Um estudo inovador conduzido em parceria com as Universidades de Passo Fundo (Rio Grande do Sul) e Uppsala (Suécia) revelou que o ambiente de gestação das leitoas tem um impacto profundo no desenvolvimento do cérebro dos suínos, afetando seu comportamento e bem-estar.
O estudo, orientado pelo renomado professor Adroaldo Zanella, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ – USP), oferece insights valiosos sobre a criação de suínos em condições mais humanas e sustentáveis.
Comportamentos repetitivos
Um dos principais resultados dessa pesquisa revelou que a gestação em um ambiente desconfortável aumenta a ocorrência de comportamentos repetitivos, conhecidos como estereotipias, tanto nas leitoas quanto em seus filhotes. Esses comportamentos incluem ações como mastigar em falso, mesmo quando não há nada na boca.
No Brasil, a Instrução Normativa 113 do Ministério da Agricultura e Pecuária, estabelecida em dezembro de 2020, determinou que até 2045 o uso de celas de gestação será proibido. Esse sistema, amplamente adotado no país, confina os animais em gaiolas, o que não oferece as melhores condições de bem-estar. Todos os experimentos desta pesquisa foram conduzidos em baias coletivas, que representam uma melhoria significativa nas condições de criação.
O papel das mães
Na primeira etapa do estudo, 36 fêmeas suínas e seus leitões foram analisados quanto a expressões de estereotipias. Os resultados revelaram uma correlação notável: quanto mais comportamentos repetitivos as mães apresentavam, menos medo os leitões demonstravam. Isso sugere uma influência direta do estado emocional das mães no desenvolvimento emocional de seus filhotes.
Mudanças epigenéticas
Já na segunda fase, as fêmeas gestantes foram colocadas em dois ambientes diferentes, um deles enriquecido com feno para verificar seu impacto sobre as estereotipias. Além disso, foram analisadas alterações epigenéticas nos cérebros dos leitões, ou seja, mudanças na ativação de genes influenciadas pelo ambiente.
Três regiões cerebrais relacionadas às emoções foram afetadas: a amígdala, o córtex frontal e o hipocampo.
Essas mudanças epigenéticas demonstram como o ambiente de gestação pode influenciar profundamente o desenvolvimento emocional dos suínos.
Melhorar o bem-estar animal
Os resultados deste estudo destacam a importância do período pré-natal no desenvolvimento do sistema nervoso central dos suínos. Melhorar as condições de bem-estar durante a gestação não apenas beneficia as mães, mas também fornece ferramentas essenciais para os recém-nascidos lidarem com as demandas e desafios de seu ambiente. Essa pesquisa representa um passo importante em direção a práticas de criação mais sustentáveis e humanas.
Este estudo é apenas o começo, e futuras pesquisas serão conduzidas para entender com maior precisão os mecanismos envolvidos e suas implicações. Esta pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Informações por Jornal da USP