Efeito deve chegar ao consumidor
A queda já aparece nos índices de inflação no atacado. O Índice Geral de Preços da Fundação Getulio Vargas (IGP) mostra queda de 4,11% no preço no boi vivo na primeira prévia de outubro, com dados coletados até último dia 10.
O recuo na carne bovina influencia outras proteínas no atacado. Segundo dados do Cepea/USP, o quilo do frango congelado caiu 3% em 30 dias em São Paulo. A retração da carne suína foi de 3,6% na última semana.
Analistas afirmam que essas quedas devem chegar ao consumidor final se o embargo se mantiver por mais tempo. A previsão inicial do governo brasileiro e dos produtores de carne era de uma suspensão das exportações por 15 dias, mas a China está demorando a rever sua decisão.
O embargo ocorreu após o governo brasileiro notificar dois casos atípicos do mal da vaca louca, doença que atinge os bovinos. É praxe esse tipo de notificação e, como se tratavam de casos atípicos (ou seja, que ocorre em um animal de forma isolada, causada pelo envelhecimento, e não por consumo de ração inadequada), a previsão era de que a suspensão das compras chinesas, o que também é rotina neste tipo de situação, demorasse pouco tempo.
— Por enquanto, o embargo aumentaria a oferta doméstica e favoreceria a queda de preços aqui no Brasil. Acho que chega sim ao consumidor, mas é mais lento. Se ao produtor a gente já vê bovino vivo com queda de 4%, é um sinal que esse efeito vai caminhar ao longo da cadeia produtiva, e isso vai chegar sim ao consumidor. Vai demorar um pouco mas chega — explica o economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre).
O preço no varejo ainda não caiu, mas as altas estão perdendo fôlego. Segundo os dados da FGV, as carnes bovinas subiram 0,25% no IPC-10, que mede os preços ao consumidor até o dia 10 de outubro. No levantamento anterior, de setembro, a alta fora de 0,36%.
Mas, mesmo que a queda do preço nas fazendas chegue até as gôndolas dos supermercados, o consumidor ainda vai sentir a carne cara. Os preços acumulam alta de nada menos do que 24% nos últimos 12 meses.
Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador de pecuária do Cepea, lembra que, além do aumento de custos para os produtores com a armazenagem da carne que seria exportada para a China, o embargo ocorre em um momento em que o próprio mercado interno está enfraquecido devido aos preços altos:
— Um mercado doméstico todo combalido, enfraquecido, por causa do desemprego, de renda e olhando uma carne de frango muito barata. Do outro lado, pensando na produção, temos o gado de confinamento saindo com um custo muito alto.
Segundo Fernando Iglesias, consultor do setor Carnes da Safras&Mercado, quanto mais tempo passa, pior se torna o cenário. Os frigoríficos estão com suas câmaras frias lotadas e manter este estoque parado representa um custo elevado.
— Caso essa carne que deveria ir para a China fosse disponibilizada integralmente no mercado doméstico, seriam mais de 100 mil toneladas. Os preços desabariam em toda a cadeia pecuária, movimento que tende a contaminar as proteínas concorrentes. Os preços para o consumidor final seriam mais acessíveis, entretanto haveria dano de longo prazo, considerando os prejuízos da indústria frigorífica e dos pecuaristas — ressalta o especialista.