Primeira mesa-redonda do evento tratou de Política Internacional e Filantropia
Na manhã desta segunda, a mesa-redonda “Política Internacional e Filantropia” abriu os debates do 6º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio – CNMA. A Ministra Conselheira da Embaixada do Reino Unido no Brasil, Melanie Hopkins, falou da agenda programada para a COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), que começa no próximo domingo na Escócia, e o papel do Brasil nos debates.
Entre as metas estabelecidas pelo país anfitrião e que serão debatidas entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro destacam-se adaptação, mitigação, financiamento e colaboração. “Quando falamos de adaptação e mitigação, a agenda do uso de tecnologias de produção sustentáveis na revisão do plano de agricultura de baixo carbono são sinalizações muito importantes dos compromissos que o Brasil está fazendo. Esses compromissos dão amparo e contribuem diretamente para o alcance das metas nacionais de redução de emissão de gases poluentes”, detalha Melanie.
Sobre a meta financeira, ela acrescenta que é uma das mais importantes, porque diz respeito à possibilidade de implementação dos planos de desenvolvimento sustentável. “A presidência do Reino Unido na COP26 está comprometida em atuar para colocar 100 bilhões de dólares de financiamento na mesa para apoiar a transição verde nos territórios, além de estarmos engajados em conectar os investidores do setor privado aos programas para o desenvolvimento econômico verde”, assinala.
Para a meta de “colaboração”, Melanie vê que há oportunidades reais de ganhos para o Brasil e seus agricultores. Segundo ela, isso é possível por meio da assistência técnica direcionada, a troca transoceânica de tecnologias, experiências, pesquisas e inovação e, principalmente, por meio do acesso ao mercado regulado de carbono. “Queremos e precisamos da agropecuária conectada e engajada com os debates e negociações que ocorrerão nas próximas semanas na COP26”.
Para o embaixador da Índia no Brasil, Suresh Reddy, o País é um dos maiores exportadores do mundo de produtos agrícolas e cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo precisam desses produtos. “As mudanças climáticas vão afetar a agricultura, como as secas já afetaram. Precisamos fazer alguma coisa em conjunto e estou muito ansioso para poder trabalhar com o Brasil e com os nossos outros parceiros”.
O compromisso do Brasil em alimentar o mundo
Citando a produção nacional direcionada para o mercado externo, o presidente do Conselho da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Marcello Brito lembrou que as exportações do Brasil para a China, até o primeiro semestre de 2021, foram de 5 bilhões de dólares, valor superior à somatória do que é comercializado para todos os outros países do mundo.
“Isso mostra como temos uma dependência intrínseca da China. Inclusive, até 2030, 60% do consumo da classe média mundial estará na Ásia. Mas precisamos salientar que, apesar disso, as tendências de mercado e a base de todo o financiamento ainda saem dos EUA e da Europa. Isso significa que vivemos num mundo globalizado, no qual em algum momento os braços se encontram em um ponto da cadeia produtiva”.
Por isso, querer taxar cada um de forma diferente, esquecendo que não existem países amigos, mas países de interesse e são os interesses que alimentam socialmente a população, é no mínimo irresponsável, afirma. Brito ainda destaca que a China é um parceiro comercial de altíssima qualidade, como qualquer outro país. “Portanto, não pode haver diferença: é preciso ter profissionalismo no tratamento dos interesses brasileiros, principalmente com alguém do tamanho da China”.
Para a presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Teka Vendramini, é importante ressaltar que o agronegócio do Brasil ainda é formado por 80% de pequenos produtores e que há muito a ser feito para que o nível de tecnificação desse percentual chegue ao mesmo patamar daqueles 20% que participam das exportações.
Para ela, a pandemia foi uma crise transformadora e, após o baque inicial, o agronegócio brasileiro produziu muito e mostrou que tem protocolos firmes que permitiram ao Brasil exportar para o mundo inteiro. “Mas o momento atual está sendo de grandes desafios para o produtor rural, que está produzindo com 30, 40% de aumento de custo e não sabe como vai receber isso lá na frente. Além disso, e citando a colocação do Marcello [Brito], temos essa dependência da China e estamos tendo problemas com a chegada de fertilizantes e outros insumos”.
