O segundo dia do Avisulat – Congresso e Central de Negócios Brasil Sul de Avicultura, Suinocultura e Laticínios deu continuidade a sua grade de palestras técnicas, na terça-feira 28. O evento, que vai até hoje, 30, está sendo realizado no Centro de Eventos Fiergs, em Porto Alegre (RS).
A programação técnica de suinocultura destacou o sistema de alojamento de matrizes suínas. A abertura da programação contou com o painel “Pontos de atenção para implementar os sistemas de alojamento de matrizes suínas em baias coletivas visando o bem-estar animal na suinocultura brasileira.
Charli Ludtke, médica-veterinária e diretora técnica da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos – ABCS, salientou em sua plenária que os animais precisam ter uma vida digna e uma morte sem dor, para tanto é preciso procurar o equilíbrio para produzir produtos seguros, com qualidade ética e a manutenção dos mercados.
Para promover esses cuidados é preciso garantir políticas públicas integradas contemplando saúde e bem-estar animal, biossegurança, produção de alimentos seguros, meio ambiente, saúde humana, diagnósticos, vacinação, inocuidade dos alimentos e sanidade vegetal.
Charli explica que quando falamos em bem-estar é fundamental buscar reduzir fatores estressantes na criação de matrizes, uma vez que o estresse impacta diretamente na qualidade de vida do animal, gerando a liberação de adrenalina que pode proporcionar a quebra da homeostase. “há 22 anos falamos de bem-estar no Brasil, temos que implementar auditorias de rotina nas granjas com enfoque nos animais, quais os pontos fortes e fracos. Pois quando começamos a gerar números conseguimos estruturar um plano de ação e medidas corretivas”.
No bem-estar é preciso avaliar: nutrição; ambiente; saúde; comportamento e estado mental. Todos esses conceitos podem ser avaliados em auditorias para garantir o bem-estar animal da suinocultura.
Na produção, o sistema de criação individual proporciona melhor controle da alimentação, fácil supervisão e evita brigas, em contrapartida, esse sistema traz alta incidência de estereotipias, como conduta apática, resultados negativos de interações sociais, lesões podais, infecções urinárias como consequência do baixo consumo de água e movimento reduzido.
Já na baia coletiva é observado melhor interação entre os animais, redução do estresse, redução de problemas sanitários e diminuição de estereotipias. Da mesma forma, o sistema coletivo traz desafios estruturais com relação ao piso, eventual aumento de problemas locomotores, aumento de brigas e desafios relacionados à competição por alimentação.
“Nossas matrizes melhoram muito geneticamente, mas houve uma melhora nas instalações? É muito importante discutir as problemáticas técnicas e buscar formas de melhorar a situação das granjas. Gaiolas pequenas resultam em maus tratos animais, precisamos adequar e dar as melhores condições de vida ao animal”, alerta a médica-veterinária.
De acordo com McCLONE, 2004, quase 56% dos animais em gaiolas desenvolvem comportamentos anormais, as chamadas estereotipias. As estereotipias se definem como um comportamento repetitivo causado pela frustração, tentativas repetitivas de adaptação ou disfunção do sistema nervoso central, ocasionando, entre os comportamentos, mastigação com a boca vazia, mastigação de pedras, girar a língua, morder as barras de ferro, lamber o solo e consumo excessivo de águas.
Principais falhas nos sistemas em grupo
- Falta de supervisão e atenção individual das matrizes que não estão consumindo ração suficiente;
- Falta de inspeção diária e tomada de ações corretivas com os animais que apresentam problemas;
- Falha na detecção do retorno do cio, culminando na detecção tardia de fêmeas vazias;
- Grupos de gestação desuniformes em tamanho, ordem de parto e condição corporal;
- Falta de manutenção dos equipamentos eletrônicos;
- Falta ou má qualidade do treinamento dos colaboradores no que diz respeito aos equipamentos eletrônicos;
- Densidade inadequada das baias de alojamento (superpopulação);
- Número insuficiente de baias de enfermaria para alojar as matrizes com problemas;
- Desenhos inadequados das baias (ângulos quadrados, bebedouros e comedouros mal posicionados, que dificultam a formação de hierarquia e definição das zonas de alimentação, defecação e descanso);
- Pisos de má qualidade ou com necessidade de manutenção.
Atualizações em sanidade avícola
O tema nutrição, saúde intestinal e imunidade de frangos de corte foi levantado pela professora da Universidade Federal de Santa Catarina, Priscila de Oliveira Moraes, que trouxe uma compreensão da complexa relação entre a nutrição, a imunidade e a microbiota, que impactam diretamente na saúde intestinal e influência o desempenho.
Segundo a especialista, para que o animal consiga ser resiliente aos fatores estressores ele precisa ter uma microbiota fortalecida para formar uma barreira protetora e melhorar o desempenho animal.
