Uma nova ação concentrada dos auditores fiscais federais agropecuários na fiscalização de madeira tem gerado atrasos na liberação de cargas de diversos produtos em portos, aeroportos e postos de fronteira pelo país.
Após recusar a proposta de reajuste salarial e reestruturação da carreira apresentada no início da semana pelo governo federal, a categoria iniciou uma operação coordenada para intensificar as ações de fiscalização e inspeção das embalagens e suportes de madeira de mercadorias importadas pelo Brasil.
No Porto de Santos (SP), são 6,1 mil contêineres retidos por conta da madeira, apurou a reportagem. No aeroporto de Goiânia (GO), 100% cargas com madeira foram retidas. Também foram impactadas operações nos postos de fronteira em Foz do Iguaçu (PR) e Dionísio Cerqueira (SC), bem como nos aeroportos de Guarulhos (SP) e Galeão (RJ).
No porto seco de Anápolis (GO), haviam 13 licenças de importação de produtos veterinários e de alimentação animal pendentes de liberação e outros 45 processos que contêm madeira no aguardo de inspeção física na carga de ontem.
A ação não afeta apenas produtos agropecuários. As mercadorias eletrônicas e da indústria automobilística, que chegam ao país embalados em madeira, também sofrem atrasos. A reportagem mostrou que a Renault enfrentou problemas com uma carga de peças. Agora, a General Motors pediu prioridade à liberação de cargas retidas em Santos.
“Estamos em eminente risco de parada de linha trazendo impactos na montagem de motores na planta de Joinville (SC), destinados à produção de veículos nas plantas de São Caetano do Sul (SP), Gravataí (RS) e Rosário (Argentina)”, diz um ofício encaminhado ao Ministério da Agricultura. Em outro documento, a montadora relata riscos de impactos na montagem do veículo Novo Spin, que está em fase de lançamento, “devido a tubos de combustível destinados a produção de veículos na planta de São Caetano do Sul” que aguardam liberação no porto paulista.
A intenção dos auditores é chamar a atenção do governo federal para as reivindicações da carreira a partir dos impactos gerados pelas operações, que não configuram greve ou paralisação. As ações concentradas obedecem aos prazos legais, defende o sindicato nacional da categoria (Anffa Sindical). “O objetivo final é chamar a atenção para que o governo abra negociações. Atualmente, para fazer uma fiscalização bem feita é preciso deixar de fazer outras”, disse uma fonte. Segundo ela, o problema mais grave é o déficit de 1,6 mil servidores para a realização das atividades atuais.
A orientação oficial do Comando Nacional de Mobilização (CNM) é para que os auditores dediquem o dia para a fiscalização e inspeção de embalagens e suportes de madeira. “Os servidores devem selecionar 100% das partidas para inspeção in loco ou aumentar ao máximo o percentual de seleção no dia (amostragem)”, diz documento dos auditores. Os técnicos agropecuários também participam da mobilização. “As demais atividades da área vegetal não serão consideradas prioritárias nesta data (exceto cargas perecíveis, de saúde humana e animal)”.
Todas as embalagens, pallets, madeira de peação (para amarração de cargas) devem ser fiscalizadas, além da amostragem usual. O canal verde de inspeção, pelo qual é feita apenas a análise documental das mercadorias, ficará suspenso até o fim da operação, prevista para ontem (7/3).