Mesmo assim, Teka cita que o agronegócio brasileiro “subiu de prateleira” porque a exigência é tão grande em cima dos produtores, que eles precisam fazer uma gestão muito eficiente e sustentável, mostrando para o mundo o trabalho que vem realizando dentro da sua propriedade. “Vamos chegar na COP26 mostrando que estamos produzindo cada vez mais preocupados com a sustentabilidade, nos preparando para atender todas as iniciativas que englobam o ESG e que estamos com vontade. Sem a vontade política e a vontade individual, é muito difícil que tudo isso caminhe”, acredita.
União entre economia e biodiversidade
A mesa-redonda Bioeconomia analisou os principais pontos de como o mercado financeiro pode se integrar e interagir com as práticas e ações pautadas em sustentabilidade que são cada vez mais exigidas pela sociedade.
Para o diretor de Sustentabilidade Corporativa do Bradesco, Marcelo Pasquini, a bioeconomia representa uma grande oportunidade para o Brasil. “Devemos fomentar mais a conversa e as ações sobre bioeconomia no país, pois esse é um nicho que ainda tem bastante espaço para crescer”.
Já o CEO do Banco XP, José Berenguer, aponta que a bioeconomia é uma importante ferramenta de competitividade para o setor agrícola brasileiro. “Toda essa discussão sobre agricultura, mercado de capitais e economia merece atenção. Enxergamos que a bioeconomia é um potencial para a economia do Brasil e contribui para elevar ainda mais a eficiência agrícola, que evolui a cada ano”.
O Brasil é um dos maiores players no mundo quando o assunto é biodiversidade. Em função disso, o presidente executivo do Conglomerado Financeiro Alfa, Fabio Amorosino, avalia que o debate sobre bioeconomia deve envolver todos os setores produtivos no país. “É fundamental que tenhamos, cada vez mais, uma discussão de qualidade entre os diversos setores e cadeias produtivas do Brasil como um todo, de forma a incentivar o desenvolvimento sustentável do agronegócio”.
A Chief Commercial Officer do CME Group, Julie Winkler, lembra dos riscos financeiros associados a negócios sustentáveis. “Essa é uma das razões pelas quais é importante conscientizar os produtores acerca da necessidade de se adaptar às boas práticas. Dessa forma, é possível canalizar os recursos para que seja efetivada uma gestão das mudanças nesse tipo de negócio”.
Esse deve ser o papel geral das instituições financeiras nesse processo, de acordo com o Diretor de Agronegócio do Itaú BBA, Pedro Fernandes. “Quando falamos da evolução da bioeconomia, precisamos aliar um conjunto de ações que nos levem à direção correta para a conscientização dos clientes. O agro funciona como um vetor de contribuição para as mudanças no planeta”.
O Presidente da Cooperativa Sicredi Vale do Piquiri Abcd PR/SP, Jaime Basso, salienta a visão sobre a adequação do mercado às exigências de sustentabilidade, reforçando a importância das mulheres para a evolução da bioeconomia. “Precisamos do olhar diversificado das mulheres nesse processo para que possamos fazer a diferença com sistemas de produção sustentáveis no país”, finaliza.
O primeiro dia do CNMA teve também o pré-lançamento para o agro do documentário “Quando Ouvi a Voz da Terra”. Na ocasião, a pecuarista referência em bem-estar animal, Carmen Perez, dividiu o palco com os parceiros do projeto, o cineasta Nando Dias Gomes e a jornalista Flávia Tonin, que contaram sobre o nascimento do projeto até a sua finalização e dividiram suas experiências durante as gravações. Hoje, a partir das 20h, o documentário estará disponível no canal do Youtube
https://www.youtube.com/watch?v=dvbzQvISiTE