Daniel Moreira Pinto Cruz;
Marcelo Beltrão Molento.
Introdução
Antibióticos são amplamente utilizados para cuidar da saúde em humanos e animais. Na produção animal industrial, especificamente, são utilizados como aditivos alimentares, na promoção de crescimento, para a melhora nos índices zootécnicos e na prevenção de doenças, principalmente nas fases de maior estresse (1). Para atender à crescente demanda global e produzir proteína animal a baixo custo, a indústria pecuária submete animais a práticas de confinamento muito agressivas, necessitando de antibióticos para mascarar os efeitos negativos desses sistemas (2).
O uso constante e indiscriminado de antibióticos, o que engloba o uso na ausência de prescrição, ou, ainda, uso contra microrganismos não-suscetíveis, favorece a seleção de genes bacterianos resistentes a antibióticos (GRA). O fenômeno da resistência antimicrobiana (RAM) é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como ameaça global à saúde pública. Estudo publicado no final de janeiro atualizou o cálculo global de mortes associadas à resistência antimicrobiana em 1,27 milhões de pessoas ao ano, letalidade que supera as de HIV e malária (3). Bactérias multirresistentes são capazes de suportar o uso dos antibióticos de várias famílias de antibióticos, com diferentes mecanismos de ação, incluindo os de última geração (4).
O desenvolvimento de bactérias multirresistentes não fica só restrito ao ambiente das fazendas. No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) recomenda medidas de mitigação do problema no contexto da criação animal. Mas grandes quantidades de resíduos (ex. urina e fezes) dos animais podem ser espalhadas no solo como fertilizante ou despejadas em canais públicos de água. Podem ainda se infiltrar no terreno e atingir lençóis freáticos, promovendo a disseminação de bactérias multirresistentes (5). As pessoas podem se contaminar, por exemplo, pelo consumo de água, peixes, crustáceos e de produtos agrícolas (6).
Daniel Moreira Pinto Cruz é médico-veterinário pela Universidade Plínio Leite, no Rio de Janeiro, e coordenador de Bem-Estar Animal da Proteção Animal Mundial (World Animal Protection) desde 2015.
Marcelo Beltrão Molento é médico-veterinário pela Universidade de Alfenas, Minas Gerais, e doutor pela Universidade de McGill, no Canadá. Chefe do Laboratório de Parasitologia Clínica Veterinária da Universidade Federal do Paraná.
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