“Era comum pensarmos que toda a doença começa no intestino, porém, com a evolução dos estudos e técnicas de manejo percebemos, na verdade, que toda saúde começa no intestino; quando enxergamos materiais anormais nas excretas percebemos que algo está anormal na relação nutrição e saúde animal”, explica Priscila.
Ou seja, há uma relação direta entre o desempenho animal e um intestino saudável. No entanto, não há uma definição clara que inclua todas as funções fisiológicas do intestino, que vão da digestão e absorção de nutrientes, esse ambiente precisa ser capaz de oferecer ao animal a capacidade de suportar estressores infecciosos e não infecciosos.
“Quando há uma alteração entre o equilíbrio entre nutrição, saúde intestinal e imunidade temos um problema de saúde intestinal. No momento em que se tem um distúrbio no ambiente o sistema se torna responsivo e começamos a aumentar as citosinas pró-inflamatórias que irão aumentar o sistema imune do animal”, detalha.
Ferramentas nutricionais que podem ser usadas para melhorar a saúde intestinal dos animais, como os prebióticos, probióticos e os fitogênicos, atuam modulando o perfil de bactérias, expressão gênica de interleucinas e proteínas da junção firme. Isso faz com que haja uma menor expressão genica dessas interleucinas pró-inflamatórias.
Porém, os mecanismos de ação não estão totalmente elucidados, resultados contraditórios foram relatados em alguns casos, por ainda não existir modelos de desafios, idade da ave no desafio, local e forma de coleta, bem como grau de infecção.
“A disbiose não é um termo totalmente compreendido e ainda é, provavelmente, o maior desafio da avicultura. Hoje temos alta demanda por biomarcadores precoces, simples e confiáveis de saúde intestinal em aves. É preciso tratar de forma precoce, sabendo que a saúde intestinal está intimamente ligada com o equilíbrio destes três fatores: microbiota, sistema imune e nutrição. Afinal, aves saudáveis têm um perfil microbiano totalmente diferente, não apenas uma espécie ou gênero”, afirma.
Para a especialista é fundamental continuar a busca por biomarcadores que permitam nortear o setor avícola de forma prática. “A biotecnologia aplicada para a compreensão / aplicação destes conceitos no campo vem crescendo e precisamos associar ferramentas nutricionais com diagnóstico eficaz”, finaliza.
Tributação em pauta
Um dos destaques dessa edição foi a realização do 2º Encontro Jurídico/ Tributário 1º AGROJUR. Moderado por Silvio Borba, consultor da ASGAV/RS, o painel “PIS e COFINS e a tributação das carnes temperadas” debateu a importância da atenção com as alíquotas para manter a competitividade das empresas.
Fernando Mombelli, coordenador geral de tributação da Receita Federal abriu os debates e fortaleceu a importância de uma reforma tributária urgente, que facilite a comercialização de produtos e derrube as barreiras impostas pela dificuldade da atual tributação.
Para Fernando Zupirolli, da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a legislação atual é confusa, principalmente quando abrange a inclusão de produtos de grande variabilidade (desde produtos de origem animal até produtos de cozimento). “É preciso existir uma diferenciação na tributação para dirimir erros e trazer mais segurança jurídica para as indústrias do setor, que hoje precisam se valer desse entendimento para poder tributar corretamente os seus produtos”.
O advogado e especialista em tributação Rafael Nichele explica que a legislação vigente é muito antiga e por isso causa grandes entraves ao setor. “Já se passarem 10 anos desde a implantação da legislação atual, temos, de uma certa forma, que encarar autuações por causa disso”. O fato é que em estados nos quais há substituição tributária pode gerar um impacto na tributação das agroindústrias no que se refere ao ICMS, sendo muito maior do que o impacto das autuações estaduais, uma vez que os estados classificam as carnes temperadas como alíquota zero no PIS e COFINS”.
O Avisulat 2022 encerra hoje a programação com realização de seminários técnicos e palestra magna
Avicultura:
30/11/2022 – das 08h30min às 14h30min – 3º Encontro de Qualidade Industrial ASGAV – Avicultura (Frigoríficos);
30/11/2022 – das 08h30min às 14h45min – 7º Seminário ASGAV/SIPARGS SST Segurança, Saúde e Medicina do Trabalho;
30/11/2022 – das 09h às 12h15min – 1º Seminário da Área Comercial das Indústrias Avícolas (Frigoríficos/Cooperativas).
Suinocultura:
30/11/2022 – das 09h às 12h15min – Workshop Suinocultura
Laticínios:
30/11/2022: das 10h às 11h30min – Panorama ano 2022 e perspectivas 2023
Palestras Magnas
30/11/2022 (TARDE) – Painel: “Família Integrada – a produção de alimentos e os desafios na atualidade”.
Fotos: Divulgação Avisulat