O governo lançará, nos próximos dias, uma linha de crédito em dólar do BNDES, no valor de US$ 2 bilhões, voltada para os produtores rurais que enfrentam quebra de safra, devido a problemas climáticos, e perda de rentabilidade, causada pela queda dos preços internacionais.
A medida atenderá, principalmente, aos exportadores de soja, que terão dois anos de carência e mais três anos para pagarem os empréstimos.
— Ainda estamos trabalhando na linha. Num primeiro momento, a ideia é colocar à disposição US$ 2 bilhões, mas se houver muita procura, podemos trabalhar para aumentar o valor — disse o secretário.
Ele ressaltou que o dinheiro poderá ser usado para pagar dívidas em dólar, como a importação de fertilizantes e defensivos agrícolas. Disse, ainda, que a linha de crédito será o menos burocrática possível, mas o produtor terá que comprovar que teve perda, ou então ter sua propriedade localizada em municípios onde foi decretada situação de emergência, por causa do clima.
A crise
Um dos maiores destaques do agronegócio brasileiro, a sojicultura passa por uma crise com perda de safra. O setor pede a suspensão dos pagamentos das dívidas de custeio com os bancos pelo menos até setembro deste ano e alega que os problemas são encontrados em vários estados do Brasil.
Para o presidente da Aprosoja Brasil, Antonio Galvan, a safra de soja deste ano deverá ficar em 135 milhões de toneladas. O volume terá 20 milhões de toneladas a menos do que a colheita anterior. Ele acredita que as exportações serão afetadas pela quebra na produção.
— O produtor, com quebra de safra e preço baixo, vai ficar super endividado — disse.
Galvan afirmou que o Brasil, maior exportador e produtor de soja em grão, deveria exportar 96 milhões de toneladas este ano e oferecer, ao mercado interno, 56 milhões de toneladas. E tem entre 4 milhões e 5 milhões de toneladas em estoque. A conta, portanto, não fecharia em 2024.
Por outro lado, a saca de 60 quilos de soja, que chegou a R$ 190 em 2021, hoje pode custar R$ 80, dependendo da região. Sem renda, destacou Galvan, o produtor não consegue investir na produção e na produtividade.
De acordo com os técnicos da Aprosoja Brasil, em 2023, quando estava no momento de plantar a soja, na maior parte do país a umidade era insuficiente, enquanto no sul do país chovia em demasia. Com receio de não prejudicar o plantio da segunda safra de milho, que vem logo em seguida, alguns semearam a soja com pouca umidade no solo, que acabou não vingando.
Produtores fizeram dois e até três replantios, tendo gastos extras com sementes, defensivos, combustíveis e mão de obra. Para alívio dos agricultores, as chuvas chegaram, mas em volume maior do que o esperado em algumas regiões.
A entidade estima uma quebra de safra de 21% em Mato Grosso. Em Tocantins, o governo estadual decretou situação de emergência em decorrência da estiagem. A Aprosoja projeta uma perda de 20% no estado.
Goiás também decretou emergência em 25 municípios. As projeções indicam uma quebra de 15% na produção em relação à estimativa inicial, que era de 17,5 milhões de toneladas. O chamado veranico também atingiu partes do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Já o Rio Grande do Sul, atingido por estiagens durante três safras seguidas, desta vez, teve uma safra melhor. Porém, o resultado a ser alcançado ainda é uma incógnita.
Ano atípico
Ana Laura Menegatti, da MB Agro, avalia que 2024 é um ano atípico. Para ela, a situação atual pode afetar exportações e o mercado interno, mas ainda é preciso esperar terminar a colheita da safra, que está no começo.
— Desde o fim de 2023, quando começou o plantio da safra, tivemos uma distribuição irregular das chuvas, que só se estabilizaram em dezembro — afirmou.