não estão baixando”.
A FAO aponta outra inquietação no radar: a persistente alta dos custos de fertilizantes e outros insumos. Se as cotações continuarem no patamar atual, haverá menos utilização de adubos, o que deve reduzir a produção e, com isso, diminuir a oferta de itens alimentícios.
“Esperamos que no próximo ano não estejamos enfrentando um problema de disponibilidade de alimentos”, completou Boubaker.