A guerra entre Israel e Irã — que agora também envolve os Estados Unidos — já afeta o agronegócio brasileiro. Além de ter elevado os preços da ureia, houve paralisação em fábricas de adubo na região, o que pode colocar a oferta do insumo em xeque. O conflito também poderia gerar entraves logísticos para as exportações de carnes halal do Brasil, que têm nos países do Oriente Médio o seu principal destino.
Um prometido cessar-fogo entre os dois países, porém, pode alterar esse cenário. O presidente americano Donald Trump disse, ontem à noite, em rede social que Israel e Irã teriam concordado com um cessar-fogo. Segundo ele, os países irão cumprir suas “missões finais” antes de iniciar as pausas no combate.
Mais cedo, antes das declarações de Trump, analistas do mercado agropecuário e indústrias ainda avaliavam potenciais efeitos de um eventual fechamento, pelo governo iraniano, do Estreito de Ormuz, importante comercial marítima. A análise era de que a interdição poderia elevar os custos com seguro, fretes e obrigar a um redesenho das rotas para a exportação das carnes halal produzidas no Brasil.
Mesmo sem o fechamento, segundo esses analistas, a passagem de navios poderia diminuir por questões de segurança.
Questionado sobre o tema, antes da postagem do presidente americano, Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), disse que “não há aumento de custos ainda, mas pode haver problemas logísticos nas entregas para o Iraque, Kwait, Catar e Bahrein, que compram carne de frango diretamente do Brasil”.
O dirigente calcula que, juntos, esses quatro países compram cerca de 28 mil toneladas de frango halal do Brasil por mês. Em alguns casos, uma rota alternativa pode ser o envio do produto para a Turquia e de lá ao Iraque, principal comprador de frango entre os países que podem ser mais afetados.
Uma reunião entre representantes das empresas associadas à ABPA estava marcada para a quarta-feira (25) para discutir possíveis alternativas logísticas se a guerra no Oriente Médio persistir.
Também antes da notícia do possível cessar-fogo, analistas da consultoria StoneX informaram, em relatório, que a produção de ureia no Irã e no Egito, dois importantes polos de fabricação no Oriente Médio, sofreu uma paralisação. No caso egípcio, a interrupção se deve à falta de gás natural, resultado da redução no fornecimento do combustível por Israel.
Já no Irã, as fábricas de ureia e amônia foram paralisadas devido aos riscos associados à guerra, agravando ainda mais a escassez de oferta. “A interrupção na produção desses países é motivo de preocupação para os compradores internacionais”, disse o analista de Inteligência de Mercado da StoneX, Tomás Pernías.
O cenário de incertezas já eleva os custos de frete e de seguros marítimos, especialmente nas rotas que passam pela região do conflito, segundo a consultoria.
“Como consequência, os preços FOB e CFR da ureia subiram em diversos mercados, movimento intensificado pela postura cautelosa de alguns vendedores, que retiraram suas ofertas à espera de maior clareza sobre a evolução da demanda e do cenário político”, disse Pernías.
A StoneX indicou que a expectativa é de alta para os fertilizantes nos próximos meses, sugerindo que produtores rurais comprem o que puderem a partir das experiências anteriores, cuidando com os estoques.
Segundo Pernías, o momento é “especialmente sensível” para os compradores brasileiros de fertilizantes, sobretudo os produtores rurais, porque as importações de nitrogenados tendem a se intensificar no segundo semestre, período que antecede o plantio das safras de verão.